Uma campanha realizada pelos moradores da Serra do Cipó tem o objetivo de resgatar sementes nativas da região de Lagoa Dourada, que depois serão usadas no processo de reflorestamento das áreas próximas às nascentes da localidade. A ação ocorrerá no próximo sábado (03), a partir das 6h, na Lapinha João do Gongo, em São José da Serra.
Com os incêndios que estão devastando o Parque Nacional da Serra do Cipó e suas proximidades, essa ação vai ser intensificada. Mas os voluntários trabalham colhendo sementes e produzindo mudas desde 2014. Ana Paula Pereira é uma dessas voluntárias e conta que a iniciativa começou com ela, a irmã, a cunhada e um casal de amigos. “Só nós mesmo, pegando sementes de terreno em terreno. Nós conseguimos mais de 4 Km de reflorestamento”. A moradora explica que os resultados aparecerem em muito pouco tempo e as chuvas intensas ajudaram nesse processo.
A evolução era registrada pela voluntária por meio de fotos para acompanhar o crescimento da nova vegetação. “Agora devastou tudo. Foi a mesma coisa que pegar e jogar tudo no ralo”, desabafa. “Mas nós não vamos parar. Como aconteceu isso (incêndios) e a gente tá pedindo muito socorro, tá aparecendo muita ajuda”.
Porém, antes dessa devastação, Ana Paula relata que o trabalho de reflorestamento não era fácil. “A gente encontrou muita dificuldade, era fazendeiro brigando, mas a gente nunca se importou”. Ela conta que os voluntários pediram autorização da Justiça para fazer um ponto de apoio na Lagoa Dourada, pois a região estava sofrendo degradação, com áreas sendo devastadas para fazer pasto, turistas acampando e deixando a região suja. E, com as queimadas, a situação ficou ainda pior. “Nós estamos sem água e as nascentes estão ameaçadas.”
Vídeo gravado por brigadista mostra o tamanho do desastre na Serra do Cipó. Estimativa é que 9,1 mil hectares de vegetação já foram consumidos desde domingo (27)
— Estado de Minas (@em_com) October 1, 2020
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Crédito: Guilherme Duarte. pic.twitter.com/dhfZutTlhq
A moradora fala com orgulho do projeto e diz que agora eles vão precisar de muita ajuda para recuperar o que foi devastado pelo fogo. E que, apesar da tragédia, essa é uma oportunidade para que as pessoas tomem consciência do problema. “Aqui no parque nós temos algumas das nascentes principais. Se a gente não começar a cuidar delas, vamos ficar sem água.”
A coleta das sementes já começou na área em que o fogo foi controlado. “A gente tem que aproveitar que conseguiu apagar lá, pra ir recuperando as sementes”. Ana Paula explica que as sementes são coletadas e separadas para análise. Os voluntários fazem uma seleção de quais podem ser recuperadas para germinar. Eles também contam com doações de mudas da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater), Instituto Estadual de Florestas (IEF), Secretaria do Meio Ambiente e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio) para, quando a região puder ser novamente reflorestada, o processo seja mais acelerado.
Incêndios
A assessoria do ICMBio Cipó-Pedreira, informou, em nota, que os primeiros focos de incêndio foram detectados no domingo (27) por volta das 18h30, em uma área externa ao Parque Nacional da Serra do Cipó.
O fogo se alastrou com rapidez, fazendo com que brigadistas e moradores atuem juntos para combater um dos maiores incêndios da região.
Os moradores da região fizeram, também, uma campanha para arrecadar água mineral, isotônico e outras bebidas hidratantes para os brigadistas que combatem os incêndios na da Serra do Cipó.
* Estagiária sob supervisão da editora Liliane Corrêa