Um ex-delegado regional de Polícia Civil de Varginha, no Sul de Minas, foi alvo do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), na manhã desta terça-feira (27). Wellington Clair foi preso suspeito de cometer crimes como lavagem de dinheiro, organização criminosa e usurpação de função pública.
A Justiça já bloqueou quase R$ 27 milhões, dele e de outros investigados, para pagamento de multa e dano moral coletivo.
Wellington estava lotado em São Gonçalo do Sapucaí, mas se afastou do cargo para concorrer à reeleição para vereador na cidade. “O investigado ocupou o cargo de delegado regional em Varginha, entre 2018 e 2019”, afirma release do Gaeco.
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Essa operação é continuação da Operação Êxodo 23, que começou no ano passado, para combater crimes no Departamento de Trânsito (Detran) em Varginha.
Segundo a Polícia Civil, a Operação Êxodo 23 teve duas etapas e prendeu cerca de 20 pessoas, entre funcionários do Detran e despachantes em Varginha e Elói Mendes.
As investigações mostraram o esquema da organização criminosa, que adulterava documentos de veículos leiloados.
“Na oportunidade, foi oferecida denúncia pela prática dos delitos de organização criminosa, corrupção passiva e usurpação de função pública”, diz Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco).
As investigações evoluíram e a partir daí o Gaeco descobriu que Wellington Clair estava no comando dessa organização criminosa. “O ex-delegado regional recebia, semanalmente, R$2,5 mil. Ele é um dos chefes junto com outro delegado de polícia. Tudo tinha o conhecimento e a participação dele. Inclusive, ele assinava documentos para facilitar e liberar veículos”, explica Igor Serrano, promotor de Justiça.
O Ministério Público determinou o sequestro de R$ 18 milhões para pagamento de multa e dano moral coletivo. “E de R$247.500,00 para devolução de valores fruto dos crimes de corrupção”, ressalta.
Corrupção e lavagem de dinheiro
O ex-delegado regional de Varginha também foi alvo da Operação Delta contra crimes de corrupção e lavagem de dinheiro em São Gonçalo do Sapucaí. O trabalho teve a participação do Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal e Receita Estadual.
De acordo com o MP, as investigações apontaram que o delegado utilizava do conhecimento e do poder para obter vantagens ilícitas. O caso veio à tona após uma operação do Ministério Público Federal para apurar sonegação de impostos no setor de cigarros.
“Ele chegou a intermediar diversas vendas de cigarro de um empresário da região. Até se comprometeu em tirar o cigarro ilegal, que vinha do Paraguai, que circulava no Sul de Minas, para colocar o cigarro do empresário em circulação no mercado”, afirma Fabiano Laurito, Gaeco.
O MP informou que o estreitamento, entre o empresário e o delegado, ficou explícito nas investigações: “Essa relação começou por interesse político e pela capacidade econômica do empresário. Dentro dessas vantagens ilícitas, temos viagens de avião custeadas pelo empresário, estadias em hotéis e diversas outras descritas na denúncia”.
Segundo o Gaeco, o empresário foi denunciado pelo crime de corrupção ativa. “Ele ainda não foi preso pois está colaborando com as investigações”, diz.
Além dessa relação com o empresário, a MP descobriu que Wellington também fazia vista grossa com o jogo do bicho na cidade. “Na época, ele era delegado em São Gonçalo do Sapucaí”, ressalta.
Durante essa operação, foram deferidos e expedidos mandados de prisão preventiva, busca e apreensão e sequestro de valores e bens no valor de R$ 9,5 milhões, pela 2ª Vara da Comarca da cidade.
Defesa do acusado
O Estado de Minas tentou falar com a defesa de Wellignton Clair, mas até o momento, não teve resposta.
A Polícia Civil, por meio de nota, informou que a Corregedoria-Geral está acompanhando as investigações na seara criminal e vai adotar as medidas necessárias à apuração na administrativa, observando os princípios constitucionais aplicáveis à matéria.
“A Polícia Civil não coaduna com qualquer desvio de conduta e o delegado de polícia no caso da Operação do Gaeco não atua como Delegado Regional desde março de 2020", diz nota.