Chegam ao fim uma longa novela ligada ao passado de Belo Horizonte e a incerteza quanto ao futuro de um imóvel considerado símbolo da Região Centro-Sul da capital.
Com a conclusão da obra de restauração da Villa Rizza, na Avenida do Contorno, 4.383, entre as ruas do Ouro e Pouso Alto, no bairro Serra, a cidade – que completa 123 anos em 12 de dezembro – tem recuperada parte do seu patrimônio e valorizado trecho tradicional da paisagem urbana.
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“O trabalho contemplou os jardins nos fundos e da frente do imóvel, com plantio de 180 metros de grama”, diz, com satisfação, o diretor da empresa, que, por atuar no setor, cuidou de todos os detalhes do bem, tombado pelo município desde 1993. No local do antigo posto de combustíveis, onde havia painéis homenageando artistas do Clube da Esquina, estão hoje as bandeiras do Brasil e de Minas.
Destacam-se também as figuras, com frases, de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes (1746-1792), e dos ex-presidentes da República mineiros Afonso Pena (1847-1909), de Santa Bárbara, e Juscelino Kubitschek (1902-1976), de Diamantina. Uma faixa mostra a confiança no país: “Nós acreditamos no Brasil. Acredite você também”.
Vistoria
A Secretaria Municipal de Cultura informou que equipe da Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público da Fundação Municipal de Cultura esteve no imóvel para fiscalização. Em nota, a assessoria informou que “observou-se que a edificação foi pintada em um tom de verde diferente do anterior e que o telhado também recebeu pintura”. O proprietário será notificado para regularização, com o reforço da informação de que as intervenções no edifício tombado devem ser precedidas de aprovação do Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural. “Para regularizar a situação, o proprietário deverá apresentar um memorial descritivo das intervenções realizadas e a Diretoria de Patrimônio Cultural e Arquivo Público avaliará se são passíveis ou não de permanecer como estão.”
O diretor da empresa responsável pela obra sustenta que não houve alterações na estrutura e cor da construção, continuando tudo como o original: “Fizemos apenas manutenção”.
Abandono e pichações fazem parte do passado
Alvo de sucessivas matérias no Estado de Minas, diante de sua importância histórica e localização nobre, a Villa Rizza foi durante bastante tempo retrato do abandono, deixando tristes vizinhos e pessoas que passam pelas vias de grande movimento nas imediações. Havia mato alto dominando o jardim e pichações subindo pelas paredes. Em 11 abril de 2018, um trabalhador desabafou: “Se eu ganhasse na Mega Sena, compraria esta casa. É muito bonita. Alguém tinha que, pelo menos, capinar o terreno”.
Erguida na década de 1920, a Villa Rizza já foi residência de família, restaurante, espaço de eventos e café. Desde 2005, quando a construção foi recuperada, a Petrobras Distribuidora se tornou a proprietária do imóvel, onde chegou a manter um posto de combustíveis com temas alusivos à música mineira. Conforme matéria publicada pelo EM em 21 de setembro de 2017, a edificação foi a leilão em 30 de agosto do ano anterior, com lance mínimo de R$ 4,65 milhões, mas não houve comprador.
Na época da compra pela Petrobras, o projeto de restauro foi aprovado pela Prefeitura de BH e Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, e contemplava as linhas originais da casa, até mesmo na cor verde que a caracterizava.
Túnel do tempo
A história da Villa Rizza começa no fim da década de 1920, quando o major Antônio Zeferino da Silva comprou uma porção de terra entre a Avenida do Contorno e as ruas do Ouro e Pouso Alto, encomendando a arquitetura a Humberto Hermeto Pedercini Marinho. Já o nome do imóvel foi uma homenagem à neta do proprietário, Rizza Porto Guimarães.
Considerada pelos especialistas uma vitória para o patrimônio da capital, pois envolveu um ano e três meses de negociações, a aquisição foi comemorada. Para muitos belo-horizontinos que passavam pelas avenidas do Contorno ou Getulio Vargas, de onde se vê o imóvel de frente, era desolador ver a construção, uma sobrevivente no meio dos edifícios, sem um destino certo e caminhando a passos largos para a degradação.
Dona Rizza
Em janeiro de 2004, uma das herdeiras do bem, Rizza Porto Guimarães, então com 80 anos, falou sobre a situação do imóvel. Quando a venda da casa onde passou grande parte da sua vida se concretizou para a Petrobras Distribuidora, ela se declarou “feliz e aliviada”. O nome Villa Rizza, até hoje escrito em alto-relevo na fachada, foi uma homenagem feita décadas antes à senhora de cabelos brancos, mãe de três filhas e avó de sete netos, que chegou a Belo Horizonte, vinda de Leopoldina, na Zona da Mata, aos 7 anos. Na época, comentou: “Acho muito importante que a casa seja mantida. Afinal, ela conta um pouco da história da cidade”.