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Estado de Minas MEIO AMBIENTE

Ibitipoca: incêndio ameaça mais de 60 espécies raras no parque

30 plantas existentes no local não são achadas em nenhum outro lugar do mundo


29/09/2020 19:07 - atualizado 29/09/2020 19:44

A expectativa do comandante da operação de combate ao incêndio, major Leonardo Nunes, era extinguir todos os focos até a quarta-feira (30), pela manhã(foto: Rodrigo Sarago/Divulgação)
A expectativa do comandante da operação de combate ao incêndio, major Leonardo Nunes, era extinguir todos os focos até a quarta-feira (30), pela manhã (foto: Rodrigo Sarago/Divulgação)
O Parque Estadual do Ibitipoca, na Zona da Mata, palco de um incêndio com previsão de ser totalmente encerrado apenas na quarta-feira (30), abriga 30 espécies endêmicas, ou seja, essas plantas não são encontradas em mais nenhum outro lugar do planeta. Das 1.500 espécimes catalogadas como nativas do bioma da unidade de conservação, 61 fazem parte da lista de espécies ameaçadas de extinção, em Minas Gerais, elaborada pela Biodiversitas.

As informações, da bióloga, pesquisadora do herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro e estudiosa do parque desde 1992, Rafaela Campostrini Forzza, dão a dimensão de como o fogo na mata do parque é um acidente, em princípio, irreparável. Segundo ela, 70% da área, cerca de 1.400 hectares, são campos rupestres, vegetação típica do cerrado e da caatinga.



Porém, salpicados entre esses campos, no meio da unidade, associam-se pequenas matas, manchas de Mata Atlântica. “Dentro do parque, essas florestas são chamadas nebulares, porque adquirem características específicas, possíveis apenas ali, devido ao relevo, à umidade relativa do ar, altitude e ao clima”, explica. 

Nas matas nebulares de Ibitipoca, nascem epífitas – plantas que crescem umas sobre as outras – bromélias, samambaias, orquídeas, cactos; únicos. “Não estamos falando apenas da unicidade em termos de beleza cênica, indiscutível, mas da biodiversidade. Por haver a floresta estacional, que também são resquícios de Mata Atlântica, no entorno do parque e, no miolo, esses campos com as matas nebulares, temos uma condição muito especial”, esclarece Forzza. 

O biólogo Marco Aurélio Fontes, professor do Departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal de Lavras (UFLA) e também estudioso da área, acrescenta a especialidade de a região ser considerada como a mais importante do Hemisfério Sul para o estudo de líquens. “Isso sem falar na fauna, nos sapos, pererecas, aves; enfim, é um ecossistema riquíssimo e muito sensível. A situação é dramática”, lamenta. 

Ele chama atenção para a dificuldade de a vegetação do parque recuperar-se, pois, anualmente, são registrados incêndios de grandes proporções. “A conta não fecha. É dificílimo fazer a reintrodução de plantas em campos rupestres, cultivá-las para replantá-las e qualquer outra muda, mesmo que da região, seria exótica para o parque. No entanto, a vegetação não consegue ter tempo para se recuperar”, frisa.

Para Fontes, mesmo com os inconvenientes causados pelo incêndio, o parque não deveria permanecer fechado. Assim, os órgãos ambientais e administração do parque teriam a chance de mostrar aos turistas e visitantes, por meio das equipes de educação ambiental, os danos e as consequências para a natureza de comportamentos que, muitas vezes, podem ser evitados. 

Conforme o Major Leonardo Nunes, subcomandante do 4º Batalhão dos Bombeiros de Juiz de Fora e coordenador da operação de combate ao incêndio, no início da noite de terça-feira (29), todos os focos dentro do parque haviam sido debelados. Porém, uma área maior, vizinha à unidade de conservação, ainda queimava e inspirava cuidados. “Esse ponto pode evoluir e voltar com o fogo para o parque, por isso, vamos nos manter vigilantes. Além desse ponto, há outros menores, pequenos, mas esperamos extinguir todo o incêndio até a quarta-feira, pela manhã”, afirma.


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