Enquanto diversos países da Europa retomam medidas duras de isolamento social, inclusive o lockdown, para barrar uma segunda fase da COVID-19, cidades mineiras ampliam a flexibilização da quarentena mesmo diante do alerta de especialistas de que o Brasil ainda não superou nem sequer a primeira onda. Com a reabertura dos cinemas, Belo Horizonte dá mais um passo na liberação das atividades econômicas.
A decisão da Prefeitura de BH (PBH) se baseia no fato de a capital ter registrado números de casos de contaminação e de mortes provocadas pela COVID-19 proporcionalmente inferiores aos de outras capitais brasileiras. Também os indicadores de ocupação de 30% dos leitos de unidades de terapia intensiva COVID-19; de 25,5% de uso dos equipamentos em enfermaria, e a taxa de transmissão de 0,89 – de acordo com o boletim epidemiológico de terça-feira, o último divulgado pela Secretaria Municipal de Saúde – mostram o melhor desempenho de BH. Os dados de ontem mostram aumento da ocupação dos leitos de enfermaria e UTIs.
No entanto, o infectologista Unaí Tupinambás, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, alerta que a capital ainda não controlou a doença e não conseguiu zerar o número de casos. “Por essa flexibilização, não conseguimos chegar na planície, ou seja, o número zero de transmissão. A gente mantém o número de casos um pouco alto ainda. Não saímos da primeira onda e acredito que nem vamos sair, porque não vamos conseguir controlar a primeira onda”, afirma em relação à capital e ao Brasil.
A advertência é feita num momento em que a flexibilização e os indicadores mais baixos da COVID-19 têm levado os belo-horizontinos a retornar às ruas. Isso ocorre quando, segundo os especialistas, a capital corre os perigos das flutuações de casos de infecção com tendência de aumento. Dados do painel do coronavírus, balanço elaborado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), mostraram, na chamada semana epidemiológica de 26 de abril a 2 de maio último, que o isolamento social em BH estava em 45,36%, enquanto a média brasileira era de 44,33%. Na semana de 18 deste mês ao último sábado, o percentual de adesão à medida na capital caiu nove pontos percentuais, descendo a 36,30%, taxa semelhante à média brasileira, de 36,38%.
Situação de perigo no estado
O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, também chama a atenção para as flutuações com tendência de aumento no número de diagnósticos em todo o estado. “Estamos detectando em algumas cidades o aumento no número de casos, mas não chamaríamos de segunda onda”, afirma. Essa variação nos números, na avaliação do especialista, tem relação direta com os deslocamentos feitos pelas pessoas nos feriados. “As flutuações indicam muito da flexibilização, do relaxamento das pessoas, principalmente nos feriados. Não se pode achar que a pandemia acabou. Ainda estamos com flutuações da primeira onda”, diz.
Para considerar que a primeira onda foi superada é necessário que o número de contágios se mantenha próximo do zero por períodos longos. Na Europa, a distância temporal de uma onda para outra foi de quatro meses, por exemplo. A onda se caracteriza por um número de casos esperados em determinado período.
Essas fases sofrem flutuações. Em um dia, os números podem estar maiores e, no outro, menores. “Depois que a onda passa, os casos diminuem muito e a curva volta ao padrão anterior. Estamos dentro de uma flutuação dentro da primeira onda, com tendência de aumento em algumas cidades”, completa Estevão Urbano.
Unaí Tupinambás reforça que Minas tem cenários diferentes nas regiões. Na média, o estado apresentou grande número de registros de infecção, seguido de queda, mas, no entanto, continua em patamar elevado. “Saímos da planície, subimos a montanha, fomos para o pico, mas não voltamos para a planície. Estamos no planalto. O número de casos ainda é muito significativo.”
O infectologista lembra que os números de capital são melhores, mas não se pode relaxar. “O Rt (taxa de transmissão) é 0,89, mas isso não significa que controlamos a pandemia. O vírus continua circulando. Mais de 80% da população ainda é suscetível à COVID. Se relaxarmos muito, tivermos atitudes de risco, a gente pode aumentar o número de casos”, afirma.
Substancial
Apesar de os indicadores da COVID-19 em BH estarem todos na chamada zona de controle, a taxa de ocupação dos leitos de enfermaria da rede pública sofreu aumento considerável de terça-feira para ontem, ao sair de 39,9% para 49,8%. Os dados são do boletim epidemiológico e assistencial da PBH. Ainda que o crescimento tenha sido substancial na rede do Sistema Único de Saúde (SUS), a prefeitura também leva em consideração a rede suplementar (hospitais privados) para tomar decisões. Assim, a taxa geral de ocupação das enfermarias está em 28,2%.
Portanto, o indicador permanece na faixa controlada, a verde, abaixo dos 50%. Porém, houve crescimento também nesse parâmetro, já que no balanço anterior a ocupação era de 25,5%. Em relação aos leitos de UTI, a PBH computou leve aumento: de 30% para 30,2%.
Por isso, o indicador também permanece na zona controlada. Nos leitos de terapia intensiva da rede pública, a cidade registra ocupação de 48,3%.
Outro indicador fundamental para a tomada de decisões do Executivo municipal é o número médio de transmissão por infectado.
O chamado fator Rt permaneceu em 0,89 pelo terceiro boletim consecutivo. A situação só segue para a zona de alerta a partir de pontuação 1.
Epicentro da doença em Minas, a capital registrou ontem 1.474 mortes por COVID-19. O boletim epidemiológico e assistencial da prefeitura informa que nove óbitos pela doença ocorreram desde o último relatório, divulgado na terça-feira. A cidade tem 48.123 diagnósticos – diferença de 368 registros para o levantamento anterior.
Minas Gerais está perto de registrar 9 mil mortes provocadas pela COVID-19. De acordo com o boletim epidemiológico divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, foram notificados 44 óbitos em 24 horas, totalizando 8.916. O estado confirmou 1.915 novos diagnósticos em um único dia, alcançando a marca de 355.226 pessoas infectadas pelo vírus.
Mais de 4,95 mi de infectados
O Brasil registrou ontem 513 mortes provocadas pela COVID-19 em 24 horas, segundo dados de balanço do Ministério da Saúde. Com esse avanço, alcança 158.969 o número total de óbitos que a doença respiratória já causou no país. De quarta-feira para hoje, o Brasil notificou 26.106 novos diagnósticos, elevando o universo de pessoas infectados pelo vírus a 5.494.376. Desse total, 4.954.159 (90,2%) correspondem aos recuperados, segundo o ministério, e 381.248 (6,9%) àqueles ainda em acompanhamento. Existem 2.333 mortes sob investigação.
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
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Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
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Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
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