Na data em que a polícia comemorava 200 dias sem ocorrência de assassinatos no Aglomerado da Serra, um jovem de 23 anos acabou morto durante confronto com militares. O homicídio ocorreu na tarde dessa quinta (29) e, em resposta, os moradores da comunidade promoveram uma manifestação por justiça e contra a violência.
O protesto aconteceu no período da noite. Os manifestantes percorreram as principais vias do aglomerado com cartazes contendo frases de ordem e pneus queimados. Segundo os próprios moradores, a polícia também reprimiu o movimento.
"O que as pessoas viram foi que a polícia chegou atirando nele. Ele correu, mas acabou sendo acertado o pescoço", conta Cristiane Pereira, a 'Kika', líder comunitária do Aglomerado da Serra. "Acabou tirando mais uma vida. Esse não é o papel da polícia. É prender".
Procurada, a família do jovem assassinado preferiu não falar com a reportagem do Estado de Minas. Nas redes sociais, amigos e conhecidos lamentaram a morte dele.
"É uma revolta para toda a comunidade. Já é muito triste para uma mãe ter um filho na situação em que ele vivia (envolvido com tráfico), mas, agora, pior ainda: morto pela polícia, quem deveríamos confiar e fazer seu verdadeiro papel", comenta Kika.
Na visão da líder, a morte do jovem representa uma "volta à estaca zero".
"São várias ações que fizemos, com as lideranças comunitárias, com os projetos sociais, pra gente zerar esse índice de crimes e de homicídios. Quando a gente acha que está tudo bem e acontece uma coisa dessas a gente volta à estaca zero", salienta Kika. "Não é uma situação que a gente quer viver. A favela é lugar de paz, não de confrontos, como aconteceu ontem, cenário de Rio de Janeiro".
O confronto, segundo a Polícia
O confronto aconteceu na tarde dessa quinta-feira, por volta das 14h.
Segundo o boletim de ocorrência, os militares realizavam uma patrulha de rotina em local de atuação da facção conhecida como "Gangue da Igrejinha", a GDI. Os policiais avistaram o jovem em atitude considerada suspeita, típica movimentação de tráfico de drogas.
Ainda segundo a PM, o jovem fugiu quando percebeu a presença dos militares, que, por isso, realizaram um cerco para capturá-lo. As buscas foram realizadas em becos e vias próximas à Rua da Água.
O jovem foi visto pelos policiais com uma arma de fogo em mão, ao lado de mais dois homens. Ainda segundo os militares, foi dada a ordem para que os três deitassem ao chão e soltassem o revólver. A PM afirma que, apesar dos pedidos, eles desobedeceram mais de uma vez.
Em seguida, de acordo o BO, o jovem apontou a arma para um dos policiais, que atirou contra ele como forma de se defender da ameaça. Logo após o disparo, os três tentaram fugir.
Os outros dois jovens conseguiram escapar, mas o que apontou a arma para os policiais e levou o tiro caiu no chão poucos metros após a tentativa de fuga. Ele ainda estava vivo, foi socorrido e levado ao Hospital João XXIII. Lá, recebeu atendimento médico, mas acabou morrendo.
Os moradores do Aglomerado fizeram uma ofensiva contra os policiais durante o combate, ainda segundo o próprio BO. Os populares jogaram pedras e tijolos como tentativa de conter a ação dos militares.
Foi confirmado pela polícia que o jovem morto atuava na escolta da facção GDI. Ele tinha uma extensa ficha criminal e era envolvido firetamente com o tráfico. Nas redes sociais, pouco antes do embate, ele ostentava em uma foto uma arma semelhante à apreendida.
Por fim, a PM apreendeu uma arma 9mm Glock com numeração raspada, 18 munições do mesmo calibe e também 17 cartuchos também de munição Glock. O caso foi encaminhado para a 3ª Delegacia de Polícia Civil da Regional Centro-Sul.