Jornal Estado de Minas

PAMPULHA

Principal cartão-postal da fé de belo-horizontinos será reaberto em outubro

A Capela Curial São Francisco de Assis, mais conhecida como Igrejinha da Pampulha, em Belo Horizonte, deverá ser reaberta no próximo dia 4, data consagrada ao padroeiro do templo e protetor da natureza. Sem cultos e visitação há quase seis meses devido à pandemia do novo coronavírus, a construção, projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), terá seu retorno às celebrações religiosas e ao turismo dentro dos necessários protocolos sanitários e de segurança.





A Arquidiocese de Belo Horizonte, à qual a igrejinha está vinculada, já faz os estudos para receber os fiéis e visitantes, incluindo horários das missas, número de pessoas permitido, equipamentos para higienização e outras medidas. Também a tradicional bênção dos animais, realizada todos os anos em 4 de outubro, está em análise, pois pode gerar aglomeração. À frente da capela está o padre Welinton Lopes, titular da Paróquia de Santo Antônio, no Bairro Jaraguá, na mesma região.

A reabertura ocorre exatamente um ano após o monumento ser reinaugurado, e apresentado à comunidade o trabalho de restauro conduzido com recursos do governo federal, via Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( Iphan). Ao lado dos prédios do Museu de Arte da Pampulha (MAP), Iate Tênis Clube e Casa do Baile, atual Centro de Referência em Arquitetura, Urbanismo e Design, a igrejinha, da década de 1940, é ícone do conjunto moderno reconhecido como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

SEM OLHOS CURIOSOS


Na tarde chuvosa de ontem, primeiro dia da primavera, ninguém se aventurou a repetir uma cena que se tornou comum antes das obras de restauro – durante a intervenção o templo ficou fechado por tapumes – ou mesmo em dias de pandemia: admirar o interior do templo através das vidraças que estão viradas para a Lagoa da Pampulha e com parte emoldurada pelos jardins de Burle Marx (1909-1994). Olhos dirigidos pela fé ou pela arte buscavam os 14 quadros da via-sacra, de Cândido Portinari (1903-1962), também autor do painel externo, dedicado a São Francisco, ou o painel do batistério, obra do mineiro Alfredo Ceschiatti (1918-1989). O templo tem ainda quadros e os painéis de pastilhas (parte externa) do artista plástico Paulo Cabral da Rocha Werneck (1903-1962).





Primeira igreja em estilo modernista do país, a São Francisco de Assis ficou fechada de novembro de 2017 ao início de outubro de 2019, com um ano e três meses de obras nesse período. Os recursos federais, no valor de R$1,07 milhão, foram repassados pelo Iphan à Prefeitura de BH, que fez a licitação para escolha da empresa encarregada do restauro. O acompanhamento técnico da obra ficou a cargo da autarquia federal, responsável pelo tombamento de todo o conjunto moderno da Pampulha, também protegido pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e Conselho Deliberativo Municipal do Patrimônio Cultural de BH.

Um dos maiores desafios durante a obra, conforme os engenheiros, foi conter as infiltrações que acometiam o interior da igreja. O problema já se manifestava havia muitos anos e foram feitas intervenções anteriores, na busca de soluções para o sério problema. A identificação exata dos pontos de infiltração só pôde ser feita após a remoção do forro, no início da obra, e apresentou pontos não previstos, que levaram à alteração da proposta inicial de intervenções.

Muito mais do que um cartão-postal de Minas, joia do Brasil e Patrimônio da Humanidade, a Igrejinha da Pampulha se tornou desde a reabertura, há um ano, um centro de referência em “ecologia integral”, conforme preconiza o papa Francisco. Segundo o arcebispo metropolitano de Belo Horizonte e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Walmor Oliveira de Azevedo, ecologia integral se refere à valorização do meio ambiente em harmonia com o ser humano, “um lugar de aprendizagem, de respeito e preservação do meio ambiente, nossa casa comum”.