Jornal Estado de Minas

FAUNA EM SOFRIMENTO

Chuva não põe fim à agonia dos animais, principalmente do lobo-guará



As chuvas deram uma trégua no fogaréu em Minas, mas a dor dos animais que vivem nos campos, no cerrados, na mata atlântica e outras áreas de biodiversidade não tem fim. As imagens do lobo-guará, queimado e se contorcendo em agonia, são muito mais do que um alerta: são um recado direto ao coração dos que insistem em pôr fogo no mato, fazer queimadas, limpar terrenos e dar fim ao lixo, nas esquinas, como se não existisse o vento para fazer as chamas se propagarem.



A filmagem foi feita no sábado (10), no distrito de Cajuru, em São João del-Rei, na região mineira do Campo das Vertentes. Pelo sofrimento do lobo-guará, fica evidente que a vida do animal não vale nem 1% da nota de R$ 200 que entrou em circulação há pouco e traz o animal como símbolo. Em alguns momentos, o canídeo parece pedir socorro e implorar a salvação.

Segundo o Corpo de Bombeiros de São João del-Rei, o animal foi encaminahdo para uma clínica veterinária.  

Lobo-guará foi escolhido para ilustrar a nota de R$ 200, lançada este ano (foto: Raphael Ribeiro/BCB)


Vendo a cena, ainda mais na véspera do Dia das Crianças, é impossível lembrar dos lobos-guarás recebendo o alimento da mão dos padres no Santuário do Caraça, em Catas Altas, na Região Central do estado. Quem já viu, principalmente a garotada, não consegue tirar a imagem da cabeça por longo tempo. Não só pelo ato tão curioso, mas também pela beleza do animal. 

Lobo se alimentando no Santuário do Caraça, em Minas Gerais (foto: Tiago Parreiras/Santuário do Caraça - 30/07/2020)
De acordo com informações do Santuário do Caraça, o nome científico Chrysocyon brachyurus significa “animal dourado de cauda curta”. Guará, na língua tupi, quer fizer “vermelho”. Com efeito, o lobo-guará tem o corpo dourado, patas e pelos da nuca pretos e a cauda, papo e um pouco do rosto brancos. É branco também o pavilhão das orelhas, que se movimentam como um radar, captando todos os sons e movimentos.





Vida silvestre


O lobo-guará é encontrado do Sul da Amazônia ao Uruguai, excetuando-se o litoral, picos de altitude e a mata atlântica. É canídeo por ser família do cachorro, do cachorro-do-mato, do coiote, do chacal, da raposa e dos lobos europeu, norte-americano e canadense – o Canis lupus. E é o maior canídeo da América do Sul, porque a fêmea mede 90cm e o macho 95cm, aproximadamente – e da ponta do focinho até a ponta do rabo 1,45m. As patas são altas para facilitar o movimento nos campos, já que é um animal do cerrado.

A presença dos lobos-guarás é uma das atrações do santuário em Catas Altas (foto: Tiago Parreiras/Santuário do Caraça - 30/07/2020)


Os pesquisadores dizem que o Chrysocyon brachyurus não é animal das matas fechadas, mas espécie campestre, que anda em estradas e trilhas e onde há campos com baixa vegetação. No Caraça, quem se dirigir ao Banho do Belchior, Pinheiros, Tanque Grande, Prainha, Cascatinha e Bocaina poderá ver com muita facilidade as pegadas do lobo-guará. São quatro dedos, sendo que os dois do meio são um pouco mais juntos, almofada e garras.

Estima-se que a espécie viva 16 anos, pese em média 25 quilos e ande 30 quilômetros por noite nas suas caçadas. Trata-se de um animal de hábitos noturnos, mais ágil ao entardecer e ao amanhecer. Durante o dia, fica descansando sobre a relva, deitando-se cada dia em um lugar, jamais em tocas. O Chrysocyon brachyurus é onívoro, portanto, come de tudo - dos pequenos animais, rato, gambá, coelho, coelho-do-mato, preá, cobra, sapo; das aves, jacu, saracura e outras. Por sinal, precisa dos pelos dos animais e das penas das aves para facilitar os movimentos peristálticos, da digestão. Gosta também de frutas, como a fruta-do-lobo ou lobeira, pêssego, maracujá, goiaba, etc. Além disso, é atraído por cheiros fortes, como o de frutas e comida apodrecendo.




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