Um estudo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) revelou os impactos da pandemia do novo coronavírus na vida dos motoristas de aplicativo em todo país. Pesquisadores do Observatório Social da COVID-19 utilizaram dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios COVID-19 (Pnad-COVID), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e notaram que no primeiro mês das medidas de distanciamento social, 36% desses trabalhadores estavam afastados do trabalho – ou seja, mais de um terço dos motoristas perdeu sua fonte de renda.
Apenas ambulantes, cabeleireiros, manicures, cozinheiros, garçons e professores apresentaram percentuais mais elevados de trabalhadores afastados em abril, segundo os pesquisadores.
Entre aqueles motoristas que continuaram nas ruas, a média de horas trabalhadas por semana, que era de 45, caiu para 20 em média. Trabalhadores de outras ocupações tiveram redução de 39 para 27 horas semanais de trabalho com a pandemia.
Entre aqueles motoristas que continuaram nas ruas, a média de horas trabalhadas por semana, que era de 45, caiu para 20 em média. Trabalhadores de outras ocupações tiveram redução de 39 para 27 horas semanais de trabalho com a pandemia.
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Cidade mineira diz que controla mortes da COVID-19 com kit de medicamentos; infectologista questionaSaúde suspende publicação de boletins da COVID-19 até terçaFlexibilização: cultura começa a retomar seu lugar na capital dos botecos"Segundo as Pnads, houve perda de 12% do rendimento dos trabalhadores desse setor entre 2015 e 2020, fenômeno agravado pela pandemia. Em abril de 2020, o rendimento médio dos motoristas equivalia a menos de 80% da renda média do trabalho no país”, continua a análise.
O Observatório Social da COVID-19 também constatou que apenas 8% dos motoristas tinham outra ocupação, o que indica a dependência da categoria em relação aos aplicativos de mobilidade.
Em relação ao vínculo com a Previdência Social, apenas 32% deles afirmaram contribuir para o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) no período. Dezoito por cento tinham nível superior completo.
Em relação ao vínculo com a Previdência Social, apenas 32% deles afirmaram contribuir para o Instituto Nacional de Seguro Social (INSS) no período. Dezoito por cento tinham nível superior completo.
Renda caiu pela metade
Vagner (nome fictício) trabalha como motorista de aplicativo há três anos e, com medo de represálias da plataforma, prefere não revelar sua identidade. Ee conta que de março a junho, período em que as medidas de isolamento social foram mais restritivas, viu seu faturamento cair mais da metade.
Relata ainda que, antes, conseguia receber até R$ 3,2 mil por uma jornada de até 10 horas de trabalho diárias. Com a pandemia, seus ganhos não passam de R$ 1,5 mil.
“A pandemia trouxe medo nas pessoas de sair de casa e, mesmo com várias medidas de higiene que tenho no meu carro, as corridas caíram demais. Teve dia de ficar o dia todo esperando por uma chamada. Às vezes, havia uma, duas. Até hoje ainda não consegui recuperar o que ganhava. Melhorou de agosto para cá, mas ainda está longe de ser como era”, confirmou o motorista.
Duas realidades
O projeto de pesquisa Novas sociabilidades na era digital, desenvolvido no Departamento de Sociologia da UFMG, tem acompanhado um grupo de motoristas de aplicativo em Belo Horizonte e traz mais detalhes dos impactos da pandemia sobre a atividade.
O monitoramento mostra que os profissionais entrevistados se depararam com duas situações distintas no início na pandemia. Quem dispunha de outras fontes de rendimento ou contava com alguém na família que conseguia manter a renda domiciliar parou imediatamente de trabalhar assim que foram decretadas as medidas de distanciamento social na capital, na semana do dia 18 de março.
Profissionais enquadrados no grupo de risco da doença ou que se sentiram ameaçados pela pandemia também pararam de trabalhar imediatamente. Segundo os pesquisadores, uma entrevistada chegou a relatar que teve várias crises de ansiedade que a impediram de sair de casa.
Outro grupo de motoristas afirmou que não podia cruzar os braços, pois dependia do trabalho com o aplicativo para sobreviver. Acrescentaram, assim, outra camada de risco ao seu dia a dia, já marcado pelos recorrentes relatos de incerteza financeira e violência.
Ainda segundo o levantamento, os motoristas afirmaram que foi necessário trabalhar mais horas para tentar auferir uma renda mais próxima possível do que recebiam antes da pandemia.
Os dados mais recentes do acompanhamento dos motoristas, referentes a outubro, revelam que muitos deles voltaram a trabalhar. Os rendimentos ainda dependem dos decretos sobre funcionamento do comércio e assim devem permanecer enquanto durar a pandemia.
Os dados mais recentes do acompanhamento dos motoristas, referentes a outubro, revelam que muitos deles voltaram a trabalhar. Os rendimentos ainda dependem dos decretos sobre funcionamento do comércio e assim devem permanecer enquanto durar a pandemia.
“Em síntese, tanto os dados das pesquisas domiciliares como o projeto de pesquisa desenvolvido na UFMG mostram as principais facetas do trabalho digital: sua enorme vulnerabilidade em relação a aspectos conjunturais, vivendo (os profissionais) uma situação em que se sobrepõem diversos níveis de insegurança, tanto em relação aos rendimentos quanto à segurança e, recentemente, quanto aos perigos de adoecimento. A contínua precarização das condições de trabalho que vem ocorrendo ao redor do mundo todo e que tem sido acelerada pelo trabalho em plataformas digitais parece ter ganhado um novo impulso com a pandemia do novo coronavírus”, concluem os pesquisadores.
Número crescente de trabalhadores informais
Apesar dos riscos, eles observam que o trabalho nas plataformas digitais, impulsionado pelas crises econômicas, continuará atraindo cada vez mais profissionais alijados de outros setores.
Segundo a Pnad 2011, havia 614 mil condutores de veículos para transporte particular que trabalhavam por conta própria no Brasil, número que se manteve praticamente estável até 2015, quando estavam registrados 643 mil trabalhadores na mesma condição.
Nos anos seguintes, com a chegada dos aplicativos de transporte, houve enorme crescimento do número de trabalhadores do setor.
Nos anos seguintes, com a chegada dos aplicativos de transporte, houve enorme crescimento do número de trabalhadores do setor.
Na Pnad-Contínua de 2019, havia 1,145 milhão de condutores de automóveis, caminhonetes e motocicletas que trabalhavam por conta própria, indicando aumento de mais de 500 mil trabalhadores no período.
Na Pnad-COVID referente a abril de 2020 foram contabilizados 1,124 milhão de trabalhadores por conta própria na categoria motorista de aplicativo, de táxi, de van, de mototáxi ou de ônibus.
Na Pnad-COVID referente a abril de 2020 foram contabilizados 1,124 milhão de trabalhadores por conta própria na categoria motorista de aplicativo, de táxi, de van, de mototáxi ou de ônibus.