Jornal Estado de Minas

INJÚRIA RACIAL

Rainha do carnaval de BH chamada de 'macaca' entrega provas à polícia


Mais um passo em busca de justiça foi dado pela rainha do carnaval de Belo Horizonte, Laís Aparecida da Silva Lima, que levou provas à polícia dos episódios de injúrias raciais que sofreu após negar uma proposta de encontro com um homem que a abordou via WhatsApp. A entrega foi feita nesta quinta-feira (3), na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Racismo, Xenofobia, LGBTfobia e Intolerâncias Correlatas (Decrin).





No início dessa tarde, Laís saiu da delegacia com a certeza de que cumpre seu papel na sociedade. “Vir aqui hoje é representar toda uma população que sofre desde o nascimento com o constrangimento, a exclusão. O povo negro já nasce com peso nas costas por causa da cor da pele. A gente é menosprezado a todo momento”, disse a jovem de 25 anos.

Nas mensagens, enviadas a ela no fim de agosto, o agressor não economizou insultos. “Você é uma macaca, arrogante, idiota. Olha pra você, no máximo, o que você serve é para poder saciar o fetiche de alguém”, diz um dos áudios que ela recebeu. No boletim de ocorrência, registrado na 4ª Delegacia de Polícia Civil, Laís lista ao menos mais cinco mensagens semelhantes, recheadas de termos de baixo calão. 

“Terem me colocado como se eu fosse apenas um objeto me feriu muito e ferem outras mulheres também que passam pela mesma situação”, expõe Laís, que além de rainha, é enfermeira e modelo. “Acho que a gente precisa se unir pra tentar colocar um fim nisso. A gente sabe que não vai ser hoje, não vai ser amanhã, mas a gente tem que continuar nossa luta”, acrescenta.





Embora tenha sido recebida pelos policiais civis, Lais contou à reportagem que não se sentiu à vontade durante seu depoimento nesta quinta-feira. “Eles me acolheram muito bem, mas fiquei um pouco constrangida por serem somente homens”, declarou. Apesar de ter depoimentos colhidos por homens, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) informou que o caso está sob a tutela da delegada Juliana Califf.

"A delegacia, chefiada pela delegada Juliana Califf, para a qual o caso foi encaminhado é uma especializada de repressão a crimes raciais e intolerâncias, portanto atende homens e mulheres, independente de raça, gênero ou identidade de gênero. O atendimento é feito por profissionais capacitados e treinados para prestar o melhor acolhimento e orientação possíveis às vítimas. Não há previsão legal de que crimes raciais ou de intolerâncias sejam recebidos por autoridade do mesmo sexo ou orientação sexual das vítimas", respondeu a polícia, em nota.

A PCMG confirmou que foi feita a representação criminal e as provas existentes foram entregues. A partir disso, a Decrin vai fazer a análise das provas e encaminhá-las à perícia para a constatação do crime e identificação do autor. Outros detalhes da investigação ainda não foram divulgados.





Criminoso insistente

O autor dos recentes ataques racistas ainda não foi identificado. Segundo a enfermeira, o criminoso é insistente. Após os primeiros insultos, foi prontamente bloqueado no WhatsApp, mas passou a fazer contato usando outro número e continuou com as agressões

Como denunciar

Além de prestar queixa à polícia, as vítimas de discriminação podem comunicar o fato por meio do Disque 100, canal que acolhe denúncias de violações de direitos humanos. 

Injúria racial é ofender alguém com base em sua raça, cor, etnia, religião, idade ou deficiência. O Código Penal, em seu artigo 140, define prisão ao condenado de um a três anos e multa.

(Com informações de Cecília Emiliana)

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