Nos últimos dias, o caso da criança de um ano e meio que morreu após ser atacada por um cão da raça Chow-Chow chamou a atenção nas redes sociais. Por se tratar de um cão fofinho e peludo, muitas pessoas não esperam um comportamento agressivo do animal; mas, não se engane: tal qual um Rottweiler ou um Pitbull, o Chow-Chow também tem um instinto de cão de guarda.
"Não é que seja exatamente um instinto agressivo. É um animal reservado, principalmente com estranhos. Casos como esse são exceção, alguma coisa errada deve ter acontecido", comenta o médico veterinário e ex-professor da UFMG, Fernando Bretas. "É preciso ter cautela com o manejo do animal."
O Chow-Chow é um cão considerado de porte médio e de musculatura forte, conhecido por sua aparência semelhante a de um leãozinho e por sua língua de cor azul arroxeada. "Um cão de origem chinesa, originalmente criado para a obtenção de carne e de pele. Historicamente, nunca se teve um enorme cuidado com o temperamento do animal, que hoje é um pouco mais complicado", detalha Bretas.
Assim como os demais cães de guarda, é necessária uma cautela especial na relação com humanos. "É um cão de guarda que vai ter um comportamento mais agressivo com estranhos. Deve ser tomado todo o cuidado, principalmente com relação a crianças", conta. "E isso não só com o Chow-Chow, mas com o Dobermann, o Fila Brasileiro e todos os outros que têm essa característica".
Prevenindo acidentes
O médico veterinário comportamentalista Thiago Campos também ressalta o fato de frequentemente ser esperado um comportamento dócil do Chow-Chow em virtude de sua aparência. "Muitas pessoas compram porque parece um ursinho de pelúcia, sem saber que vai crescer e ficar forte. É preciso procurar uma orientação adequada antes de adotar para criar da melhor forma possível", relembra.
Os cuidados com o cão ainda filhote fazem toda a diferença para o comportamento enquanto adulto. "O Chow-Chow não foi criado pelo comportamento ou temperamento, como o Golden Retriever, por exemplo. É importante, desde filhote, fazer a dessensibilização, mostrar que o contato pode ser prazeroso, mostrar que não é uma ameaça", completa. "E que não seja uma educação repressiva, mas que o incentive e o premie a bons comportamentos".
Campos ainda ressalta que é importante ficar atento aos sinais de incômodo do cão. "Eles se comunicam por uma forma não-verbal que é muito importante. Quando não conhecemos, desrespeitamos sem querer. Precisamos ficar atentos para saber se está incomodado com determinada situação, porque chega uma hora que para ele fica insustentável e parte para o ataque", diz. "Por se tratar de um cão forte, com muita musculatura, pode provocar lesões sérias".
A chave está na comunicação. "Seja de raça ou sem raça, o efetivo é entender o comportamento do cão, suprir as necessidades. Criar uma comunicação efetiva entre os cães e o humanos, para haver harmonia", destaca. "As pessoas colocam as raças como vilãs quando, na verdade, a vilã é a desinformação".
Cuidados com crianças
O professor Fernando Bretas alerta para um cuidado especial com relação às crianças. "Poucas pessoas sabem, mas os cães são animais altamente míopes. Quando ele vê uma criança passando por perto, ele enxerga apenas um pequeno animal correndo na frente dele", esclarece. "Isso pode desencadear um comportamento não agressivo ou matador, mas, sim, um instinto de caça. Ele vê o outro animal correndo e o pega".
Além da questão da visão, o cuidado deve ser redobrado também por outras motivações. "É necessário manter afastado porque o cão pode enxergar como uma ameaça, por brincadeira ou até por ciúmes", exemplifica. "A criança chega perto de uma pessoa e ele ataca, seja por ciúmes ou por defesa".
Por isso, segundo o médico e professor, a orientação é não deixar o cão próximo a crianças, principalmente quando se é desconhecida. "Quando se trata de uma criança conhecida não há grandes riscos. Quando ele reconhece, é um bicho dócil", detalha.
Após a lesão
Em casos de lesões, a orientação é lavar a mordida com água e sabão e levar a um pronto-atendimento; a depender da gravidade, já procurar o médico imediatamente. "O prudente mesmo é deixá-lo longe das crianças", reforça Bretas.
O médico veterinário e professor ainda ressalta como é difícil evitar que isso se repita. "É instintivo. Se ele já tem esse temperamento, provavelmente fará de novo. Por isso, é importante ter cuidado", conclui.
Relembre o caso
No final da tarde do último domingo (11), uma criança de 1 ano e cinco meses de idade foi atacada e morta por um cão da raça Chow-Chow na Fazenda Patos, em uma região conhecida como Cachoeira do Paiol, na cidade de Frei Inocêncio, a 45 quilômetros de Governador Valadares, no Leste de Minas.
O médico plantonista informou que a menina chegou ao hospital com vida, mas com muitos ferimentos provocados pelas mordidas do cachorro, no rosto, pescoço, cabeça e na nuca. Apesar de todos os esforços do médico e enfermeiras, a menina morreu no hospital.
O pai da pequena contou aos policiais que ela tinha o costume de brincar sempre com o cachorro, dizendo que comprou o Chow-Chow há quatro meses. Ele supôs que o bicho tenha ficado agressivo por causa de um outro cão que apareceu na fazenda e o deixou agitado.
* Estagiário sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.