Calor e chuva são a combinação perfeita para a proliferação do Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya. Em 2020, Minas Gerais teve quase 57 mil casos confirmados de dengue, num universo de registros prováveis que passam de 82 mil. Nos últimos 40 dias – os primeiros da estação chuvosa no Sudeste, que vai até março e propicia a proliferação do vetor –, foram confirmados 1.343 casos. Em Belo Horizonte, já são 4.565 casos de dengue neste ano e a prefeitura faz ações de combate. Autoridades alertam para que os cuidados com a pandemia do novo coronavírus sejam estendidos também para a consciência de limpeza nos espaços em casa que podem acumular água parada.
Em 2020, Minas Gerais registrou 82.328 casos prováveis (total dos notificados menos os descartados) de dengue. Desses, 56.720 casos foram confirmados laboratorialmente para a doença. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). A doença não deve ser minimizada, já que pode levar à morte. Segundo o último boletim, divulgado na terça-feira, 12 pessoas morreram no estado em decorrência da dengue este ano. Outros 57 óbitos estão em investigação.
A professora Erna Kroon, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (ICB-UFMG), explica que o clima em que a Região Sudeste do país começa a entrar é problemático para as doenças associadas ao mosquito. “Estamos em período de temperatura e umidade que são condições excelentes para que o mosquito se reproduza. Temos dengue o ano todo, mas esse período é de alto risco para a transmissão”, disse a especialista.
A professora ressalta que não há como prever como será o comportamento das doenças causadas pelo mosquito nesta temporada, mas lembra que o inseto não precisa de muito espaço para proliferar, por isso é necessário que a população faça o monitoramento. “O alerta que temos que ter é para o controle do vetor (o Aedes), porque ele não transmite somente a dengue, mas também a zika e a chikungunya. E os cuidados devem ser reforçados mesmo em um momento em que a pandemia do novo coronavírus passa a ser o principal problema”, comenta.
E as medidas de prevenção já são conhecidas: eliminar água armazenada de locais que podem se tornar possíveis criadouros, como em vasos de plantas, galões de água, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem uso e sem manutenção, e até mesmo em recipientes pequenos, como tampas de garrafa. Em Belo Horizonte, a prefeitura reforça o trabalho de conscientização e vigilância em saúde para tentar evitar o aumento de doentes.
PREVENÇÃO NA CAPITAL
Dados mais recentes da Secretaria Municipal de Saúde mostram que, até 29 de outubro, foram confirmados 4.565 casos de dengue em BH e uma pessoa morreu após contrair a doença. Há ainda 1.129 casos notificados pendentes de resultados das análises laboratoriais. Outras 12.290 notificações foram investigadas e descartadas.
Cláudia Capistrano, gerente de Operações de Campo da pasta, conta que os trabalhos de vigilância não pararam mesmo durante a quarentena, já que, segundo ela, 80% dos focos do Aedes são encontrados em residências. “Com a pandemia, tivemos uma adequação. Deixamos de entrar em imóveis de pessoas de risco, mas não de fazer a orientação nesses imóveis. Esse trabalho educativo junto ao morador é de extrema importância porque normalmente os criadouros estão dentro das casas”, disse.
A secretaria monitora a ocorrência de casos de dengue e das outras arboviroses transmitidas pelo mosquito por meio de análises epidemiológicas e mapas de intensidade de casos. “O trabalho nos preocupa mais neste momento, porque a chuva favorece o aumento do número de criadouros. Por isso, o recomendado é que de três em três dias as pessoas façam a limpeza de possíveis focos”, ressalta Capistrano.
A gerente de operações de campo faz o apelo de responsabilidade social para toda a comunidade. “O vetor está na nossa casa. O cuidado é diário. Não se pode colocar no poder público essa responsabilidade. Tem que ter o olhar de cuidado para sua família e vizinhos”, pede Cláudia. “Acho que a pandemia trouxe muito esse apelo de cuidado. É esse sentimento que a COVID-19 trouxe para nós, da importância que temos como ator, que faz mudança, que queremos. Estamos entrando em um momento que requer da gente um zelo maior, que deve ser diário”, conclui.
OUTRAS DOENÇAS
As enfermidades transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti (dengue, chikungunya e zika), também conhecidas como doenças flavivírus, não deixam de acometer pacientes. Em relação à febre chikungunya, Minas Gerais registrou, neste ano, 2.550 casos prováveis da doença. Desses, 1.461 foram confirmados e três óbitos estão em investigação.
Em BH, foram notificados 43 casos e confirmados 34. Há nove casos em investigação para a doença. De acordo com a PBH, em todos os locais com suspeita de casos de chikungunya a Secretaria Municipal de Saúde intensificou as ações de combate ao vetor, como uma estratégia para evitar a propagação da doença.
Já em relação à zika, Minas teve 413 casos prováveis desde janeiro. Destes, 135 foram confirmados para a doença. Em BH, foram 54 casos notificados, mas todos terminaram descartados.