Mais de 350 mil máscaras em três meses. Essa foi a produção feita por recuperandos nos estados de Minas Gerais e Maranhão. São homens e mulheres que cumprem restrição de liberdade na Associação de Proteção e Assistência aos Condenados (Apac), uma entidade jurídica sem fins lucrativos que tem por objetivo auxiliar a Justiça na execução da pena.
Desde junho, a AVSI Brasil e a Fraternidade Brasileira de Apoio aos Condenados (FBAC) se uniram para uma campanha com 23 Apacs de Minas e do Maranhão para a produção do equipamento protetivo a serem doados para as comunidades do entorno de cada unidade.
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O lema da campanha é "ao mesmo tempo em que humanizamos as penas, ajudamos a proteger e promover vidas". O legado é que as máquinas e a capacitação de mão de obra serão usados na fabricação de roupas de cama e outros artigos, em todas as unidades.
Estímulo aos recuperandos
A possibilidade de ajudar a quem precisa, mesmo passando por um momento de restrição da liberdade, renovou as esperanças e trouxe um novo sentido para a vida de alguns recuperandos.
Segundo a presidente da Apac de Manhuaçu (MG), Denise Rodrigues, eles têm a sensação de inclusão na luta contra a pandemia: “A possibilidade de confeccionar algo que contribui para salvar vidas os deixa muito motivados. Nestes dias tão sombrios que temos enfrentado, esse projeto foi um respiro, trouxe luz, ânimo e esperança”.
Segundo a presidente da Apac de Manhuaçu (MG), Denise Rodrigues, eles têm a sensação de inclusão na luta contra a pandemia: “A possibilidade de confeccionar algo que contribui para salvar vidas os deixa muito motivados. Nestes dias tão sombrios que temos enfrentado, esse projeto foi um respiro, trouxe luz, ânimo e esperança”.
Cumprindo pena na Apac de Campo Belo (MG), Wellington Nunes conta que ocupar-se física e mentalmente é fundamental na condição em que se encontra. Além disso, fica feliz em saber que seu trabalho tem uma importância grande do lado de fora: “O que eu faço vai beneficiar toda a sociedade, as pessoas precisam do meu esforço agora. Eu também preciso desse trabalho, pois me faz sentir importante e me motiva a ajudar o próximo”.
Compartilhando o sentimento, o recuperando Silson Rodrigues Vieira, que cumpre pena na APAC de Caratinga (MG), confirma que para ele "esta oportunidade é muito gratificante, pois estamos ajudando a salvar vidas com a confecção das máscaras, contribuindo para a população e a sociedade”.
Sobre a Apac
A Apac nasceu no Brasil em 1972, no presídio Humaitá, em São José dos Campos (SP), por meio de um grupo de voluntários cristãos, sob a liderança do advogado e jornalista Mário Ottoboni, e considerada uma experiência revolucionária.
De acordo com a Fraternidade Brasil de Assistência ao Condenado (FBAC), a Apac é uma entidade civil de direito privado, com personalidade jurídica própria, dedicada à recuperação e à reintegração social dos condenados a penas privativas de liberdade.
Ela ainda opera como entidade auxiliar dos poderes Judiciário e Executivo, na execução penal e na administração do cumprimento das penas.
Ela ainda opera como entidade auxiliar dos poderes Judiciário e Executivo, na execução penal e na administração do cumprimento das penas.
O objetivo é promover a humanização das prisões, "sem perder de vista a finalidade punitiva da pena. Seu propósito é evitar a reincidência no crime e oferecer alternativas para o condenado se recuperar".
São pequenas unidades, idealizadas para receber no máximo 200 recuperandos, construídas nas próprias comunidades onde cumprem sua pena.
São pequenas unidades, idealizadas para receber no máximo 200 recuperandos, construídas nas próprias comunidades onde cumprem sua pena.
Os presos são chamados de recuperandos e são corresponsáveis por sua recuperação. Nesse sistema, a segurança e a disciplina são feitas com a colaboração dos próprios internos, tendo como suporte alguns funcionários e voluntários, sem policiais ou agentes penitenciários.
A rotina diária se inicia às 6h e termina às 22h. Durante o dia, todos trabalham, estudam e se profissionalizam, evitando a ociosidade. Com uma disciplina rígida, a Apac conta com um conselho formado por recuperandos que cuidam da ordem, do respeito e do acompanhamento de normas e regras.
A rotina diária se inicia às 6h e termina às 22h. Durante o dia, todos trabalham, estudam e se profissionalizam, evitando a ociosidade. Com uma disciplina rígida, a Apac conta com um conselho formado por recuperandos que cuidam da ordem, do respeito e do acompanhamento de normas e regras.
A taxa de reicindência criminal é baixíssima: a média internacional do sistema convencional de quem retorna ao crime é de 70%, no Brasil é de 80%, e dos que cumprem regimes (fechados, semi abertos e abertos) nas Apacsé de 15%.
Dados da FBAC indicam que já passaram pelas APACs no Brasil, 51.562 recuperandos.
O país conta com 52 unidades, sem qualquer policial ou agente penitenciário. Elas abrigam um total de 2.910 recuperandos (251 mulheres e 1.740 homens).
Há 32 Apacs em processo de implantação.
O país conta com 52 unidades, sem qualquer policial ou agente penitenciário. Elas abrigam um total de 2.910 recuperandos (251 mulheres e 1.740 homens).
Há 32 Apacs em processo de implantação.
“É preciso que não se veja a prisão como um espaço de vingança, mas sim como um espaço de regeneração do ser humano", diz Mirella Freitas, juíza da 2ª vara de Itapecuru-Mirim (MA).
Ela aponta os resultados como demonstração de que a restrição da liberdade pode cumprir uma função social e regenerar o condenado.
Ela aponta os resultados como demonstração de que a restrição da liberdade pode cumprir uma função social e regenerar o condenado.