Jornal Estado de Minas

Importância do isolamento

BH poupou quase 500 vidas, mas tem de manter prevenção à COVID-19

 

A vida de pelo menos 486 belo-horizontinos foi poupada pelas medidas sanitárias de prevenção contra o novo coronavírus e o comportamento da população diante da pandemia. É o que mostra estudo comparativo de indicadores da doença respiratória após 200 dias da ação do vírus (Sars-CoV-2) no Brasil, entre 10 de março e 26 de setembro. O número de pessoas que ficaram a salvo da COVID-19 é resultado do cruzamento de dados reais e estimados com base na progressão da doença. Nesse período, 1.199 habitantes da capital foram mortos, enquanto 1.685 poderiam ter sido vitimados caso a doença tivesse avançado em Belo Horizonte na mesma proporção que se vê no país. A diferença, portanto, se refere a 41% de óbitos que BH evitou.





 

A cidade tem a menor proporção de mortos a cada grupo de 100 mil pessoas na comparação entre as capitais com mais de 1 milhão de habitantes. BH tem taxa de 47,5 óbitos por 100 mil residentes, resultado inferior aos de Curitiba (63) e Porto Alegre (65,9). A taxa média nacional é 66,8. O índice de diagnósticos positivos da capital é o segundo menor, de 1.630 a cada grupo de 100 mil habitantes infectados com o vírus, atrás somente do Rio de Janeiro (1.460).

 

Os dados comparativos sobre os 200 dias da COVID-19 constam da base da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e das secretarias estaduais de Saúde e foram compilados pela reportagem do Estado de Minas. Para dar uma ideia do nível de organização e de eficiência no controle da doença infecciosa em Belo Horizonte, o desempenho da cidade em comparação com metrópoles de maior orçamento poupou de sofrimento as famílias de várias pessoas que poderiam não ter resistido ao vírus.

 

A taxa de mortos por 100 mil habitantes de São Paulo, por exemplo, é de 102 óbitos, mais de duas vezes a de BH. Se tivesse essa progressão, a capital mineira poderia ter atingido 2.576 mortos, 115% a mais. Ou seja, caso a COVID-19 tivesse afetado os mineiros como os moradores da maior e mais rica cidade brasileira, projeta-se que 1.377 belo-horizontinos a mais poderiam ter falecido.





 

Epicentro da doença no país, a capital de São Paulo tem taxa de mortos por 100 mil habitantes mais de duas vezes superor à de BH (foto: Miguel Schincariol/AFP - 20/4/20 )

 

As vítimas chegariam a 3.952, acréscimo de 230%, com 2.753 óbitos a mais em BH se o ritmo de morte tivesse sido semelhante ao do Rio de Janeiro, que é a capital com o pior desempenho e a mais alta taxa de vítimas da nova doença dentro do período de 200 dias. Se o ritmo de progressão tivesse sido igual ao de Brasília, a projeção seria de 2.412, aumento de 101%, ampliação de 1.213 vidas perdidas.

 

Preparação Na avaliação do infectologista, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG Geraldo Cunha Cury, a condição melhor da capital mineira se deve à adesão da população ao isolamento social. A quaretena foi decretada em 17 de março, um dia após a identificação do primeiro caso no município. “O principal foi a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ter antecipado a política de isolamento. Isso foi seguido a uma série de instruções que a população entendeu e cumpriu o melhor que pôde, como o uso das máscaras e o distanciamento, que é importante de se fazer, com espaço de 2 metros mesmo quando se está com o rosto coberto”, afirma o médico.

 

Contudo, há sinais de progressivo enfraquecimento da adesão ao isolamento, atestado pela mobilidade de telefones celulares e o crescente tráfego de veículos. “É preciso manter o cuidado. Os resultados foram bons, porque as medidas necessárias foram seguidas e se acreditou. Mas a doença ainda circula e não há vacina disponível. É preciso continuar com as precauções. Infelizmente, já se vê gente circulando pelas ruas da capital sem a utilização de máscaras”, alerta o infectologista e epidemiologista.





 

A subsecretária de Atenção à Saúde de BH, Taciana Malheiros, também destacou a tomada de decisão de distanciamento precoce, com a formulação de um comitê guiado por indicadores científicos para orientar as políticas públicas da prefeitura. “Já em fevereiro, a rede de saúde estava organizada e alerta para a chegada do vírus. Tivemos importantes investimentos nas camadas menos favorecidas, como a população em situação de rua e os mais pobres, com a distribuição de cestas básicas, máscaras, material de higiene de domicílio e pessoal. Isso foi muito importante para o controle da pandemia”, afirma.

 

Outros destaques da preparação de BH para controlar a epidemia, segundo a subsecretária, foram a instalação de três centros especializados, que atenderam 5 mil pacientes, e a abertura de serviço de consulta por telefone, em parceria com uma operadora de plano de saúde, com 16 mil agendamentos. Enquanto as pessoas se afastavam do convívio social, em suas casas, a saúde municipal informa ter ampliado a oferta de leitos e de testes. “Em março, eram 133 leitos de enfermaria para doentes respiratórios e 101 de UTI (Unidade de Terapia Intensiva). Agora, temos 925 leitos de enfermaria, que podem chegar a 1.115 em caso de contingência, e 374 UTIs, com possibilidade de ampliação por necessidade para até 404.

 

Outra medida fundamental foi a implantação de um laboratório, em junho. Hoje, estamos com 350 mil exames realizados, uma taxa de 140 mil testes por 1 milhão de habitantes (o Brasil faz cerca de 64,5 mil testes por milhão)”, contabiliza Taciana Malheiros.





 

 

Fiocruz destaca evolução para síndrome respiratória


 

Só o Rio de Janeiro tem melhor desempenho que a capital mineira em proporção de diagnósticos da COVID-19 por 100 mil habitantes (foto: Mauro Pimentel/AFP - 22/5/20)
Comparada à situação de um país, a taxa de mortos pela COVID-19 em Belo Horizonte, de 47,5 a cada grupo de 100 mil habitantes, nos 200 dias de pandemia no Brasil, seria melhor que a de nações desenvolvidas e que serviram de exemplo pelo mundo, como a França (48,2) e a Suécia (58,1). “No caso dos países europeus (como a França), o que deu certo foi seguir o isolamento e os procedimentos de afastamento, como foi feito em BH. Já a Suécia adotou outra mentalidade. Não fizeram lockdown acreditando na imunidade de rebanho, ou seja,  quanto mais pessoas contaminadas, mais pessoas  posteriormente teriam anticorpos e fechariam a transmissão da doença. Mas o novo coronavírus não é assim e isso não funcionou bem. O que os ajudou foi que mesmo sem isolamento a população seguiu o afastamento”, observa Geraldo Cunha Cury, infectologista, epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG.

 

Contudo, os índices de BH ficaram atrás dos de países como a Argentina (34,3) e os Estados Unidos (42,7). A taxa brasileira é de 66,8 mortos por 100 mil habitantes. “No caso da Argentina, um fator que auxilia é a educação das pessoas. Na Argentina, ocorreu um isolamento forte, mas o nível de escolaridade mais alto reflete na consciência e na adesão aos métodos de prevenção”, avalia Cury.

 

Há um debate sobre as formas como os países enfrentaram a COVID-19, com especialistas criticando o lockdown extenso dos argentinos, enquanto outros apontam que a falta de políticas de isolamento tenha trazido dificuldades para a Suécia no início da pandemia, mas permitiu uma rápida recuperação econômica. Na China, os números oficiais demonstram que o lockdown livrou o país da epidemia, apesar de haver dúvidas sobre a confiabilidade dos dados controlados pelo Partido Comunista chinês.





 

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em nota técnica, pondera ser mais preciso avaliar a gravidade da disseminação da COVID-19 com base nos casos da doença que desenvolveram síndrome respiratória aguda grave (SRAG) do que propriamente em razão dos diagnósticos positivos, que dependem de abrangência de testagem. “Recomendamos a utilização dos registros de SRAG e registros de óbitos. As diferenças entre critérios de testagem de casos leves e assintomáticos em cada município, as diferenças entre os diversos testes utilizados, que identificam casos em fases distintas da evolução da doença no indivíduo, e as mudanças de definição para classificação de casos por critério clínico ao longo do tempo, os registros disponibilizados com total de casos confirmados apresentam limitações importantes para avaliação de tendência e evolução ao longo do tempo.”

 

Por essa diretriz, Minas Gerais apresenta a quinta menor proporção desse quadro respiratório crítico, com 111 casos por grupo de 100 mil habitantes. São melhores as taxas do Maranhão (90), Bahia (96), Espírito Santo (103) e Acre (108). O Distrito Federal tem os piores índices, com taxa de 380 por 100 mil, seguido por São Paulo (271), Amazonas (249) e Rio de Janeiro (229). (MP) 

O que é o coronavírus


Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp

Como a COVID-19 é transmitida? 

A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.



Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?


Como se prevenir?

A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.
Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê

Quais os sintomas do coronavírus?

Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:

Em casos graves, as vítimas apresentam:

Os tipos de sintomas para COVID-19 aumentam a cada semana conforme os pesquisadores avançam na identificação do comportamento do vírus. 

Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'


Mitos e verdades sobre o vírus

Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.



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