O sol forte desta primavera com cara de alto verão amplia a beleza de muitas plantas dos jardins, canteiros de vias públicas e até de muros de residências de Belo Horizonte. Um exemplo de chamar a atenção, com impacto de atrativo turístico, está na floração da unha-de-gato (Dolichandra unguis-cati), que toma conta da frente de uma casa localizada na esquina da Avenida Abrahão Caram com Rua Rebelo Horta, perto do estádio do Mineirão, na Região da Pampulha. Impossível não parar, admirar e fotografar as pétalas de amarelo forte, quase ouro, no terreno de uma casa da década de 1960.
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Minas em chamas: estado registra 1.470 focos de incêndio ativosHorta cultivada na Paróquia São José é oásis no Centro de Belo HorizonteEstação da beleza: ipês-amarelos colorem a paisagemIncêndio na Serra do Cipó chega ao décimo dia com dois pontos de atençãoSegundo a botânica Maria Guadalupe Carvalho Fernandes, do Jardim Botânico da Fundação de Parques Municipais e Zoobotânica de Belo Horizonte, a unha-de-gato é uma trepadeira nativa brasileira, com floração apenas uma vez no ano. Então, a hora é agora para conhecer e apreciar. O curioso nome unha-de-gato vem das “garrinhas” recurvadas que a planta tem para se fixar aos suportes e são semelhantes às unhas dos felinos.
Maria Guadalupe faz um alerta importante: “A espécie tem alto potencial invasor. No muro de uma casa em área urbana, fica linda mesmo. Mas, se for plantada em cercas e áreas próximas a matas nativas, ela pode se tornar um grande problema ao competir com outras trepadeiras e até afetando as árvores”.
Passeando na manhã de domingo com sua cadela Zezinha, o mecânico Mauro da Silva Gusmão, morador do Bairro Santa Mônica, na mesma região, resumiu na palavra “maravilhosa” tudo o que estava vendo no paredão florido. E sentiu por Zezinha, cão da raça akita.: “Ela é cega, eu a adotei há algum tempo”.
A bancária Mariana Paiva, moradora do Bairro Jaraguá, também na Pampulha, aproveitou o domingo para patinar na esplanada do Mineirão, e disse que, nesse tempo de pandemia do novo coronavírus, o melhor a fazer é contemplar. “É tudo muito bonito, precisamos aproveitar”.
Depois de tantas declarações de amor à natureza, só resta tocar a campainha da residência. Um rapaz que trabalha lá explicou que o proprietário não estava. “A flor é unha-de-gato, já acostumamos com a movimentação diante do muro. Fique à vontade para fotografar”, disse.
Outubro florido
De acordo com os especialistas, a floração da unha-de-gato é muito comum neste mês, especialmente na Região Central do Brasil. A espécie é ainda conhecida popularmente como cipó-de-gato, cipó-de-morcego ou cipó-ouro.
A espécie não deve ser confundida com as unhas-de-gato usadas tradicionalmente na fitoterapia da região Amazônica (Uncaria guianensis e U. tomentosa). Embora todas tenham propriedades medicinais, ocorram nas mesmas regiões e apresentem alguma similaridade, são espécies distintas e pertencem a famílias botânicas diferentes.
Raridade do Brasil
A unha-de-gato (Dolichandra unguis-cati) pertence à família botânica Bignoniaceae. A planta apresenta ramos finos, com folhas opostas e de formato ovado-acuminadas. Pode apresentar variação na morfologia foliar, ligada provavelmente à diferenças genotípicas e plasticidade adaptativa, ou seja, as adaptações estruturais da planta aos diferentes ambientes. As flores são amarelas e em formato campanulado, com cinco pétalas fundidas; ocorrem isoladas ou em grupos de duas a três unidades. A espécie é considerada nativa da flora brasileira, mas não é endêmica, ou seja, não ocorre exclusivamente no Brasil, podendo ser encontrada em vários países da América Latina, desde o México até a Argentina. Ocorre também nos Estados Unidos, África do Sul, Austrália, entre outras nações, na condição de “invasora”, introduzida principalmente como planta ornamental. No Brasil, ocorre em todos os estados e em diversos tipos de vegetação, desde áreas abertas alteradas (antropizadas), até matas mais fechadas e ambientes mais conservados.
Quarentena forçada pela ação de mosquitos
Com esse calorão todo, já beirando os 40 graus, moradores da região da Pampulha, em Belo Horizonte, são obrigados a fechar as janelas por volta das 17h. O motivo é um só: os pernilongos, que chegam aos milhares e infestam as casas, deixando as famílias, já confinadas pelo novo coronavírus, trancadas ainda mais para se livrar dos insetos. “O problema é antigo, a exemplo de outros que precisam de solução”, diz o diretor da Associação Viver Bandeirantes, José Américo Mendicino, residente naquele bairro.
Além dos pernilongos e do mau cheiro crônico em determinados pontos da lagoa, os moradores podem ver uma nata de coloração verde na superfície do espelho-d'água, “resultado da sujeira e de esgoto carreado principalmente pelos córregos Sarandi e Ressaca”, diz Américo Mendicino. “Outro dia, passando na altura da Avenida Fleming, senti um cheiro muito forte de esgoto. O que acontece na Pampulha é que são feitas muitas ações, mas ninguém se interessa em saber a verdadeira razão dos problemas. É preciso um olhar clínico para resolver a situação. Até quando vamos ter que continuar gastando dinheiro público com questões que não se resolvem?”, pergunta.
Nos últimos dias, quem caminhou na orla pôde ver uma equipe da prefeitura a postos – o Estado de Minas registrou o trabalho nas proximidades do Parque Ecológico Francisco Lins do Rêgo. A Prefeitura de Belo Horizonte informa que os trabalhos de manutenção da Lagoa da Pampulha continuam normalmente. Em nota, os técnicos explicam que a Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) realiza, todo dia, a limpeza do espelho d'água. “O volume de lixo flutuante recolhido diariamente corresponde, em média, a cinco toneladas durante o período de estiagem e a 10 toneladas no período chuvoso. Trata-se de serviço de natureza continuada.”
Remediadores
A Prefeitura esclarece ainda que realiza o tratamento das águas da lagoa com o objetivo de inibir o processo de eutrofização (excesso de algas e maus odores) e a consequente promoção do reequilíbrio do ambiente aquático. Esse serviço consiste em tecnologia que combina a aplicação diária de dois remediadores. O serviço é fiscalizado pela Secretaria Municipal de Obras e Infraestrutura e também tem natureza continuada.
A explicação sobre os remediadores é a seguinte: um tem a função de degradar o excesso de matéria orgânica (Demanda Bioquímica de Oxigênio – DBO) e reduzir a presença de coliformes fecais (E. coli), enquanto o outro é capaz de promover a redução do fósforo e controlar a floração de algas. “Dessa forma, está sendo viabilizada a recuperação da qualidade das águas da Lagoa da Pampulha, com a inibição do processo de eutrofização e o reequilíbrio do ambiente aquático, que estará livre da proliferação de algas e com maior concentração de oxigênio.” (GW)