O avanço das notificações de síndrome respiratória aguda grave (SRAG) neste ano não segue padrão e nem condição econômica dos municípios, unindo municípios de regiões tão díspares quanto Varginha, no Sul de Minas; Governador Valadares, no Leste do estado, e Montes Claros, ao Norte. Outro ponto em comum, é que elas põem em xeque os sistemas de testagem.
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Em Governador Valadares, os casos de SRAG cresceram 1.889% em 2020 em relação a 2019, ano em que foram registrados 46 casos. Até a 34ª semana epidemiológica de 2020, a última de agosto, as notificações na cidade chegaram a 869. No boletim epidemiológico de 27 de agosto, a Secretaria Municipal de Saúde divulgou óbitos relacionados à SRAG pela primeira vez, num total de 12 notificações.
O médico infectologista Renato Gribaum, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, explica que a Síndrome Respiratória Aguda Grave representa um conjunto de doenças que causam manifestações semelhantes. “Ela é definida como uma infecção respiratória com envolvimento pulmonar, complicada com deficiência de oxigenação devido ao comprometimento intenso do pulmão. Dezenas de vírus podem causar a SRAG. Nossa capacidade de detecção de qual vírus causa a doença é limitada, especialmente no sistema público porque os exames são caros”, disse.
Gribaum observa que, habitualmente, o vírus Influenza, incluindo o H1N1, é o principal causador da SRAG. “A COVID-19 grave é uma SRAG. No entanto, só podemos afirmar em documentos oficiais que se trata de COVID-19 se tivermos testes confirmatórios. Se os exames ainda não ficaram prontos naquele caso específico, ele é notificado como SRAG. Por isso a vigilância de casos deve incluir casos de SRAG, não somente de COVID-19 confirmado”.
Cuidados
Dos 777 pacientes internados, neste ano, com síndrome respiratória grave em Montes Claros, cidade polo do Norte de Minas, 526 (67,69%) testaram positivo para o coronavírus (COVID-19). A secretária municipal de Saúde de Montes Claros, Dulce Pimenta, afirma que, com a pandemia do coronavirus (COVID-19), houve o aumento das notificações das SARG. Mas, ela ressalta que esse crescimento foi decorrente dos procedimentos e cuidados adotados pelos serviços públicos de saúde para investigar os casos suspeitos de contaminação pelo coronavírus e encaminhar os pacientes à realização de testes para a doença.
Diante da pandemia, os cuidados e as averiguações dos serviços públicos quanto às notificações de síndromes respiratórias foram mais frequentes e muitos intensos, segundo a secretária. “Em qualquer paciente que tenha sido internado em um hospital, que tenha algum dos sintomas (respiratórios e gripais), como febre, dor no corpo e mal -estar – houve a notificação para que a gente pudesse fazer os exames para o diagnóstico da COVID-19.
Dulce Pimenta salienta que, desta forma, de janeiro ate agora, foram feitas 777 notificações de SARG em Montes Claros desde janeiro, com o crescimento de quase 900% em relação ao mesmo período de 23019. Por outro lado, ela afirma que os dados analisados por meio de média móvel” das últimas duas semanas epidemiológicas mostram tendência de queda dos casos das síndromes respiratórias agudas na cidade.
Os sintomas
Características associadas à SRAG
Dispneia/desconforto respiratório
Pressão persistente no tórax
Saturação de oxigênio inferior a 95% em ar ambiente
Coloração azulada dos lábios ou rosto
Em crianças, podem ocorrer batimentos de chamada asa de nariz, cianose, tiragem intercostal, desidratação e inapetência
Podem identificar desde a Influenza (H1N1), bronquite, asma e COVID-19, entre outras doenças
Rede de saúde sob pressão em Uberlândia
Neste ano, cresceram em 21% as internações por sndrome respiratória aguda grave (SRAG) na porção norte do Triângulo Mineiro, com base em dados da Superintendência Regional de Saúde (SRS), com sede em Uberlândia, polo da região. De janeiro a agosto, foram 728 registros a mais no comparativo com igual período de 2019 e o crescimento tem sido atribuído ao aumento dos diagnósticos de COVID-19 em 2020.
levantamento feito pela superintendência até a 34º semana epidemiológica deste ano, 4.151 internações por SRAG foram notificadas nos 27 municípios que compõem a região. Em 2019, haviam sido 3.423 no período analisado. O médico pneumologista Sérgio Pontes Prado chama atenção para o fato de que o paciente pode sentir falta de ar ao ponto de necessitar de suporte de oxigênio e ventilação invasiva, incluindo equipamentos de unidades de terapia intensiva. Pessoas com menos de 5 anos ou mais de 60 anos são as mais vulneráveis.
Por meio de nota, a SRS Uberlândia informou que “em função da pandemia do novo coronavírus, a rede de saúde está mais sensível para notificar os casos de síndrome respiratória aguda grave (SRAG), o que justifica o aumento nos registros em 2020”. O grande problema do aumento das internações por Síndrome Respiratória Aguda Grave é a pressão exercida sobre o sistema de saúde, que pode não conseguir nem mesmo tratar os casos mais sensíveis.
“A pandemia aumentou esse cenário (de internações por SRAG) e pacientes podem ter outras infecções concomitantes. O momento é sensível e se eu tenho uma quantidade de leitos que já é pequena, casos de SRAG têm baixa baixa rotatividade e ocupam leitos por 15 ou 20 dias. Ou seja, são poucos leitos e muitos pacientes, que precisam desses equipamentos por mais dias”, disse Sérgio Pontes Prado. Uberlândia, por exemplo, tem 100% dos leitos de UTI dedicados a pacientes com a COVID-19 ocupados. Quando a análise é feita do ponto de vista da capacidade total da terapia intensiva, a taxa de uso está em 99% desde 24 de agosto na rede pública de saúde.
Em entrevista concedida na semana passada em Uberaba, outra grande cidade do Triângulo, o secretário de Estado de Saúde, Carlos Eduardo Amaral, disse que após aumento generalizado das notificações de SRAG em Minas, tem havido tendência de queda dos registros. “Então, isso mostra que de uma forma geral, em cada pronto- atendimento, hoje, estamos tendo um número menor na notificação da síndrome respiratória aguda grave, inclusive na região de Uberaba.” Amaral disse que os registros de casos de SRAG estão sendo feitos da forma mais rigorosa possível. (Colaborou Renato Penteado Manfrin)
4.151
É o número de internações por SRAG em 27 municípios do Triângulo Mineiro neste ano
Problema se alastra pela Zona da Mata
No Sudeste de Minas Gerais, o aumento de internações, de janeiro a agosto, em razão de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi de 1.729%, se comparado ao mesmo período de 2019. Em 2020, o número de pacientes hospitalizados com esse diagnóstico alcançou 3.805 pessoas, representando mais de 18 vezes os registros do ano passado (208 pacientes).
Nessa macrorregião administrativa da Secretaria de Estado de Saúde (SES), formada por 94 municípios, as maiores elevações dos casos registraram se concentram em Além Paraíba, com crescimento de 663% (de 27 para 206 pessoas em tratamento); Cataguases, 4.600%, de 3 para 141 pacientes; Leopoldina, 1.390%, (de 11 para 164 doentes). Juiz de Fora, cidade-polo da região também viu as notificações de SRAG decolarem em 2020.
No município, os casos de SRAG aumentaram 3.419% entre janeiro e agosto deste ano, quando 1.436 registros foram observados, perante 42 casos em idênticos meses do ano anterior. Na opinião do pesquisador, bioestatístico e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Fernando Colugnati, é difícil saber o que, de fato, está relacionado a mudanças de critérios de notificação, e o que reflete diagnósticos de COVID-19.
Colugnati afirma que a falta de dados concretos também é um problema em suas pesquisas sobre a pandemia de coronavírus na cidade. “Para a pesquisa, é uma comparação óbvia, mas eu nunca consegui fazer essa estatística aqui na cidade, não temos esses dados detalhados de 2019 para saber os sintomas”, ressalta.
Em Viçosa, foram 17 internações por SRAG neste ano, frente a 3 em 2019. A Secretaria Municipal de Saúde também enfatiza que a diferença tão grande dos números de notificações se deve, além dos casos de COVID-19 registrados no município, a uma mudança no protocolo nacional adotado em 2020. A chefe de Vigilância em Saúde da cidade, Marina Teixeira, garante que não faltaram testes.
Falha
O diretor-geral da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), e professor da Faculdade Ciências Médicas, o médico-emergencista Marcelo Lopes Ribeiro, critica a baixa capacidade de testagem para COVID-19 no estado, principalmente, quando a pandemia estourou. “Nosso governador nem sabia o que era a Funed (Fundação Ezequiel Dias, responsável pelos exames em Minas). Só prestava atenção na dívida de R$ 8 bilhões do estado. Foi uma falha muito grande”, diz.
pesar da melhora na capacidade de testagem da população, o problema persiste. “Atendo também em Pará de Minas e lá vejo pacientes internados há nove, 10 dias, com diagnóstico SRAG, mas sem resultado de teste, o que pode ser um caso de COVID subnotificado”, afirma.
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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O que é o coronavírus
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
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Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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