“Achei que iria morrer naquele instante, mas senti a mão de Deus que pairou sobre mim e meus companheiros que estavam comigo”. O relato emocionante faz parte das linhas do livro de Sebastião Gomes, de 55 anos, sobrevivente do rompimento da barragem B1 da mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, Região Metropolitana de Belo Horizonte.
“Essa ideia deste livro nasceu no mesmo dia do rompimento da barragem Vale, mas conto também minha trajetória”, disse Sebastião, inconformado com uma tragédia repetida. “Primeiro tivemos Mariana que foi um desastre ambiental incalculável. A gente via o slogan ‘Mariana nunca mais’ e depois ocorreu o mesmo com Brumadinho, então não deixa de ser um apelo às autoridades para que isso não aconteça mais”, relata.
Depois de 10 anos trabalhando na mineradora responsável pela barragem, ele preferiu pedir demissão pois não se sentia bem na empresa. “Eu saí da Vale em outubro de 2019. É uma coisa que marcou demais, então optei por sair”, disse. Após o rompimento, ele ficou afastado por três meses. Depois voltou para o trabalho em Córrego do Feijão por mais 60 dias e pediu novo afastamento.
“Depois fui pra Nova Lima, mas sempre vinha aquela vontade de não ficar. Eu gostava muito. Era um sonho trabalhar lá, mas infelizmente algumas pessoas com caráter negativo fizeram com que esse acidente acontecesse. Me doía demais, toda vez que eu ia trabalhar, minha família me ligava, minha esposa ficava chorando em casa, meu filho mais novo pedia pra eu não ficar perto da barragem. Às vezes eu ficava, mas falava que não para eles ficarem tranquilos”, disse Sebastião.
O sobrevivente se orgulha em dizer que entrou na faculdade aos 45 anos. Formado em Engenharia Ambiental e Sanitária com incentivo financeiro da Vale, hoje ele já tem uma pós-graduação e pensa em novas publicações.
“Depois que saí da Vale trabalho em casa. Cheguei a abrir empresa de consultoria, mas veio essa pandemia. Eu confio que se Deus quiser vamos abrir novo leque de possibilidades porque a vida não para”, acrescenta Sebastião.
Episódio de sobrevivência
Em 25 de janeiro de 2019, ele e o amigo Elias de Jesus Nunes, de 44, se salvaram de uma das maiores tragédias do país. Funcionários da Vale, eles escoltavam trabalhadores terceirizados que fariam a sucção de uma fossa no momento em que a barragem da mina.
Imagens de câmeras instaladas na mineradora flagraram o momento em que eles entraram em uma caminhonete que acabou alçada pela lama. O veículo ficou acima dos rejeitos, os dois saíram ilesos e ainda salvaram o colega Leandro Cândido, de 37 anos, que estava preso em um trator, com a lama até o pescoço.
No ano passado, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas, Sebastião e Elias contaram detalhes desse dia, que ficará marcado para sempre na memória dos dois e de todos os brasileiros.
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