Belo Horizonte vai receber um estudo pioneiro sobre método de controle da dengue implementado em 12 países. A cidade é a primeira das Américas a realizar o levantamento randomizado controlado (com grupos escolhidos aleatoriamente) para avaliar o impacto do Método Wolbachia na redução da incidência de casos de arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos, como a dengue, Zika, chikungunya e febre amarela. Conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o projeto Evita Dengue terá início nos próximos dias, já com autorização da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
O Método Wolbachia é uma iniciativa do World Mosquito Program (WMP), coordenado no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e que utiliza a bactéria wolbachia para o controle desses tipos de enfermidades. A wolbachia é um microorganismo intracelular encontrado em 60% dos insetos da natureza, mas que não estava presente no Aedes aegypti, e foi introduzida por pesquisadores do WMP.
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Com a devida autorização dos responsáveis e o necessário consentimento das crianças, será colhida uma pequena amostra de sangue, para avaliar se elas tiveram contato com o vírus da dengue, Zika ou chikungunya, tudo de maneira sigilosa, sem identificar os alunos.
Um estudo semelhante ao que será realizado em Belo Horizonte foi conduzido pelo World Mosquito Program, em parceria com a Tahija Foundation e Universidade Gadjah Mada, na Indonésia. Nesta quarta-feira, a organização internacional divulgou os primeiros resultados, que apontam redução de 77% na incidência de casos de dengue, virologicamente confirmados, nas áreas onde houve liberação de Aedes aegypti com wolbachia, em Yogyakarta, na Indonésia.
No Brasil, o método é conduzido pela Fiocruz, em parceria com o Ministério da Saúde, com apoio de governos locais. As ações começaram no Rio de Janeiro e em Niterói, em uma área que abrange 1,3 milhões de habitantes. Em Niterói, dados preliminares indicam redução de 75% dos casos de chikungunya nas áreas que receberam os Aedes aegypti com wolbachia, quando comparado com as localidades que não receberam.
Além de Belo Horizonte, agora o projeto é ampliado para Campo Grande e Petrolina. Antes de começar em BH, será realizado um experimento piloto. A expectativa é que a liberação dos mosquitos com wolbachia seja iniciada ainda neste ano.
Professor do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), o médico Mauro Teixeira é quem coordena a pesquisa, uma colaboração científica entre a UFMG e a Universidade de Emory, a Universidade Yale e a Universidade da Flórida.