Os indígenas da etnia Xacriabá, no município de São João das Missões, no Norte de Minas, estão sendo orientados para a prevenção das queimadas. Nesta semana, seis indígenas colocaram a mão na massa, fazendo o aceiro para a proteção de uma nascente. Eles integram a Brigada Federal Indígena Xacriabá, do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (PREVFOGO/MG), vinculado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
A ação preventiva na terra indígena Xacriabá ocorre na mesma semana em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em discurso na Assembleia das Nações Unidas (ONU), na terça-feira (22), citou as queimadas provocadas pelos índios ao fazer referência aos incêndios na Floresta Amazônica.
Leia Mais
Na ONU, Bolsonaro diz que incêndios são usados em campanha internacionalQueimadas em Minas desafiam as autoridadesBrigadistas de Minas ajudam no combate ao fogo no PantanalMaior operação contra o tráfico prende 21 pessoas em Sete LagoasHomem é filmado colocando fogo em vegetação em Brumadinho
“Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas. Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação", disse Bolsonaro.
A terra Xacriabá concentra a área indígena mais populosa do Sudeste brasileiro, com cerca de 10 mil índios, 76% da população de São João das Missões (13,12 mil habitantes). Abrange 36 aldeias em uma área total de 96 mil hectares. De acordo com informações do Ibama, dentro das atividades da “Semana Florestal” (comemorativa do Dia da Árvore, 21 de setembro), foram realizadas atividades de proteção da nascente do Córrego Pindaíbas, localizada na aldeia homônima, na reserva indígena de São João das Missões.
Conforme o instituto, com o apoio de lideranças e dos moradores da reserva, os brigadistas fizeram a abertura e limpeza de três quilômetros de aceiros no entorno da nascente do Córrego Pindaíbas. Foi realizado também o cercamento da área de preservação da nascdente, por meio de projeto desenvolvido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), em parceria com outras instituições.
Os seis brigadistas indígenas envolvidos no trabalho preventivo na nascente fazem parte do grupo Esquadrão Tamamduá, do PREVFOGO/MG na terra Xacriabá. Ao todo, a área conta com 29 brigadistas, dos quais 19 são índios, contratados pelo Ibama.
O coordenador do PREVFOGO/MG, o analista ambiental Rafael Macedo Chaves, explica que os brigadistas também realizam um trabalho de mobilização comunitária na reserva para se evitar os incêndios florestais e para proteção das nascentes, “fontes de água consideradas sagradas pela população indígena local”.
Chaves reconhece que os índios têm o hábito de fazer a queima da vegetação para preparar os terrenos para o cultivo de lavouras de subsistência de mandioca, milho e feijão. Por outro lado, ele ressalta que o Ibama “respeita” essa cultura e tradição dos indígenas e, por meio da equipe de brigadistas, procura orienta-los para que possam preparar seus terrenos com o uso do fogo, mas de forma controlada, evitando os incêndios florestais. "A questão da água é tratada com todo o respeito as tradições indígenas, mas de forma programada e controlada para se evitar incêndios florestais”, afirma o representante do Ibama.
O atual período é de preparação das roças, sendo que a época também é de forte calor e de vegetação seca. Com isso, os cuidados para se evitar o fogo “salte” para as áreas de mata nativa precisam ser reforçados.
Rafael Chaves disse que os brigadistas acompanham as queimadas (“coivaras”) das áreas de plantio dos indígenas e auxiliam nos serviços de limpeza e de implantação de aceiros para evitar os incêndios florestais.
Ainda segundo ele, a equipe de brigadistas tem um “cronograma”, sendo avisada com antecedência pelos moradores da reserva para orientar e acompanhar as queimadas controladas nos terrenos preparados para o plantio das lavouras de subsistência.