Centenas de pessoas — mulheres, em sua grande maioria — ocuparam Belo Horizonte, na tarde deste sábado (7), para gritar contra a violência sofrida pela catarinense Mariana Ferrer durante o julgamento do homem acusado de estuprá-la, em 2018. Em uma caminhada que foi da Praça Sete, na Região Central da cidade, até a Praça da Estação, cânticos e palavras de ordem foram entoados.
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Caso Mari Ferrer: Grupos convocam protestos nas redes sociais; ato em BH será neste sábado'Estarrece', diz ministra sobre caso Mari FerrerCaso Mari Ferrer: Procurador de SC sugere mudanças na lei para proteger vítimaBares e casas noturnas de BH terão que auxiliar mulheres em situação de risco Duas pessoas ficam feridas após trator invadir casa em Sabará, na Grande BHNas vozes, a indignação com o tratamento dado pelo advogado Claudio Gastão da Rosa a Mariana, de 23 anos. Os insultos são tão fortes que fazem a jovem ir às lágrimas e clamar por uma intervenção do juiz, Rudson Marcos.
“Não vamos aceitar nenhum retrocesso e nenhum direito a menos. A busca é constante por lutar contra o machismo, a cultura do estupro, o feminicídio e todas as violências que enfrentamos no dia a dia: violência doméstica, institucional, como no caso da Mari, abusos, estupros e assédios de todas as ordens”, disse a professora de geografia Kelly Assis, 34, presente ao ato em BH. Ela compõe um dos movimentos que ajudou a organizar a passeata na cidade.
Para Maíra Elisa Oliveira, maquiadora de 22 anos, o caso de Mariana despertou revolta e indignação. Por isso, ela fez questão de sair às ruas para protestar mesmo ante a pandemia do novo coronavírus. “Deixaram uma mulher ser violentada, machucada e ferida.
Movimento de apoio a mulheres
Presentes ao movimento acreditam que o vídeo das ofensas proferidas em juízo pode fazer com que outras mulheres sintam-se encorajadas a contar suas histórias. “Essa é uma das nossas lutas, para que essas mulheres não se calem. Há muitas mulheres que aguentam caladas problemas como estupros e assédios, com medo da exposição negativa, pois as vítimas acabam sendo culpabilizadas. Nossa luta é para que essas mulheres ganhem coragem para trazer tudo à tona. Estamos aqui para acolhê-las”, afirmou Kelly Assis.A jovem Carolina Vitória, de 17 anos, é uma das criadoras da versão belo-horizontina página Na rua por Mari Ferrer, movimento que impulsionou a organização das passeatas em várias cidades brasileiras. Segundo ela, em menos de uma semana, o endereço virtual da organização já recebeu diversas denúncias de abusos. “Várias mulheres entraram em contato relatando abusos sofridos na infância e, até mesmo, no trabalho e na escola. Nosso movimento mobilizou muitas a terem voz”.
O ato foi, também, para prestar solidariedade à adolescente que engravidou do tio no Espírito Santo. A gestação precoce da jovem de 10 anos foi fruto de estupro e, mesmo ante amparo legal para a realização do aborto, ela precisou passar pelo procedimento em Pernambuco. Por lá, conservadores e extremistas religiosos se reuniram em frente ao hospital para impedir a interrupção da gravidez.