Jornal Estado de Minas

TARIFA ZERO

Pesquisa: 85% dos usuários de ônibus desaprovam gestão do transporte público em BH durante pandemia


 
O coletivo Tarifa Zero divulgou nesta terça-feira (22) a pesquisa “Perrengues do Busão na Pandemia”. O levantamento levou em consideração opiniões emitidas por 432 usuários de ônibus que passam por Belo Horizonte. O objetivo era medir o nível de satisfação do passageiro com o transporte público durante a pandemia da COVID-19. As respostas foram dadas on-line.





De acordo com a pesquisa, 85% dos ouvidos avaliaram a gestão da Prefeitura de BH, por meio da BHTrans, como ruim ou péssima durante a crise da saúde.

Na mesma toada, 72% indicaram que a redução no quadro de horários dos ônibus no período como um problema muito grave. 

A pesquisa mostra, ainda, que apenas 26% dos ouvidos não sofreram alguma mudança no trajeto optado durante a pandemia. Entre as alterações, estão o maior uso de aplicativos de transporte privado, opção por outras linhas de ônibus, maiores distâncias percorridas a pé etc.

Conforme o documento do Tarifa Zero, 72% dos que responderam usavam os ônibus para trabalhar. Outros 12% para cuidados médicos, 12% para outras atividades e 4% para fazer compras.

Durante a pandemia, as empresas de ônibus anunciaram medidas como a disponibilização do álcool em gel para os usuários. Porém, 32% dos passageiros informaram que nunca pegaram coletivos com o produto à disposição. Outros 49% disseram que isso aconteceu às vezes.





Com a aglomeração de pessoas apontada como um dos “venenos” durante a pandemia da COVID-19, 55% dos entrevistados afirmaram que sempre pegaram coletivos lotados no período. Outros 38% destacaram que isso acontece de vez em quando. 

Quanto à espera pelos ônibus, 59% dos passageiros informaram que sempre aguardaram mais que 30 minutos nos pontos durante a pandemia. Outros 32% disseram que isso aconteceu às vezes.

Perfil


O Tarifa Zero ouviu passageiros de Belo Horizonte e de 11 cidades da Grande BH. No entanto, 87% dos entrevistados são moradores da capital mineira. 

Quanto à raça/cor, 38% dos respondentes se declararam brancos, seguidos de 31,5% de pardos e 25% de pretos. 2,5% se identificaram como amarelos, 2,1% preferiram não responder, 0,7% se declararam indígenas e 0,2% declararam outra raça/cor. 





Além disso, 293 mulheres responderam a pesquisa, além de 137 homens e dois que se declararam de outro gênero.

Outro lado


A reportagem questionou a BHTrans e o Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (SetraBH) para que as partes se manifestassem sobre os números apresentados na pesquisa. O SetraBH informou que não vai se posicionar. Já a BHTrans informou em nota que não teve acesso à metodologia científica da pesquisa.

Demonização é negativa


A relação do poder público com o transporte durante a pandemia traz à tona, mais uma vez, o debate da mobilidade urbana em Belo Horizonte. 

Especialistas defendem que, além da necessidade de educar os usuários num momento de crise da saúde pública e de protegê-los a partir de medidas de segurança, as autoridades precisam se preocupar com o cenário a longo prazo: passar a mensagem de que os ônibus e o metrô são inseguros pode ser prejudicial para uma metrópole mais “saudável” do ponto de vista urbanístico no futuro.





Estudar todos esses reflexos é o objetivo de um projeto de pesquisa financiado pelo Cefet e que conta com pesquisadores do Departamento de Sociologia e Antropologia da UFMG e do Programa de Engenharia e Transporte da UFRJ. 

Cientistas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) também participam do grupo de trabalho.

Para o professor Guilherme Leiva, coordenador do curso de Engenharia de Transportes do Cefet/MG e membro do projeto, a comunicação é fator fundamental para não demonizar o transporte público durante a pandemia. 

“A gente não pode, por causa do medo das pessoas de andar de ônibus e metrô, voltar a supervalorizar o carro. A gente não pode encarar o transporte coletivo como um problema. Não podemos ter um individualismo cada vez maior na nossa sociedade”, alertou ao Estado de Minas em reportagem publicada em junho.

“É lógico que se a gente não cuidar, ele pode se tornar um vetor de transmissão, mas se for bem gerenciado, melhoramos o transporte da cidade. Com uma gestão eficiente, ele pode ser uma ferramenta muito mais útil que um problema. Uma cidade com menos carros, é uma cidade mais saudável, com qualidade do ar melhor”, completou o professor.





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