“É o perigo que a gente corre”, foi assim que o motorista Egladson Angelo de Souza, de 39 anos, definiu a rotina de insegurança de quem, assim como ele, trabalha no transporte coletivo da capital. Há três anos na linha 607 (Estação Vilarinho/Esplendor), itinerário que sofreu na noite dessa quarta-feira (16) um ataque por quatro criminosos encapuzados e armados com submetralhadoras que incendiaram um veículo da linha, ele conta que esse tipo de crime já se tornou parte do seu cotidiano.
“Como pessoal aqui já é acostumado com algumas coisas eles devem ter ido de carro pro serviço. Querendo ou não, todo final do ano é isso”, disse.
O motorista relata que só ficou sabendo do fato que ocorreu a aproximadamente a 400 metros do ponto final do ônibus, em Ribeirão das Neves, Região Metropolitana da Capital, quando chegou à garagem da empresa na manhã desta quinta-feira (17). Lá ele foi avisado de que a linha só voltaria a circular às 6h por ordem do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH), que orientou as concessionárias a interromperem o fluxo de veículos até que o dia clareasse, sob alegação de falta de segurança para operar.
No local do crime foi deixado um bilhete com queixas a respeito de uma prisão considerada irregular pelo grupo que realizou o ataque.
A sensação de vulnerabilidade frente aos recorrentes incêndios de ônibus ocorridos nos últimos dias tem amedrontado os motoristas e passageiros. “Se a gente for conversar com os criminosos quando eles chegam com o galão (combustível) eles querem entrar de qualquer jeito e não tem como a gente barrar. A gente não tem como barrar uma pessoa que pula a roleta, imagina quem chega com um galão. Nós não conhecemos a pessoa tem que tentar ser o mais brando possível e tentar fazer o nosso trabalho”, conta.
Na manhã dessa terça-feira (15), a PM lançou uma operação para enfrentar esses supostos protestos de detentos. Intitulada de Fênix, a ação contou com mais de 100 militares de diversos batalhões do vetor Norte, 40 viaturas e apoio aéreo do helicóptero Pegasus. Hoje, a PM também esteve no local do fato, mas mesmo assim Egladson teme por outros ataques.
“Quando eu cheguei aqui só tinha um carro da polícia eles fizeram a escolta de alguns carros. Mas eles acompanham o carro por um quarteirão e chega no próximo ponto eles voltam e não adianta”, lamenta o motorista.
“Quando eu cheguei aqui só tinha um carro da polícia eles fizeram a escolta de alguns carros. Mas eles acompanham o carro por um quarteirão e chega no próximo ponto eles voltam e não adianta”, lamenta o motorista.
Destruição
Na Rua 41, altura do número 679, Bairro Pedra Branca, onde ocorreu o crime, vizinhos também foram afetados pelo ato e acumularam prejuízos. Uma moradora que não quis ser identificada, contou à reportagem do Estado de Minas que uma casa foi comprometida pelas chamas e um carro que estava próximo ao ônibus incendiado também foi danificado.
“O fogo pegou e se alastrou muito rápido. Na casa da vizinha o forro de isopor por dentro queimou todo, o carro dela também a pintura está toda queimada, eles tiveram que ir para a casa de parentes”.
Cabos da rede elétrica ficaram espalhados pela rua e a energia precisou ser interrompida. Enquanto a reportagem esteve no local, foi observado que os próprios moradores realizavam a limpeza da via que estava completamente coberta pelas cinzas do veículo.
*Estagiária sob supervisão do subeditor Frederico Teixeira