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Estado de Minas

Descompasso de dados sugere ampla subnotificação da COVID-19 em Minas

Forte salto de casos e mortes por síndrome respiratória desde março indica que alcance da pandemia em Minas vai muito além dos casos confirmados


20/08/2020 06:00 - atualizado 20/08/2020 07:40

Movimento em área de hospital da capital mineira para recebimento de pacientes com suspeita de COVID-19: evolução da epidemia coincide com alta de 1.473% nos casos de SRAG no estado(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 13/7/20)
Movimento em área de hospital da capital mineira para recebimento de pacientes com suspeita de COVID-19: evolução da epidemia coincide com alta de 1.473% nos casos de SRAG no estado (foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 13/7/20)


Larga diferença entre o total de casos e mortes de pacientes que apresentaram síndrome respiratória aguda grave (SRAG) neste ano em relação à média verificada em 2018 e 2019 pode indicar que a aparente situação de controle da COVID-19 em Minas Gerais é uma imagem distorcida pela subtestagem da doença provocada pelo novo coronavírus no estado. Segundo dados do sistema InfoGripe do Ministério da Saúde, a média dos últimos dois anos foi de 2.698 pacientes com SRAG de janeiro a 8 de agosto. Neste ano, em que ocorre pandemia do novo coronavírus (Sars-Cov-2), o número saltou para 42.452, um volume 1.473% superior à média de 2018 e 2019.

A discrepância também é enorme no total de mortes. Na média dos dois últimos anos, houve 396 óbitos de pacientes que tiveram a síndrome no período. Neste, 7.484. Um salto de 1.789%. A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) não relaciona a COVID-19 ao aumento de SRAG e afirma fazer exames suficientes, em 90% dos casos de pacientes internados, enquanto a Sociedade Mineira de Infectologia observa provável congruência de pacientes.

Ontem, a reportagem do Estado de Minas mostrou que o estado é o segundo em todo o Brasil com menor proporção de diagnósticos fechados sobre pacientes internados com síndrome respiratória aguda grave (SRAG) registrados no InfoGripe em 13 de agosto. E que Minas pode ter um volume de doentes graves da COVID-19 até 40% superior ao confirmado, considerando-se a projeção da proporção de resultados positivos para a doença entre pacientes que apresentaram a síndrome (80%) sobre os casos com testes sem resposta. Um dos quadros ligados ao coronavírus, a SRAG é provocada também por outros micro-organismos, como o vírus influenza.

Para verificar se a evolução da COVID-19 coincide com a disparada de casos de SRAG no estado, a reportagem compilou os dados das semanas epidemiológicas do ano e os dividiu em grupos de quatro semanas, com o objetivo de aproximá-los de resultados mensais. E constatou que as evoluções coincidem no tempo.

Em 16 de março, foi notificado o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus em Minas Gerais, data que se insere na 12ª semana epidemiológica, ou no terceiro conjunto do agrupamento feito pelo EM. Como os sintomas podem levar até 14 dias para se manifestar, essa contaminação pode ter ocorrido um pouco antes, mas dentro do mesmo agrupamento quadrissemanal. Para esse período, a média de SRAG de 2019 e 2018 é de 49,7 pacientes e a de 2020 já estava em 1.771 (+3.463%), antes mesmo de medidas de observação e cuidados estarem solidificados nas redes de saúde mineiras.

Dois dias depois, em 18 de março, as aulas foram suspensas em todo o estado. Dois dias depois, foi publicado decreto de calamidade pública, seguido de suspensão da maioria das atividades não essenciais. As contaminações por coronavírus desse período só se manifestariam de cinco a 14 dias depois, já no quarto agrupamento de semanas epidemiológicas. Nesse período, os pacientes mineiros com SRAG somavam 4.286, superando em 4.688% a média dos dois últimos anos, que era de 89 casos.

Vaivém

Considerando que Belo Horizonte tem números de mortos e doentes expressivamente maiores que os da maioria das cidades mineiras, é importante verificar os impactos das medidas tomadas na capital nos conjuntos de quatro semanas epidemiológicas. A primeira flexibilização do comércio e das atividades na capital mineira ocorreu em 25 de maio, dentro da 22ª semana epidemiológica, no sexto agrupamento de quatro semanas, dentro do qual também ocorreu a ampliação da abertura de estabelecimento (em 8 de junho). Àquela altura, o número de doentes com SRAG no estado chegou a 8.460, superando em 5.964% a média de 139 de igual período em 2019 e 2018. No agrupamento seguinte (sétimo), possíveis reflexos de contaminação do período anterior são revelados pelo maior número de notificações de SRAG, 13.713. Nos dois anos anteriores, a média do período foi 121, ou seja, houve uma alta de 11.205% em 2020.

A capital mineira voltou ao estágio de isolamento, com a permissão apenas de comércio e atividades essenciais em 26 de junho, dentro da 26ª semana epidemiológica. A nova flexibilização parcial semanal, com três dias de abertura e quatro de fechamento, ocorreu a partir de 6 de agosto, na 32ª semana epidemiológica e oitavo agrupamento. Também um período de alta, mas menos forte, com registro de 8.497 casos de SRAG, 9.436% a mais que os 89 dos dois anos anteriores.

Esse mesmo ritmo é notado nas mortes por SRAG dos períodos em comparação. Com os aumentos e reduções de óbitos seguindo exatamente os movimentos de abertura e fechamento de comércio e atividades. O maior número de mortes ocorreu no sétimo agrupamento de quatro semanas: 2.552 óbitos de pacientes com síndrome respiratória, um volume 12.596% superior aos 20, em média, de 2019 a 2018.

(foto: Arte EM)
(foto: Arte EM)


Controle de surtos

Surtos de COVID-19 em Instituições de Longa Permanência de Idosos (ILPI) têm sido monitorados de perto pelo governo de Minas, afirma o secretário de Estado da Saúde, Carlos Eduardo Amaral. Segundo ele, até o momento, foram contabilizados 87 surtos em asilos de 53 municípios mineiros. A orientação do governo é de aplicação de testes e separação dos que estão contaminados. Até ontem, o estado havia confirmado 4.436 mortes e 181.158 casos da doença. Em Belo Horizonte, são 855 óbitos e 29.690 casos. O índice de transmissão da doença subiu para 1,01, mas houve queda na ocupação de UTIs, para 63%, e de leitos de enfermaria, para 48,5%. No Brasil, o número de óbitos chegou a 111.100, e o de casos a 3.456.652 de acordo com o Ministério da Saúde. 

Saúde evita correlação sem teste

O aumento de pacientes com quadros de SRAG em ritmo semelhante ao do surgimento de casos de COVID-19 já pode ser tido como fator de alerta para gestores da saúde pública, observa o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Estevão Urbano Silva. “(Síndrome respiratória e COVID-19) Andam juntas, o problema é que estamos diagnosticando pouco. Temos muito mais casos em Minas Gerais, e o estado está muito pior no diagnóstico”, diz o médico. Contudo, Estevão Urbano afirma que não se pode fazer sempre uma relação direta do quadro somente com a doença provocada pelo novo coronavírus. “É necessário acompanhamento e avaliação, afinal, esse aumento também é natural no inverno. Por isso a importância de se comparar com o histórico”, frisa.

A SES-MG é cautelosa sobre a correlação de aumento de SRAG com a circulação do coronavírus. “A classificação por associação ao SARS-CoV-2 só pode ser atribuída por meio de evidência laboratorial ou clínico-epidemiológica, por exemplo, um caso que esteja diretamente vinculado a outro laboratorialmente confirmado. Aliás, deve-se ressaltar que o exame por si só, sem interpretação do profissional médico e com apontamento das situações clínicas não é capaz de resultar em classificação instantânea do caso, se confirmado ou descartado”.

A secretaria assinala, ainda, que vários outros agentes podem causar SRAG. “Importante destacar, ainda, que diversas doenças respiratórias podem evoluir para quadro de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), desde uma asma, bronquite, passando por uma pneumonia, tuberculose, intoxicação exógena, edema agudo de pulmão, câncer, além das gripes e do próprio coronavírus.”

Com a dificuldade de diagnósticos, mesmo a orientação do Ministério da Saúde para que amostras sejam coletadas e testes realizados em todos os casos de SRAG hospitalizados e óbitos suspeitos acaba tendo efeito limitado. Dos 23.515 exames em pacientes mineiros com esse quadro, 6.718 (28,6%) ainda esperam pelo diagnóstico da COVID-19. O estado só está à frente na conclusão de testes concluídos do Mato Grosso, que tem 5.489, dos quais 1.909 (34,8%) ainda estão indefinidos.

Minas é o oitavo em resultados indefinidos para óbitos com SRAG, atrás de Alagoas, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Piauí e Maranhão. Dos 4.186 pacientes que perderam a vida desde o início do ano com a SRAG, 268 (6,4%) seguem sem resultados conhecidos. Ao todo, os óbitos com COVID-19 confirmada são oficialmente de 3.698 (94%), sendo que com essa proporção projetada sobre os testes não definidos o estado chegaria a 3.950, uma ampliação de 252 (6,8%) dos mortos pelo novo coronavírus, com base no boletim do InfoGripe de 13 de agosto.

Em maio, a reportagem do Estado de Minas alertou que o volume de diagnósticos para COVID-19 pendentes em pacientes e óbitos de Minas Gerais era proporcionalmente um dos piores do Brasil, sendo o nono em defasagem de diagnósticos de quadros de SRAG e o oitavo pior em termos de mortes. Pelos dados disponíveis, Minas Gerais tem a menor incidência de COVID-19 do Brasil, com taxa de 795,6 casos positivos por grupo de 100 mil habitantes e a unidade da Federação onde menos pessoas morreram proporcionalmente, com taxa de óbitos de 18,6 por 100 mil habitantes.  

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.

Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

  • Febre
  • Tosse
  • Falta de ar e dificuldade para respirar
  • Problemas gástricos
  • Diarreia

Em casos graves, as vítimas apresentam:

  • Pneumonia
  • Síndrome respiratória aguda severa
  • Insuficiência renal
Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.

Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência

Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:

 



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