Enfermeira, modelo e rainha do carnaval de Belo Horizonte, Laís Aparecida da Silva, de 25 anos, relatou à Polícia Civil, nessa terça-feira (1°), o episódio que classifica como o mais agressivo de sua vida. Ela sofreu injúrias raciais após negar uma proposta de encontro com um homem que a abordou via WhatsApp.
Nas mensagens, enviadas à jovem no fim de agosto, o agressor não economizou insultos. “Você é uma macaca, arrogante, idiota. Olha pra você, no máximo, o que você serve é para poder saciar o fetiche de alguém”, diz um dos áudios que ela recebeu. No boletim de ocorrência, registrado na 4ª Delegacia de Polícia Civil, Laís lista ao menos mais cinco mensagens semelhantes, recheadas de termos de baixo calão.
"Eu me senti muito humilhada, agredida. Chorei muito. E me doeu também ele ter falado que estou solteira até hoje por conta disso, pelo fato de os homens me verem apenas como objeto ou para satisfazer um fetiche", desabafa.
No Instagram, onde a modelo reúne cerca de dez mil seguidores, diversas de mensagens apoio e carinho tentam confortá-la. "Isso renova as nossas energias, a força para continuar essa luta. Muito bom saber que tem tanta gente que torce para que isso (o racismo), de fato, acabe".
Laís espera que a denúncia feita às autoridades inspire outras mulheres negras. "Essas pessoas não podem se sentir à vontade para nos agredir. Eu não sou fetiche e não existo para servir ninguém. Estamos em 2020 e eu sou livre", afirma.
A moça relata que já foi vítima de racismo em outras ocasiões. As agressões, porém, vieram camufladas de "elogio". "Num outro relacionamento que eu tive, a pessoa chegou a me falar que, no tempo da escravidão, eu seria mucama dele. Nunca mais eu ouço esse tipo de coisa calada", avisa.
Insistente
O autor dos recentes ataques racistas ainda não foi identificado. Segundo a enfermeira, o criminoso é insistente. Após os primeiros insultos, foi prontamente bloqueado no WhatsApp, mas passou a fazer contato usando outro número e continuou com as agressões.
O crime de injúria racial está tipificado no Artigo 140 do Código Penal. A punição para o infrator vai de 1 ano a 6 meses de reclusão e multa. Além de prestar queixa à polícia, as vítimas de discriminação podem comunicar o fato por meio do Disque 100, canal que acolhe denúncias de violações de direitos humanos.