Uma cidade vertical com 5 mil habitantes acomodados em duas torres com 1.086 apartamentos de 13 tipos “vai às urnas”. Enquanto Belo Horizonte se prepara para escolher, no dia 15, o prefeito que assumirá a administração municipal no próximo ano, no Conjunto Governador Kubitschek, mais conhecido como JK, na Região Centro-Sul da capital, só se fala na eleição para síndico. E não faltam polêmicas no processo, liderado pela síndica, Maria Lima das Graças, há 37 anos no comando dos prédios, tombados pelo patrimônio cultural da cidade e que abrigam uma população superior à projetada em 2019 para 223 municípios mineiros pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A síndica divide opiniões.
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Síndica que gerencia Condomínio JK há 37 anos é reeleita para mais um mandato Coronavírus: Minas ultrapassa 362 mil casos com 9.069 mortes no totalBH ainda tem alerta para chuvas intensas na manhã desta quartaEsse é o caso da tradutora Julieta Sueldo Boedo, de 48 anos, nascida na capital argentina, Buenos Aires, moradora de Belo Horizonte há 20 anos e desde 2015 condômina do bloco B do JK, na Praça Raul Soares.
Julieta integra uma chapa opositora – composta por quatro moradores e um síndico contratado – chamada "Nosso JK", que terminou ficando fora da disputa. "Estamos trabalhando na chapa de oposição pois logo vai completar 40 anos que é a mesma síndica. Não tenho problemas com ela, mas muitas coisas não funcionam bem. E mudar administração é democracia. É importante a alternância do governo para dar oportunidade para outras pessoas. Aqui temos artistas, advogados, arquitetos... Pessoas muito interessantes e capazes de ocupar o cargo", argumentou a argentina, que acredita não ter sido convocada por estratégia da síndica.
A tradutora conta que soube das eleições por outros moradores. Em seu apartamento nem mesmo a convocação da assembleia chegou. "Ela divulgou a assembleia na sexta-feira, véspera de feriado. Não estamos concorrendo porque não tivemos os dias para fazer movimento que precisamos para registrar a chapa", lamentou. Mas, mesmo com a chapa única, ela vai até a assembleia em tentativa de reivindicar as eleições em busca de melhorias dos dois prédios. "Temos o condomínio mais caro por metro quadrado, não temos área de lazer, não temos garagem. No projeto de Niemeyer, vemos a imagem de pessoas circulando pelas áreas comuns e parece mais moderno do que hoje", completou. Ela ainda relata problemas com o lixo e sugere fazer uma coleta seletiva no prédio. Além disso, reformular o cadastro para entrada de visitantes.
"Não adianta concorrer, ela sempre dá um jeito de ganhar. Perder, ela não perde", lamentou o morador Máximo Andrades, de 73, que vive há 37 anos no bloco A e prefere nem mais participar das assembleias do condomínio. Ele sustenta que o valor do condomínio é um dos problemas mais graves, mas sem solução. "Já me chamaram para me candidatar, mas não arrisco minha vida", afirmou. A julgar por relatos de moradores que preferiram não se identificar, as paredes de vidro do JK guardam mistérios e segredos. Os relatos apontam episódios de intimidação envolvendo quem tivesse tentando concorrer com a síndica: pneus furados, obstrução de fechaduras de portas e bilhetes intimidadores.
AMEAÇA Em junho, foram deixadas cartas em apartamentos que ameaçam divulgar uma lista com nomes de moradores que teriam denunciado irregularidades na instalação de grades no condomínio. "Ao que parece, chegaram outros aventureiros, dizendo-se salvadores da pátria do WhatsApp, agora com a ideia de resgatar o JK ao que era antes", dizia a carta. O bilhete diz ainda que o grupo atua com interesses "escusos”, na tentativa de “promover desordem” para desvalorizar os imóveis.
Moradores suspeitam que o bilhete tenha sido enviado pela própria síndica. Isso porque, no mesmo mês, a Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) concluiu o inquérito que apurou crime contra o Ordenamento Urbano e o Patrimônio Cultural referente à colocação de grades na rampa de acesso ao condomínio. A síndica e o gerente-geral do condomínio foram indiciados.
O trabalho investigativo teve início em abril, quando várias denúncias sobre a alteração do espaço físico do condomínio foram realizadas junto à Polícia Civil pelo Departamento Estadual de Investigação de Crimes Contra o Meio Ambiente (Dema). O laudo da perícia da Polícia Civil constatou uma alteração significativa em um aspecto do condomínio: uma grade que acompanha a rampa de acesso ao condomínio foi ampliada em cerca de 12,8 metros de comprimento. Moradores sustentam que não foram consultados quanto à instalação de grades.
ELOGIOS Mas, assim como em qualquer cidade, há eleitores satisfeitos com o regime estabelecido pelo administrador. Esse é o caso Maria de Lourdes Mourão, de 76. "É uma administradora muito boa. O prédio está muito bem cuidado e, em tempoEla é nota 10, cuida dos idosos e faz muita caridade"s de pandemia, fez uma ótima higienização. É muito difícil fazer esse trabalho e ela gosta", contou. Ela não deve comparecer à assembleia, mas disse que votaria na Maria Lima das Graças. ", completou.
O Estado de Minas tentou contato com a administração do condomínio, mas não teve retorno até o fechamento desta edição.
Aglomeração e sujeira na volta do feriado
A volta do feriado de Finados provocou grandes aglomerações no Terminal JK, na Região Centro-Sul de BH. Mesmo com a pandemia ainda em curso, centenas de passageiros desembarcaram de vários ônibus durante toda a madrugada e manhã e ontem. A concentração de veículos e pessoas é recorrente, com maior intensidade nos feriados prolongados. Não havia qualquer fiscalização. Dentro do terminal, centenas de pessoas se aglomeravam, algumas sem máscaras, aguardando transporte para suas casas. Sem banheiro aberto ao público, a via pública e as pilastras do terminal e do bloco B do Edifício JK, situado na Rua dos Guajajaras, em frente ao terminal, serviam de locais para aliviar as necessidades fisiológicas de passageiros e motoristas de táxi e aplicativos.
Em nota, a Prefeitura de Belo Horizonte informou que a Guarda Municipal realiza patrulhas preventivas, espontaneamente, em todos os dias da semana, por toda a cidade, o que inclui a Região Centro-Sul, onde está localizado o Terminal JK. Quanto à situação de embarque e desembarque de passageiros, a nota diz tratar-se de transporte intermunicipal e que a "competência de fiscalização cabe ao DEER”. O trânsito na região foi monitorado pela BHTtrans.
Também por meio de nota, a administração do condomínio do Conjunto JK afirma entender as reclamações sobre o excesso de barulho nos embarques e desembarques realizados no Terminal JK, principalmente em horários noturnos e retornos de feriados, mas esclarece que é “apenas o locador das lojas ocupadas pelas empresas de turismo que operam no local e não tem nenhuma responsabilidade quanto à fiscalização do trânsito ou dos próprios veículos e empresas”. (EG)