Jornal Estado de Minas

23 DE SETEMBRO

Dia da Visibilidade Bissexual: veja relatos de jovens mineiros

“A comunidade bissexual cresceu na força, mas de muitos modos somos ainda invisíveis”, disse Gigi Raven Wilbur, ativista e escritora em 1999, quando se estabeleceu o Dia da Visibilidade Bisexual. Depois de 21 anos, o dia comemorado nesta quarta-feira (23), ainda continua sendo alvo de diversos preconceitos. Isso porque a classe sofre também com estereótipos dentro da própria comunidade LGBTQIA%2b. Para celebrar a data e comemorar a bisexualidade sem nenhum tipo de preconceito, diversos jovens mineiros relatam como é ser “bi” na modernidade. 





"O dia serve para mostrar que o bissexual não tem que provar sua sexualidade para ninguém. É uma sexualidade válida, apesar de que muitas pessoas duvidam que exista”, explicou o Alan Liro, de 21 anos.

De acordo com um estudo feito pela American Institute of Bisexuality, as pessoas que se identificam como heterossexuais têm mais atitudes negativas sobre bissexuais (especialmente homens bissexuais) do que têm quanto a gays e lésbicas. Isso acontece porque muita gente enxerga a bissexualidade como uma orientação conveniente e inventada, usada por homens em negação quanto a sua homossexualidade e por mulheres que só querem experimentar.

Caracterizada pela capacidade de atração, seja sexual ou romântica, por mais de um sexo, não necessariamente ao mesmo tempo, da mesma maneira ou na mesma frequência, a bissexualidade tem como sua maior carcatéristica a liberdade. 





Nathalia Aimorim, 22 anos (foto: Reprodução)
"Esse dia é muito importante tendo em vista a falta de inclusão dos bissexuais dentro do movimento LGBTQIA%2b. Além disso, existem várias formas de bi-fobia no mundo inteiro. Por mais que hoje seja o dia da visibilidade Bi, não é um dia que muitas pessoas falam sobre isso. É como se fosse, para a comunidade gay e lésbica, algo que não tenha força”, afirma Nathalia Aimorim, 22 anos.

Segundo pesquisadores da Northwestern University, foi encontrado diversas evidências científicas de que alguns homens que se identificam como bissexuais são, de fato, sexualmente excitados por homens e mulheres. No estudo, publicado em 2005, existe a comprovação que "em relação à excitação sexual e atração erótica, a bissexualidade masculina existe e pode ser comprovada."

Gabrielle Aires, 21 anos (foto: Reprodução)
“Eu vejo a luta da nossa comunidade na sociedade hoje em dia como uma luta melhor. Desde que eu me assumi, há 6 anos, muita coisa mudou. Eu era jovem, estava na escola, cheguei a perder amigos e sofrer preconceito. Hoje, eu sinto que, apesar de tudo, as pessoas têm uma cabeça mais aberta, até nossos familiares. Existe um debate e uma oportunidade”, diz Gabrielle Aires, 21 anos.




 
Gabriel Costa, 21 anos (foto: Reprodução)
"Nós, bissexuais, temos que ser lembrados tanto dentro da comunidade da LGBTQI%2b quanto fora. Por isso as pessoas levam pro lado de: ou você é bi ou você é hétero. Nós não temos que ser 50% e 50%, a sexualidade é um espectro. Nossa sexualidade não é uma porcentagem ", comenta Gabriel Costa de 21 anos.
 
Outra questão levantada pela comunidade é a percepção preconceituosa de que pessoas bisexuais têm maior desejo sexual. Segundo um artigo publicado em 2007 na revista científica Archives of Sexual Behaviour, essa afirmação não é verdadeira. A pesquisa revelou que numa amostra de cerca de 200.000 participantes, que se auto identificaram como bissexuais, o desejo sexual era muito semelhante a outras orientações sexuais.

Nathália Farnetti, 20 anos (foto: Reprodução)
"É uma data em que a gente tem que colocar em questão pautas que deveriam ser tratadas no dia a dia como a hiper-sexualização das mulheres bissexuais. Muitas vezes, as pessoas não as reconhecem. Falam que é por diversão ou são indecisos. Acho que datas assim são importantes para a gente lembrar dessa luta e falar sobre esses assuntos", relata Nathália Farnetti, 20 anos. 





Henrique de Paiva, 23 anos. (foto: Reprodução)
"O bi é sempre visto como o indeciso. É o parceiro de menaje do casal, o desejo de um casal. É muito sexualizado. Quando você tem uma visibilidade, você é reconhecido no meio social. Nesse dia, apesar do preconceito, a gente recebe muito apoio”, também explica Henrique de Paiva, 23 anos.

Falas Preconceituosas


Questionados pela reportagem, os entrevistados reponderam quais falas eles mais escutam ao revelarem ser bissexuais. 

Veja algumas:

  •  “Mas se ela está namorando um homem, ela é hetero, não é?”
  • “É bi? Vamos fazer um menage?”
  • “Aposto que deve ser muito legal ser bi e ter várias opções”
  • “Ele está falando que é bi porque não quer se assumir gay”
  • “Pessoas bissexuais têm mais chances de pegar DST”
  • “Ela é rodada, deve ficar com qualquer um”
  • “Ela só namora homens. É bi coisa nenhuma”
  • “É só uma aventura”

Mas afinal, porque dia 23 de setembro?

Em 1999, três ativistas americanos bissexuais, Wendy Curry, Michael Page e Gigi Raven Wilbur, decidiram criar uma data para comunidade em resposta aos ataques preconceituosos dentro da própria comunidade LGBTQIA%2b. A ideia era criar um dia para que pessoas bissexuais debatessem a importância da visibilidade da classe. O dia foi escolhido por ser data da morte do psicanalista Sigmund Freud, o primeiro a tratar a questão da bissexualidade.

*Estagiária sob supervisão de Álvaro Duarte