Um casarão colonial de Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha, ganha vitalidade para contar histórias, os feitos da região e a trajetória das sucessivas famílias ali residentes desde o século 18. Localizado na Praça Doutor Badaró, no Centro da cidade distante 514 quilômetros de Belo Horizonte, o imóvel que pertenceu ao inconfidente Domingos de Abreu Vieira e depois aos Badaró, com destaque mais recente para o senador e ministro Murilo Badaró (1931-2010), abrigará o Memorial das Terras do Fanado. O projeto de lei criando o equipamento cultural foi aprovado, por unanimidade, pela Câmara Municipal de Minas Novas.
Leia Mais
Patrimônio de Ipatinga, Estação Pedra Mole será reaberta nesta quinta-feiraPerto do bicentenário, Jubileu de Nossa Senhora da Saúde vira patrimônio imaterialTiradentes restaura patrimônio histórico em meio à pandemia da COVID-19Ovo é 'arrematado' quatro vezes e gera renda de R$ 2 mil em leilão em MG PM licenciado é suspeito de espancar médica após briga de trânsitoChuva causa estragos em Valadares e Mergulhão é interditadoCOVID-19: Valadares e Leste de Minas regridem para a onda vermelhaCOVID-19: Caratinga ultrapassa a marca de 2.000 casos confirmados"É uma honra para nossa família ver o solar se tornar memorial", orgulha-se o economista e ambientalista Murilo Prado Badaró, filho de Murilo Badaró, explicando que o imóvel tombado foi cedido ao município em regime de comodato sem ônus para os cofres públicos. Ele cita os antepassados que viveram no local, a exemplo do bisavô Francisco Coelho Duarte Badaró (1860-1921), eleito deputado federal constituinte para a primeira Assembleia Nacional Constituinte (1891-1893) do país.
"Como juiz de direito da comarca, foi responsável pelo primeiro voto feminino do Brasil ao convocar as professoras Alzira Nogueira Reis, Cândida Maria dos Santos e Clotilde de Oliveira e qualificá-las como eleitoras". Murilo cita ainda seu avô, Francisco Badaró Júnior (1917-1970), formado em medicina no Rio de Janeiro em 1917 e que regressou à terra natal para exercer a profissão.
"Como juiz de direito da comarca, foi responsável pelo primeiro voto feminino do Brasil ao convocar as professoras Alzira Nogueira Reis, Cândida Maria dos Santos e Clotilde de Oliveira e qualificá-las como eleitoras". Murilo cita ainda seu avô, Francisco Badaró Júnior (1917-1970), formado em medicina no Rio de Janeiro em 1917 e que regressou à terra natal para exercer a profissão.
ACERVO Segundo a chefe do departamento Municipal de Cultura, Irene Barbosa Sena, a expectativa é de que memorial seja inaugurado em meados de 2021, pois, junto à conclusão de reparos no telhado, pintura e outros serviços, será fundamental formar o acervo a ser exposto. Se o memorial terá como objetivo contar e salvaguardar a memória de Minas Novas, irá também contar a história de parte dos vales do Jequitinhonha e Mucuri. "Nosso município, nascido em 1727, era muito extenso e foi desmembrado ao longo do tempo. Pertenceram a Minas Novas dezenas de municípios, entre eles Teófilo Otoni, Monte Azul, Pedra Azul, Medina Salinas, Novo Cruzeiro e outros", afirma.
Em nota, a Prefeitura de Minas Novas, via Secretaria Municipal de Cultura, Turismo e Comunicação, informa que vai organizar, inventariar e captar doações de peças, livros e documentos históricos, "assumindo o compromisso de conservar e preservar a edificação e seu acervo.
História
Conforme pesquisas, Minas Novas recebeu uma forte influência dos cristãos-novos portugueses, que lá chegaram por ocasião do Ciclo do Ouro e da rica mineração na região. A cidade era também popularmente conhecida como Vila dos Fanados, que significa “mutilados ou circuncidados, e também degredados”, devido à relevante presença dos cristãos-novos. "Na época da colonização do Brasil, muitos foram “degredados” (somente com a alcunha de degredados) para a colônia, simplesmente por serem contrárias aos dogmas da igreja católica e os termos da santa inquisição católica. Eram os cristãos-novos e os criptojudeus.Na Bandeira de 1674, Fernão Dias Paes Leme e sua comitiva – formada por diversos cristãos-novos - chegaram ao Vale do Rio Jequitinhonha, nas proximidades de onde hoje é a cidade de Araçuaí. É por onde corre o rio Fanado, pequeno afluente do Rio Araçuaí, que por sua vez é o principal afluente do Jequitinhonha.
Naquelas terras, o bandeirante achou que tinha descoberto o que procurava, as decantadas pedras verdes, as cobiçadas esmeraldas. "Entretanto, encontrara as não menos belas, porém menos valiosas turmalinas.
Por volta de 1727, um grupo de bandeirantes chefiados por Sebastião Leme do Prado localizou a ocorrência de ouro em um dos afluentes do Rio Fanado que, por essa razão, recebeu o nome de Bom Sucesso. A notícia de grandes jazidas atraiu os faiscadores. Entre o Rio Fanado e o seu afluente Bom Sucesso, formou-se o primeiro núcleo populacional, em torno de uma capelinha, erigida em homenagem a São Pedro. Assim nasceu o Arraial de São Pedro do Fanado, que rapidamente prosperou, recebendo, dois anos depois, o título de Vila do Bom Sucesso do Fanado de Minas Novas.
Dialeto
Há também em Minas Novas um dialeto somente usado naquela região com o nome de Dicionário do Fanadês, falado ainda hoje por alguns por alguns moradores. O dicionário foi publicado há 10 anos pelo Instituto Sociocultural Vale Mais, que cuida de preservar as tradições do Vale do Rio Jequitinhonha, na qual está inserida o Rio Fanado e as cidades de Minas Novas e Francisco Badaró.