As chuvas da primavera chegam com intensidade em 2020, fazendo com que autoridades e moradores redobrem a atenção para as áreas de risco em Belo Horizonte e região metropolitana, localidades em Minas que, pelas características de solo e relevo, costumam sofrer com inundações e deslizamentos. Boletim divulgado no fim da tarde de ontem pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) alertou para pancadas de chuva forte hoje, acompanhadas de rajadas de vento e raio, na regiões Norte e Leste de Minas, com risco de provocar alagamentos e elevações dos níveis de rios.
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Moradores da região da Avenida Teresa Cristina, entre a capital mineira e Contagem, retiraram ontem os pertences das casas e começaram a rezar para não ocorrer o pior, as enchentes tão recorrentes e os deslizamentos. O vigilante Cléber Aparecido da Silva, de 46 anos, ao ver o resultado de deslizamentos na vizinhança, planeja o que fazer caso as chuvas, dos próximos dias, elevem o nível do Ribeirão Arrudas na Avenida Teresa Cristina.
“Depois da última temporada, que teve aquele desastre todo, estamos sempre apreensivos. A qualquer movimento de chuva, ficamos preocupados. Muita gente perdeu coisas. Perdi bastante aqui na minha loja: uma serralheria, máquina de solda e ferramentas. Muita coisa foi embora, muita perda”, recorda-se das chuvas do início do ano.
Fábio Reis da Costa também vive em área de risco. A Rua Sebastião Nascimento, esquina com a 14 de Julho, no fundo de sua casa, no limite dos bairros Buritis e Palmeiras, está cedendo. “Está assim desde o ano passado. Procurei a prefeitura, que alegou que é área particular. Mas não tem nada disso. A rua não está concluída”, afirma.
Relevo
O porta-voz do Corpo de Bombeiros, tenente Pedro Aihara, lembra que, em função das mudanças climáticas, a temporada chuvosa está bem marcada e que os riscos aumentam devido à topografia do estado. “Minas Gerais tem relevo predominante de mar de morro. Algumas regiões do Estado têm adensamento populacional muito grande. A composição de rocha do relevo aumenta a possibilidade de deslizamento”, afirma.
As rochas sedimentares sofrem com a ação da água, com tendência ao deslizamento e desmoronamento, maior do que verificado em outras regiões do país. O grande número de ocupações nessas áreas de encosta potencializam ainda mais o risco.
Quando as tempestades ocorrem repetidamente em um curto período de tempo, o solo fica saturado. “É nesse momento que o solo perde a aderência e acontecem os rompimentos”, destaca o tenente. Aihara alerta as pessoas que vivem nessas áreas para o risco mesmo quando as chuvas dão uma trégua. Aliás, são nesses momentos que costumam ocorrer os desastres.
As pessoas avaliam que podem voltar para casa em função de a chuva ter cessado, mas o solo está muito comprometido. O tenente reforça para que as pessoas fiquem atentas aos sinais de que um desabamento pode ocorrer: solo estufado, portas e janelas emperradas e rachaduras de 45 graus.
Outro alerta é em relação à cobertura vegetal em encostas. “A pessoa pensa que tem uma cobertura vegetal e está tranquilo. Mas depende do gênero plantado. Bananeira, por exemplo, deixa o solo mais suscetível ao deslizamento”, explica.
O tenente aconselha o uso de lona para cobrir barrancos e não deixar de fazer ajustes em alicerces que estejam apresentando problemas. “Devem aproveitar enquanto não estamos no ápice do período chuvoso para fazer esses ajustes e pequenas obras em casa que vão ajudá-las a passar melhor pelo período chuvoso.”
Treinamento
Em Belo Horizonte, o Corpo de Bombeiros firmou parceria com a Prefeitura de Belo Horizonte para identificar as áreas de risco e realizar treinamento com moradores para que possam identificar o perigo e mobilizar a vizinhança. A ação do Núcleo de Alerta de Chuva (NAC) e o Núcleo Comunitário de Defesa Civil (Nudec) tem apresentado bons resultados. “As iniciativas são para identificar as áreas de riscos e capacitar as pessoas que moram nesses locais por meio do Núcleo de Alerta de Chuva.
Os moradores são capacitados em atividades de primeiras respostas e também para a orientação dos moradores da região. Quando é identificado um desmoronamento, é estruturada, pelos bombeiros e prefeitura, uma rede de vizinhos, cada pessoa tem responsabilidade de ajudar outra, por exemplo, que tenha uma deficiência, avisar um determinado morador. Com isso estamos conseguindo resultados muito bons de prevenção de acidentes”, afirma o tenente Aihara.