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Estado de Minas

Fé que preserva: igreja que escapou de tragédia ganha proteção do patrimônio

Capela das Mercês, que sobreviveu ao desastre da Samarco em Mariana, ganha tombamento definitivo pelo estado. Comunidade de Bento Rodrigues comemora


21/08/2020 06:00 - atualizado 21/08/2020 08:39

(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 27/1/16)
(foto: Túlio Santos/EM/D.A Press - 27/1/16)

"Situada em cota elevada no povoado de Bento Rodrigues, atingido pelo rompimento da Barragem de Fundão em 2015, a Capela das Mercês foi uma das poucas edificações não afetadas pelo desastre. A implantação apresenta notável harmonia com a morfologia da paisagem e a capela pode ser interpretada como símbolo de resistência e da capacidade de resiliência da comunidade"

Trecho de estudo do Iepha sobre o templo histórico



Marco de uma comunidade que ainda luta pelos seus direitos e sofre há quase cinco anos as consequências da maior tragédia socioambiental  do país, um monumento de fé ganha proteção permanente. Localizada em ponto elevado e não afetada pelo rompimento da Barragem do Fundão, em 5 de novembro de 2015, a Capela Nossa Senhora das Mercês (século 18), no subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na Região Central de Minas, foi tombada em caráter definitivo pelo Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep). “É uma decisão que transcende o ato, pois representa não só o reconhecimento de um patrimônio importante como o respeito pelas pessoas que viveram ali e por tudo o que aconteceu a elas”, afirma o secretário de Estado de Cultura e Turismo, também presidente do Conep, arquiteto Leônidas Oliveira.

Oliveira destacou que o tombamento inclui a mata no entorno do templo, garantindo proteção para o bem e impedindo futuras ocupações. “Felizmente, a capela fica numa colina e não foi alvo da destruição”, destaca o secretário, que comandou a pauta do Conep, pela primeira vez realizada no sistema virtual. Para o tombamento – desde outubro de 2018 a proteção vigorava em caráter provisório, embora com garantias de preservação –, a edificação foi obejto de um dossiê detalhado, a cargo do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).  
 
A medida significa uma vitória para os antigos moradores de Bento Rodrigues, que podem celebrar um avanço na preservação da memória do povoado mais atingido pela tragédia da Samarco. A capela ficou a salvo da lama despejada pelo colapso da barragem da mineradora na catástrofe que deixou 19 mortos e causou destruição ao longo de toda a Bacia do Rio Doce. Na ocasião, foi totalmente destruído o templo dedicado ao padroeiro da comunidade, São Bento.

Na expectativa de se mudar com a família em fevereiro de 2021 para o reassentamento em construção para a comunidade, apelidado de Novo Bento, o líder comunitário José do Nascimento de Jesus, mais conhecido como Zezinho do Bento, exalta o tombamento: “Nota dez, nota mil”. Para ele, é a única forma de “ninguém mexer na capela, de conservar, e, se houver alguma intervenção, de ser sempre para melhorar, nunca para piorar o que já está ruim”.

O secretário de Cultura, Patrimônio Histórico e Turismo de Mariana, Efraim Leopoldo Rocha, explicou que a área do núcleo histórico atingido pela lama aguarda desde 2016 a definição de tombamento, e ressalta que a decisão do Conep “fortalece a esperança da comunidade de Bento Rodrigues”. Fechada à visitação, a capela, acrescenta o secretário, tem vigilância e se encontra bem preservada.

"A arquitetura segue um tipo tradicional de capelas das Minas setecentistas e oitocentistas, em composição singela com três volumes descendentes da nave, capela-mor e sacristia, fachada com porta central encimada por duas janelas e óculo, estrutura de madeira sobre baldrames de pedra, vedações de adobes, coberturas em telhas cerâmicas. (...) Internamente, os elementos de talha são de boa qualidade e possuem linguagem comum e harmoniosa entre si"

Trecho de estudo do Iepha sobre o templo histórico




História 



(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS - 2/11/16 )
(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS - 2/11/16 )
De acordo com pesquisa do Iepha, a Capela Nossa Senhora das Mercês não tem datação precisa, mas a construção é estimada entre 1750 e 1815. Provavelmente, em seguida à criação da Irmandade das Mercês, no povoado, no âmbito da então ermida principal do local, a antiga Capela de São Bento. 
 
Relata a pesquisa: “A arquitetura segue um tipo tradicional de capelas das Minas setecentistas e oitocentistas, em composição singela com três volumes descendentes da nave, capela-mor e sacristia, fachada com porta central encimada por duas janelas e óculo, estrutura de madeira sobre baldrames de pedra, vedações de adobes, coberturas em telhas cerâmicas”. Na avaliação feita pelo instituto, “internamente, os elementos de talha são de boa qualidade e possuem linguagem comum e harmoniosa entre si. Há um cemitério anexo, elemento fortemente ligado às associações religiosas mercedárias.”

O tombamento da Capela Nossa Senhora das Mercês foi inscrito no Livro do Tombo II – de Belas Artes, e no Livro do Tombo III – Histórico, das Obras de Arte Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos.


Parque das águas ganha proteção



Entrada da unidade em São Lourenço, no Sul de Minas: balneário integra Circuito das Águas(foto: Sergio Amzalak/Esp.EM - 28/2/14)
Entrada da unidade em São Lourenço, no Sul de Minas: balneário integra Circuito das Águas (foto: Sergio Amzalak/Esp.EM - 28/2/14)
A reunião do Conselho Estadual do Patrimônio Cultural (Conep) que tombou a Capela Nossa Senhora das Mercês também contemplou, em caráter definitivo, o Parque das Águas de São Lourenço, em São Lourenço, no Sul de Minas. Composto pelo balneário, portaria, pavilhão central, estruturas das fontes de águas minerais, lago e paisagismo, o parque teve sua inscrição no Livro do Tombo III – Histórico, das Obras de Arte Históricas e dos Documentos Paleográficos ou Bibliográficos.

Para valorizar, é preciso conhecer a história, o que demandou pesquisa feita pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha). “As primeiras notícias de nascentes de água mineral no local que viria a ser a cidade de São Lourenço datam de 1826. Já a constituição da empresa Companhia de Águas Minerais São Lourenço é de 1890, tendo sido a primeira fonte (Fonte Oriente) captada em 1892, mesmo ano da construção da ermida Bom Jesus do Monte, edificação mais antiga do complexo. O parque balneário faz parte do Circuito das Águas de Minas Gerais, conjunto que observou grande potencial de exploração de suas fontes de águas minerais – lazer e saúde – a partir das descobertas, no início do século 20.”
  
Segundo os pesquisadores, “o estabelecimento de estâncias hidrominerais proporcionou a inserção de cidades como São Lourenço em um contexto nacional e internacional de turismo balneário no período chamado Belle Époque do turismo nacional, entre 1930 a 1945”. O Parque das Águas de São Lourenço, prossegue o estudo, configura uma das evidências de período relevante da história do Sul de estado. As edificações do balneário, das fontes Vichy, Andrade Figueira e Alcalina, “expressam a inserção do parque no movimento art déco e nas obras do arquiteto francês Henri Sajous, profissional que se destacou no Brasil por seus projetos e pela atuação internacional em balneários termais”.

 

CONEP


É um órgão colegiado, deliberativo, subordinado à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult). É competência do Conep, entre outras responsabilidades, decidir sobre diretrizes, políticas e outras medidas relacionadas à proteção do patrimônio cultural de Minas. O órgão tem como presidente o secretário de estado de Cultura e Turismo.


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