Quatro pessoas de uma mesma família foram socorridas, sem sequer um arranhão, de dentro de um carro capotado, às margens de uma ribanceira de cerca de 30 metros, por um policial sozinho, à caminho de casa, após o término do plantão.
O salvamento ocorreu na BR-116, próximo ao quilômetro 656, por volta das 2h desta sexta-feira (11). O sargento Gelson Alves Xavier, responsável pela façanha, seguia para Juiz de Fora, onde mora, depois de um longo dia de serviço em Fervedouro, na Zona da Mata mineira.
Sentado no primeiro banco do ônibus da viação Rio Doce, guiado pelo motorista Jardel, ele viu tudo acontecer. No local do acidente, a pista cedeu, e a sinalização é precária, principalmente, à noite.
O motorista do veículo – o operador de ponte rolante Francisco Ferreira Luz, de 49 anos – só viu um quebra-molas na pista a cerca de cinco metros de distância e, mesmo tendo reduzido a velocidade, não conseguiu impedir que o carro pulasse a lombada.
O veículo ficou dependurado no barranco e as vítimas foram lançadas contra as portas do lado do passageiro.
“Eles ficaram jogados do lado direito do veículo e, ao me verem, pela janela do motorista, tentaram se levantar. Mas, ao ficarem de pé, o carro começou a balançar. Eu só ouvia o barulho da ferragem rangendo. Pedi para pararem, imediatamente. Também tentei acalmá-los. Corri até um caminhão, que também havia estacionado, para ver se tinham uma corda, mas não havia”, recorda Xavier.
Nessas horas, diz o sargento, é preciso manter totalmente a calma “senão, você não consegue conquistar seu objetivo, que é salvar as pessoas”.
Resgate heroico
Ao colocar sua especialidade a serviço do próximo, Xavier teve a ideia de fazer uma corda humana. Não era possível esperar os colegas do 1º Pelotão de Fervedouro, a quem ele já tinha avisado: “O asfalto estava se quebrando e, a qualquer momento, eu podia perdê-los”.
Jardel, o motorista do ônibus, apoiou-se no asfalto, agarrou o braço do sargento e ele foi retirando, uma a uma, as vítimas do Fiat palio Week Treekking.
Primeiro, saiu o estudante Jonathan Ferreira da Luz, de 21. Em seguida, o soldador Rosivaldo da Luz, de 38, e, depois, a mulher do motorista, a técnica em enfermagem Rosenilda Lima Oliveira Braga, de 40. Por fim, saiu o motorista.
“Foi tudo muito rápido. Em menos de 10 minutos estávamos fora do carro”, relembra Rosenilda. Ao tentar exprimir com palavras sua gratidão ao sargento Xavier e ao motorista Jardel, a voz da mulher fica embargada: “Xavier foi um anjo. Colocou sua vida em risco para nos salvar. Para o resto da minha vida vou me lembrar e agradecer”.
Como a família, que vinha do sepultamento da mãe de Francisco, ocorrido em Salvador (BA), não tinha condições de pagar o guincho particular, os policiais custearam a despesa e os mantiveram em local seguro, no acostamento, porém, dentro da viatura.
“A noite estava fria e eles, muito assustados. Ligamos o aquecedor do carro e os deixamos em segurança, enquanto buscávamos um veículo para levá-los para casa, em Juiz de Fora”, rememora Silva.
Eles entraram em contato com a secretaria de Saúde de Fervedouro, que enviou um carro para fazer o transporte das vítimas. “Não tivemos um arranhão sequer. Que Deus prolongue a vida de todos que nos ajudaram, que ilumine muito o sargento Xavier, para ele continuar a fazer o bem”, diz Rosenilda.