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Estado de Minas DIVERSÃO

Em tempo de pandemia, Campeonato Virtual de Pipas mobiliza apreciadores em Minas

Cada competidor deverá produzir um vídeo de 15 segundos com a pipa no ar. Evento vai acontecer em cidade onde soltar pipa está proibido


07/09/2020 08:54 - atualizado 07/09/2020 10:41

(foto: Hatilho Monçao/divulgação)
(foto: Hatilho Monçao/divulgação)
Com o isolamento social provocado pela pandemia do COVID-19, surgiram vários tipos de eventos no sistema a distância, com o uso das  tecnologias de comunicação. Nesse contexto, será realizado em Minas Gerais uma competição inusitada: o 1º Campeonato Virtual de Pipas do Brasil.
 
O concurso será sediado em Montes Claros, no Norte de Minas, numa iniciativa da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), juntamente com entidades maçônicas - Conselho de Veneráveis do Norte de Minas/Convenorte, Grande Oriente do Brasil/MG e  Grande Loja Maçônica de Minas Gerais - e outros parceiros.

Um fato curioso é em 30 de julho a prefeitura de Montes Claros promulgou uma lei que proíbe a soltura de pipas na área urbana da cidade (leia abaixo). 
 
O primeiro festival  virtual de pipas do Brasil terá o seguinte formato: cada   competidor deverá fotografar a pipa que confeccionou. Na sequência, terá que produzir um vídeo de 15 segundos com a pipa no ar. Em seguida, por meio de mensagem por WhatasApp, deverá encaminhar a foto e o vídeo, junto com seus dados,  para a organização do campeonato, para a avaliação por uma comissão julgadora.

Serão classificados 30 candidatos para a etapa final, que será disputada no dia 26 de setembro, no campo de futebol do centro esportivo do campus-sede da Unimontes. No local, os competidores deverão empinar as pipas, sendo novamente avaliados por uma comissão julgadora,  obedecendo aos protocolos de segurança e de distanciamento, em cumprimento às medidas preventivas contra a transmissão do coronavírus.

As inscrições para a competição virtual de pipas poderão ser feitas até o dia 18 de setembro, pelo WhatsApp (38 99204-7253). Poderão se inscrever candidatos de todo território nacional. A premiação aos vencedores ainda será definida.

Os participantes vão concorrer em seis categorias:  “‘Engenhosidade” (serão avaliados os modelos diferenciados de pipas, a criatividade e inovação), “beleza” (avalia designer, formato, adereços e cor), “maior pipa”, “menor pipa” , “pipa de material reciclável” e “frases criativas”.

Um dos coordenadores do evento, o assessor de Projetos Especiais da Pró-Reitoria de Extensão da Unimontes, Gilson Fróes, salienta que a competição virtual de pipas tem o objetivo educativo de mostrar a importância da prática de lazer de forma segura, em local adequado, longe da rede elétrica e sem o uso de linhas cortantes (cerol e linha chilena), que são proibidas.
 
 

INTERAÇÃO PAI/FILHO

Gilson Fróes destaca que a iniciativa também  visa incentivar a prática de soltar pipas como maneira de interação entre pais e filhos durante o distanciamento social, medida preventiva contra a transmissão do coronavírus. A atividade de lazer também objetiva  reduzir o estresse e a ansiedade entre as pessoas, que aumentaram em função do isolamento social.

“Os psicólogos revelam que, durante a pandemia, aumentou a preocupação com a ascensão dos problema de saúde mental. As pessoas não estavam acostumadas a viverem distante das outras. Com o incentivo para a soltura de pipas, queremos que, mesmo sem aglomeração, as famílias possam estar juntas e que pais e filhos possam ter uma aproximação de forma lúdica”, afirma o coordenador.

Ele disse que outro objetivo do festival virtual de pipas é estimular a criatividade dos participantes. “Queremos que as pessoas venha  dar asas à imaginação.  Vamos colorir os ares com segurança e responsabilidade”, enfatiza Fróes.

Outro coordenador do evento, o professor Lincoln Wagner Veloso Queiroz, ressalta que o inédito concurso surgiu a partir da necessidade de realização de uma atividade que pudesse gerar o entretenimento, diante das   restrições para impedir a transmissão do coronavírus. “Tentamos idealizar alguma coisa que não deixasse afetar a cultura popular, que não tem idade, que é soltar pipa”, assegura ele.

“Começamos a olhar a legislação, hoje vigente, sobre o soltar pipa, e associamos aos protocolos de saúde. A partir daí, idealizamos o Campeonato Virtual de Pipas”, relata Lincoln Queiroz. Ele salienta ainda que a prática, “além promover a recreação e o entretenimento familiar, passou a ser uma forma de melhorar a saúde das pessoas”.

Ele disse ainda que o campeonato virtual terá uma campanha educativa para soltar pipa longe da rede elétrica e sem o uso de linhas cortantes, envolvendo diversas disciplinas como artes, educação física, português, matemática, física, meio ambiente, história, cultura e cidadania. Por isso, as escolas também estão sendo incentivadas a participar da competição.

Falta de renda

 

 

A proibição da soltura de pipas na área urbana de Montes Claros, no Norte de Minas, por medida de segurança, além do fim de uma prática de lazer, acarretou a perda da renda para  quem vivia do negócio. A reclamação é de Wagner Mendes Soares, presidente da Associação de Pipeiros e Fabricantes de Pipas da cidade. Ele confecciona e vende pipas.

A lei que prevê a proibição foi aprovada pela Câmara de Vereadores local depois que, em junho, duas mulheres morreram na região (uma em Bocaiuva e outra em Montes Claros), ao sofrerem cortes profundos no pescoço, provocados por linhas de cerol, usadas ilegalmente para empinar pipas.

O vereador Rodrigo Maia, o Rodrigo Cadeirante (Rede), autor do projeto de lei, também sugeriu que fosse criado na cidade um “pipódromo”, um local voltado para empinar pipas, longe da rede elétrica. Na lei promulgada pela prefeitura foi estabelecido que dentro do prazo de cinco meses o Executivo  Municipal deverá definir as áreas da cidade onde poderá ocorrer a prática de lazer, sem risco de acidentes.

Wagner  Mendes Soares disse não ser contra a aprovação da lei municipal, no sentido de proteger a vida das pessoas e impedir acidentes com a rede elétrica, além de inibir o uso de linhas cortantes (cerol e chilena), mas ressalta que ela tem falhas. “O problema é que publicaram a lei, mas não foi fixado locais indicados para a brincadeira”, assegura Wagner. “Essa proibição é até inconstitucional”, completa.

Ele afirma que há oito anos trabalha com a confecção e venda de pipas e  perdeu a fonte de renda. O “fabricante de pipas’ alega que, diante da proibição para a prática de lazer na área urbana, sua clientela desapareceu  e, agora, ele enfrenta a dificuldade para sustentar a família, sendo que é casado e pai de cinco filhos.

Wagner conta que existem duas temporadas anuais dedicadas à atividade de lazer  – nos períodos de férias escolares, em julho e  no final/início de ano. Em cada uma delas, informa, ele produzia e comercializava em torno de 4 mil a 5 mil pipas, com o preço de cada uma delas oscilando entre R$ 0,50 e R$ 2,50.

“Agora, estou praticamente parado sem vender nenhuma pipa”, lamenta ele, acrescentando que em Montes Claros existem cerca de  2 mil adeptos da prática de empinar pipas e que tiveram que interromper a atividade de lazer por causa da recente lei municipal.

Wagner Mendes Soares enaltece a iniciativa da Universidade Estadual de Montes Claros em promover o 1º Campeonato Virtual de Pipas do Brasil em meio do isolamento social imposto pela pandemia do coronavirus (COVID-19). “Devemos lembrar que muitas crianças só tem como diversão soltar pipas. Trata-se de uma cultura milenar”, argumenta


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