Terminologia típica do jargão da medicina, a síndrome respiratória aguda grave (SRAG) entrou para o vocabulário recente da população brasileira, em meio à pandemia do novo coronavírus. A expressão, que vem se popularizando, designa, de fato, um conjunto de sintomas, quando o paciente apresenta dispneia/desconforto respiratório; pressão persistente no tórax e saturação de oxigênio inferior a 95% em ar ambiente, entre outros. Diversas doenças respiratórias podem evoluir para um quadro de síndrome aguda grave, como pneumonia, asma, e a própria COVID-19.
Passados seis meses do início da pandemia, a evolução das hospitalizações e mortes por SRAG em Minas Gerais assusta. O Estado de Minas apurou informações que mostram a explosão de casos em diversas regiões do estado, da Grande Belo Horizonte ao Centro-Oeste e ao Sul e Norte. Os registros de hospitalização e mortes ocorrem em fontes diversas de informação, das secretarias municipais ao Sivep Gripe, plataforma do Sistema Único de Saúde (SUS).
Na região Central de Minas, as internações provocadas pelas síndromes gripais graves cresceram 898,6% nesta semana, considerada a 36ª epidemiológica, que termina amanhã, segundo os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep Gripe), plataforma do SUS. Elas subiram a 23.249, ante 2.328 na 36ª semana epidemiológica de 2019.
Dramático é também o aumento dos números de mortes por SRAG. Na Região Metropolitana de Belo Horizonte, os óbitos tiveram elevação de 80%, ao alcançar 221 registros de 16 de março a 1º deste mês, frente a 121 verificados no mesmo período do ano passado. BH lidera os óbitos, com 3.040% de elevação das notificações, de 5 registros em 2019 para 152 neste ano.
''Um aumento nesta curva (das síndromes gripais agudas graves) pode significar também um aumento no número de casos de COVID. Por isso, devemos ficar atentos à flutuação desses valores''
Carlos Starling, infectologista
O aumento das ocorrências de SRAG é comum nesta época do ano e na transição das estações, mas, agora, trouxe um fenômeno inesperado do novo coronavírus, que turbinou os registros. O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, afirma que para ter certeza de qual doença justifica os óbitos por SRAG é necessário fazer um inquérito de cada caso. “É uma síndrome que qualquer pessoa que está com dificuldade respiratória, se não tem o diagnóstico definido, pode ser cadastrada com essa [denominação] mais genérica”, diz.
O infectologista Carlos Starling observa que, neste momento da pandemia, a maioria das SRAGs, cerca de 70%, é resultado de COVID-19. “Um aumento nesta curva (das síndromes gripais agudas graves) pode significar também um aumento no número de casos de COVID. Por isso, devemos ficar atentos à flutuação desses valores”, afirma.
O avanço expressivo das síndromes respiratórias agudas graves se propaga pelo interior, como a reportagem do EM verificou. No Centro-Oeste do estado, as internações explicadas por casos de SRAG aumentaram 1.620% em Divinópolis, polo da região, entre janeiro e 28 de agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado. Elas passaram de 34 para 585, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (Semusa).
Montes Claros, no Norte de Minas, notificou desde janeiro 777 internações, frente a 87 em idêntico período do ano passado. A secretária de Saúde do município, Dulce Pimenta, afirma que, com a pandemia do coronavírus (COVID-19), houve o aumento das notificações das SARGs em 2020. Na Região Sudeste do estado, há notificações também impressionantes. Nessa porção do estado, formada por 94 municípios, há informações de que mais de 3.800 pessoas foram hospitalizadas neste ano, aumento de 17 vezes, com a concentração de registros nas cidades de Além Paraíba, Cataguases, Juiz de Fora e Leopoldina.
A atenção a essas doenças respiratórias se deve ao fato de que, em muitos quadros clínicos, elas indiquem complicações da doença respiratória. Com as subnotificações, especialistas alertavam para esse guarda-chuva genérico, as SRAGs, como uma espécie de esconderijo do diagnóstico de contaminação pelo coronavírus.
Notificações exigem atenção redobrada
O aumento no número de mortes pelas síndromes respiratórias agudas foi observado em pelo menos 17 dos 33 municípios que integram a Associação dos Municípios da Região Metropolitana de Belo Horizonte (Granbel). Ao todo, houve 221 óbitos em BH e entorno, entre 16 de março e 1º deste mês, em comparação aos 121 registros verificados no mesmo período do ano passado.
Os dados do Sistema de Informação de Vigilância da Gripe (Sivep Gripe), plataforma do Sistema Único de Saúde (SUS), ratificam esse aumento. Embora em período diferente, o mesmo fenômeno ocorre na Região Central do estado, na qual estão inseridos a capital e os municípios da região metropolitana. As hospitalizações associadas a essas síndromes gripais subiram 898,6% nesta semana, considerada a 36ª semana epidemiológica, que engloba dados de 30 de agosto a este sábado. As internações evoluíram de 2.328 para 23.249.
Os números de mortes pela síndrome, que constam no Portal da Transparência a partir da base de dados dos cartórios de registro civil do Brasil, são referentes ao período de 16 de março, quando foram registrados os primeiros casos da doença, a 1º de setembro. Ao todo, 33 municípios fazem parte da Granbel, mas não havia dados de 17 deles no Portal da Transparência.
Dos municípios que apresentaram elevação, a mais expressiva ocorreu em Belo Horizonte, onde os registros evoluíram de 5 casos para 152, acréscimo de 3.040% frente a 2019.
''É uma síndrome que qualquer pessoa que está com dificuldade respiratória, se não tem o diagnóstico definido, pode ser cadastrada com essa [denominação] mais genérica''
Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, afirma que só um inquérito de cada caso pode dar a certeza de qual doença justifica os óbitos por SRAG. “É uma síndrome que qualquer pessoa que está com dificuldade respiratória, se não tem o diagnóstico definido, pode ser cadastrada com essa [denominação] mais genérica. Qualquer doença, que puder chegar a uma insuficiência respiratória e não tivermos uma definição sobre se é COVID, pneumonia, acaba caindo no registro de síndrome respiratória aguda grave”, diz.
No entanto, o especialista pondera que a alta nos números pode resultar de uma maior sensibilidade no processo de notificação nos serviços de saúde.
Estevão Urbano destaca ainda que pode haver a subnotificação de alguma doença que é notificada como SRAG.
Possibilidades
De acordo com o infectologista Carlos Starling, SRAGs podem resultar da COVID-19, como também de outras doenças respiratórias, como a relativa ao H1N1, vírus sincicial respiratório, metapneumovírus. “É um grande conjunto de infecções respiratórias que, às vezes, não é possível fazer o diagnóstico de todas elas do ponto de vista virológico. Então, entram neste contexto”, afirma. O especialista lembra que, neste momento da pandemia, a maioria das SRAGs, cerca de 70%, é COVID-19. “Um aumento nesta curva pode significar também um aumento no número de casos de COVID. Por isso, devemos ficar atentos à flutuação desses valores”, afirma.
Em nota, a Secretaria de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informou que, neste ano, em função da pandemia do novo coronavírus, a rede de saúde está mais sensível para notificar os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), o que justifica o aumento nos registros em 2020. “Importante destacar, ainda, que diversas doenças respiratórias podem evoluir com quadro de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), desde uma asma, bronquite, passando por uma pneumonia, tuberculose, intoxicação exógena, edema agudo de pulmão, câncer, outros vírus respiratórios.”
Coronavírus explica 44% em Divinópolis
As internações por síndrome respiratória aguda grave (SRAG) aumentaram 1.620% em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas Gerais, entre janeiro e 28 de agosto, na comparação com o mesmo período do ano passado. Elas passaram de 34 para 585, segundo dados divulgados pela Secretaria Municipal de Saúde (Semusa). A estatística se refere pacientes residentes na cidade e nos demais municípios da Macrorregião Oeste do estado.
O balanço inclui informações de toda a rede hospitalar de Divinópolis, composta pelas unidades Santa Lúcia, Santa Mônica, São João de Deus, São Judas Tadeu e a unidade de pronto-atendimento (UPA).
O médico pneumologista Jander Castro destaca que o aumento das doenças respiratórias é comum nesta época do ano e também na transição das estações. Elas englobam a gripe H1N1, bronquite e a COVID-19. “O inverno, por ser um época muito fria, muito seca, quando o ar está muito sujo, leva as pessoas a ficar mais aglomeradas em locais fechados. Isso facilita a propagação de vírus e aumenta a incidência”, explica. Entretanto, o crescimento exponencial tem outra explicação: a COVID-19.
“É um vírus que está causando uma pandemia, e, além disso, todo mundo, os médicos, os enfermeiros, os pacientes, ficaram atentos a esse quadro. Então, o que acontece? Qualquer quadro hoje que aparece com patologia respiratória, uma pneumonia, uma crise de bronquite, uma faringite, um resfriado mais forte, é classificado, inicialmente, como suspeito de uma SRAG, depois vai fazer exames e confirmar se o paciente a tem ou não”, explica Castro.
A Secretaria de Saúde de Divinópolis associa o aumento das internações à COVID-19 e à ampliação das notificações pela rede hospitalar. “Uma parcela da responsabilidade é a subnotificação que hoje foi reduzida porque estamos vivendo uma pandemia.” Dos 585 casos registrados desde o início do ano, 44,2% são de pacientes diagnosticados com o novo coronavírus (259). Uma notificação foi confirmada para influenza, duas para outro agente etiológico (parasita) e outros 309 não foram especificados. Quatorze ainda aguardam resultado laboratorial.
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O que é o coronavírus
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
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Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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