Minas Gerais é o estado que trata mais pacientes contaminados pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2) vindos de outras unidades da federação, o que pode ser resultado de uma oferta de leitos hospitalares excedente, fruto do comprometimento da população com o isolamento. É o que indicam dados coletados pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), compilados pelo Estado de Minas e avaliados por profissionais sanitários (veja tabelas nesta página) a partir dos fluxos de casos e óbitos encaminhados pelas secretarias estaduais de Saúde até 14 de setembro. Minas se destaca com o maior percentual de pessoas de fora do estado ou de origem indefinida mortas por COVID-19 em seus hospitais, com 3,4% do total. O percentural re- presenta mais de três vezes a taxa no segundo colocado, o Mato Grosso (1,1%), e a do terceiro no ranking, o Paraná (1,03%).
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Em Minas, o universo de pacientes de fora do estado representa 6.776 pessoas com teste positivo para o novo coronavírus, média de 37 casos por dia desde 16 de março, quando o primeiro teste positivo foi registrado em território mineiro. Em termos absolutos, é o maior volume de pacientes “importados”, à frente de Santa Catarina, com 6.520, e do Ceará, com 2.064.
Ainda em 27 de setembro, o volume de diagnósticos positivos vindos de fora subiu para 6.995. Se representasse um município, estaria atrás de Belo Horizonte (41.091), Uberlândia (26.586), Contagem (8.717), Ipatinga (8.496), Montes Claros (8.496) e Governador Valadares (7.146), mas novamente à frente de grandes cidades como Juiz de Fora (5.803) e Betim (5.759).
Quarentena
Uma das explicações para o ingresso de tantos doentes em Minas Gerais, segundo o infectologista Geraldo Cunha Cury, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, que coordena a vacinação em BH, é que o isolamento poupou vagas do sistema de saúde, tornando essa oferta atraente para pacientes de estados onde as condições eram piores, como São Paulo e Rio de Janeiro – redes nas quais poucos pacientes de fora têm oportunidade de se tratar, devido à alta demanda interna.“A Prefeitura de Belo Horizonte agiu rápido e tomou medidas imediatas de isolamento, o que ocorreu no estado também. A questão central é o isolamento e o uso de máscaras pela população. Daí, logo no início da epidemia começamos a ver pacientes vindos de locais com realidades piores, como Manaus e Belém”, afirma.
Colapso hospitalar foi evitado
Longe de um colapso ou situação de lotação extrema nos hospitais, como ocorreu nos momentos de pico no Amazonas, Pará e no Rio de Janeiro, por exemplo, Minas Gerais ainda apresenta cerca de 60% dos leitos ocupados, sendo 20% de pacientes testados ou com suspeita de ter a COVID-19. O pior índice de ocupação se deu em junho, quando 88% das vagas de terapia intensiva tinham pacientes e 75% da capacidade das enfermarias estava ocupada.
A migração de pacientes de fora do estado foi prevista pelo prefeito de Belo Horizonte em maio, quando Alexandre Kalil demonstrou preocupação com a tendência, ainda que, na época, fossem apenas cinco paraenses, dois paulistas, um fluminense e um capixaba internados na cidade. “Todo sacrifício e o dinheiro que foi posto aqui (em BH) são para a nossa população, que está se sacrificando. É claro que ninguém vai negar socorro para ninguém. Agora, houve um sacrifício muito maior do povo belo-horizontino, que é um povo mais disciplinado mesmo, é mais responsável mesmo. Isto aqui não é hospital. Isso aqui é uma cidade onde todo mundo respeitou (o isolamento) e por isso estamos minimamente garantidos até agora. Amanhã, eu não sei”, disse, na época, preocupado com uma possível sobrecarga de doentes “importados”.
Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) informa ainda não ter acesso aos dados e comparativos, não podendo se manifestar sobre os questionamentos apontados pelo Estado de Minas. “Reforçamos que as informações sobre a COVID-19 em Minas Gerais são apresentadas no boletim epidemiológico da doença, atualizado diariamente e publicado no site da SES”, informou, em nota.