Um engarrafamento na estrada de terra Tangará, em Rio Acima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, registrado no último domingo (4), causou muitos transtornos aos moradores da cidade. A estrada é o principal acesso por carro para quem vai às cachoeiras do Viana e do Índio, as mais visitadas do Parque Nacional da Serra do Gandarela, e uma aglomeração de pessoas tem se formado nessas cachoeiras.
Rio Acima: moradores convivem com a invasão de turistas nos finais de semanahttps://t.co/3tzSgb1bfL pic.twitter.com/Ll2EOTrAME
— Estado de Minas (@em_com) October 6, 2020
Segundo a auxiliar administrativo Natália de Moura Sabino, essas aglomerações começaram no início de setembro. Antes disso, Rio Acima estava mantendo uma barreira sanitária e impedia o turismo na cidade. A partir do momento que houve a flexibilização em várias cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte, a prefeitura de Rio Acima também liberou o acesso. “Minha casa é muito próxima à estrada. Nos finais de semana, muitos turistas passam por ela, principalmente aos domingos e fica muito complicada a circulação dos moradores na cidade. Além disso, a estrada é de terra e levanta muita poeira. Minha sobrinha de nove meses teve uma alergia por causa disso, mas ainda bem que hoje está melhor” conta.
Para o operador de escavadeira Bruno Soares, o excesso de carros só piora a situação dos moradores. “Praticamente não temos estrada, ela está muito cheia de buracos e exige muita atenção de quem dirige nela. “O risco de acidentes é grande, muitas pessoas voltam bêbadas das cachoeiras e dirigem os carros na contramão, sem noção nenhuma de risco."
De acordo com a radialista e moradora do Bairro Água Limpa, Cleide Sabino de Brito, Tangará, Água Limpa e Palmital são lugarejos bem distantes do centro de Rio Acima e que atualmente estão muito movimentados. Esses locais dependem da estrada Tangará porque em seus vilarejos não têm um posto de saúde, nem hospital. “Imagina a situação da estrada com carros parados de uma e do outro e um morador passar mal. Tem uma moradora aqui que está grávida de oito meses e está com medo de entrar em trabalho de parto e a superlotação impedir que ela chegue ao hospital para dar à luz."
De acordo com o chefe do Parque Nacional da Serra do Gandarela, Tarcisio Nunes, as cachoeiras de Rio Acima são conhecidas há mais de 30 anos. Durante essas últimas semanas houve um aumento de fluxo turístico e há um início de esforço do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental responsável pelo Parque, para organização do território que já tem o uso turístico consolidado.
Ainda de acordo com Tarcisio, o parque foi criado por meio decreto emitido pela Presidência da República, em 2014, mas todas as terras do parque são particulares. O acesso às cachoeiras deve ser também de responsabilidade dos proprietários e eles têm tido dificuldades de assumir esse controle. “Conversamos com um membro da família proprietária das cachoeiras do Viana e do Índio e está disposto a fazer um teste, mas como ainda não teve essa experiência de gestão, como contratar funcionários, pedir licença na prefeitura, ainda há um receio, mas vejo uma boa vontade de ser implementado um estacionamento”, conta.
Gestão do parque
Segundo o chefe do parque, o Gandarela tem cerca de 200 entradas e trilhas de acesso. Só em Rio Acima são umas 20 maneiras diferentes de entrar no Parque. “Não adianta colocar apenas uma portaria que as pessoas vão buscar outro acesso. Por isso, a necessidade de uma ação conjunta entre Prefeitura, proprietários das terras, ICMBio, Polícia Militar e Guarda Civil.
De acordo com a analista do Parque, Priscila Silva, o ICMBio ainda não fez um estudo de caso sobre a quantidade limite de pessoas que podem frequentar o Parque, incluindo as cachoeiras do Índio e Viana. A equipe ainda está na elaboração do plano de manejo do Parque Nacional da Serra do Gandarela e após, será feito o Plano de Uso Público (PUP). “Como a equipe é reduzida, somos cinco no total para atender uma área equivalente a 31 mil campos de futebol, esse estudo vai acontecer na fase de longo prazo”.
Para a analista, a ideia é pensar algumas ações mais emergenciais focadas neste verão como controle de acesso, de restrição de circulação de veículos em áreas das cachoeiras e criação de estacionamentos. “As ações emergenciais são para abaixar a temperatura, mas fazem parte de um plano de curto prazo. Outras ações de médio e longo prazo também serão feitas para se ter o mínimo de manejo da área, de gestão, e partir daí fazermos recuperação de áreas, recuperação de nascentes, coberturas de pichações em pedras para enfim, proporcionar a experiência dos turistas mais agradável”.
Moradores
A auxiliar administrativo, Natália de Moura Sabino, acredita que muitos turistas preferem ir a Rio Acima por estar tão próximo a RMBH, e por isso, os moradores da cidade sempre receberam bem. “Não se pode proibir o ir e vir de ninguém, mas acredito que ainda não é o momento para relaxar da forma que está acontecendo, porque ainda estamos no meio de uma pandemia e não sabemos se pode vir uma nova onda de contágio e isso nos preocupa como moradores”, conta.
Segundo Tarcisio Nunes, Rio Acima é uma cidade pequena e, a equipe do ICMBio prefere o parque vazio nesse momento de COVID-19. “Até nas nossas redes sociais fizemos campanha para que as pessoas fiquem em casa e esperem o momento adequando, pois preocupamos com os moradores locais. As pessoas que vem para o Parque não pensam nos moradores das comunidades. Não é apenas uma preocupação ambiental, a nossa preocupação maior é com os vizinhos do parque."
Lixo
O calor que tem feito nas últimas semanas contribui com o mal cheiro do lixo deixado pelos turistas na estrada do Tangará e tem incomodado o operador de escavadeira, Bruno Soares, que afirma ver essas cenas todos os finais de semana. “Quem é responsável pelo lixo sabe o que está acontecendo e ainda não tomou providência”.
Para a radialista, a quantidade de lixo deixado pelos turistas é fora do normal. “Garrafas, latas de cerveja, roupas que as pessoas deixam pra trás e até carros com defeitos, os turistas deixam pra trás sem pensar que ali perto moram pessoas e estão poluindo o meio ambiente”.
De acordo com o chefe do Parque Nacional da Serra do Gandarela, Tarcisio Nunes, o público que frequenta, muitas vezes não quer cumprir regras. “A gente instalou placas educativas nesses locais falando sobre o lixo, sobre a preservação e as placas acabaram sendo depredadas, vejo que a resposta sobre a educação ambiental vai demorar pois há muito tempo que o parque existe sem gestão.”
Procurado pela reportagem, o proprietário da área onde estão localizadas as cachoeiras do Índio e do Viana não respondeu as perguntas.