Jornal Estado de Minas

LESTE DE MINAS

Poluição do ar em Ipatinga leva pó preto para dentro das casas

O pó preto resultante das atividades industriais da Usiminas, em Ipatinga, continua causando transtornos para os moradores de áreas habitacionais próximas da usina. As reclamações desses moradores estão relacionadas à sujeira causada dentro de casa. Eles alegam que se deixarem as janelas abertas, o vento traz a poeira preta para dentro das casas e suja tudo.





Algumas donas de casa, que não quiseram se identificar, enviaram fotos e vídeos ao Estado de Minas, mostrando como fica o interior de suas casas com o pó depositado em móveis e eletrodomésticos. O advogado Plínio Robert Aguiar da Fonseca disse que é natural algumas pessoas não falarem abertamente e nem discutir prováveis danos à saúde causados pela poluição, porque, segundo ele, em Ipatinga tudo gira em torno da Usiminas, e de que alguma forma, a maioria tem alguma ligação com a empresa.

“As pessoas sabem que o problema existe e sofrem com ele. Muitas deixam o assunto preso, morto, aprisionado dentro de um sarcófago”, disse o advogado Plínio Fonseca, “vizinho de muro da Usiminas”, como ele afirma, no Bairro Iguaçu. “Tenho um fusquinha branco lótus, que é a minha paixão. Se eu lavar o fusquinha às oito da manhã, às duas da tarde, o carro vai ficar todo preto. Pra resolver o problema, passei a usar uma capa de proteção cobrindo todo o carro”, disse.

Plínio disse que a sujeira provocada pelo pó preto também já se tornou natural para outras pessoas, que só percebem o pó quando passam a mão em algum objeto em casa e notam que a mão está suja. “Às vezes nem vejo o pó preto nas plantas, mas quando a gente balança alguma planta na varanda da minha casa, dá pra ver o pó preto caindo no chão, incrível”.





Pesquisa indica melhora

A Usiminas reconhece o problema e afirma que a empresa tem tomado todas as providências para resolvê-lo. Informou que em agosto realizou uma pesquisa com moradores de Ipatinga, como parte das ações previstas no compromisso assinado pela empresa com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) em outubro de 2019.

O levantamento ouviu 1.140 moradores, de 12 bairros vizinhos à Usina de Ipatinga, e um dos pontos de maior destaque foi a avaliação dos moradores em relação à presença das partículas sedimentáveis, o chamado pó preto.

A Central de Monitoramento Ambiental acompanha as emissões atmosféricas advindas do processo produtivo da Usiminas (foto: Elvira Nascimento/Divulgação/Usiminas)
A pesquisa indicou que, nos últimos meses, houve um aumento de 12% da percepção de melhora em relação ao assunto. Mesmo com esse aumento, a Usiminas constatou que a poluição do ar e o incômodo em relação ao pó preto, seguem como principal reclamação, quando se fala em meio ambiente e poluição. 





Além dos compromissos firmados com o MPMG, a Usiminas informou que fez dois importantes investimentos de forma voluntária: a instalação da Rede Automática de Monitoramento de Particulado (Ramp) e a Central de Monitoramento Ambiental, que reúne em um mesmo local, o acompanhamento das emissões atmosféricas advindas do processo produtivo e também os resultados aferidos pelas redes de monitoramento de qualidade do ar e partículas sedimentáveis mantidas pela empresa em diferentes pontos de Ipatinga e da Usina.

No local, é realizado o monitoramento contínuo das chaminés da usina de Ipatinga e a checagem de toda a unidade com o apoio de mais de 30 câmeras e dos dados coletados pela nova rede interna. Já a Rede Automática de Monitoramento de Particulados (Ramp) é composta por 31 pontos destinados à captação de dados instalados no entorno do Pátio de Carvão, Coquerias, Sinterização, Altos-Fornos e Aciaria, que permitirão identificar as fontes das principais emissões na planta. A maior parte dos equipamentos é alimentada por energia fotovoltaica e os dados gerados são enviados on-line para o sistema de gestão.

“Ainda estamos trabalhando na qualificação do material coletado pela nova rede de monitoramento específica para esse material, o que irá nos indicar a contribuição das diversas fontes emissoras. Mas, sabemos que a Usina tem sua participação nesse total e estamos atuando de forma a reduzir, ao máximo possível, a emissão originada das nossas operações”, informa Américo Ferreira Neto, vice-presidente Industrial da Usiminas.

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