Quatro décadas se passaram entre o julgamento, em 1979 e 1981, de Doca Street, acusado do assassinato da também mineira Angela Diniz, em Búzios em 1976, e o julgamento, em setembro, do empresário André de Camargo Aranha, acusado de estuprar a influenciadora digital Mariana Ferrer, de 23 anos, durante uma festa em Santa Catarina.
No entanto, as teses jurídicas seguem culpabilizando as mulheres. É o que aponta o Movimento Feminista Mineiro Quem Ama Não Mata (QANM), que divulgou nota de posicionamento. O movimento convoca para manifestação em apoio à Mariana Ferrer no dia 7 de novembro, às 15h, na Praça Sete, no Centro da capital mineira. Outras manifestações estão sendo convocadas em todo o Brasil.
As imagens do julgamento online realizada pelo Tribunal de Justiça de Santa Cantarina foram divulgadas pelo The Intercept, gerando manifestações de repúdio ao comportamento do juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis, do advogado Cláudio Gastão da Rosa Filho e do promotor Thiago Carriço de Oliveira. O movimento considerou a audiência uma "cena de tortura e humilhação", um "tribunal da inquisição".
"Uma cena de tortura e humilhação de uma jovem tentando valer seus direitos, reparar na Justiça os danos morais e psicológicos de um estupro. Mas o que se vê, no vídeo vazado da audiência, são homens coniventes entre si, comportando-se como se estivessem num tribunal da Inquisição"
O movimento apontou que houve conivência dos que participaram da audiência no tratamento ofensivo dado à vítima. "O advogado do agressor, ofendendo e dando 'graças a Deus' por não ter uma filha 'como ela'. O promotor, reforçando as acusações baseadas no suposto comportamento da vítima. E o juiz, em seu silêncio conivente e abjeto."
A nota lembra que a vítima pediu ajuda ao juiz, mas não foi atendida. "Também se vê Mariana Ferrer implorar, entre lágrimas (que foram
ridicularizadas), respeito e observância das provas apresentadas por
ela de que houve estupro. Mas só recebe daqueles 'homens da Lei'
mais julgamentos misóginos."