Os médicos de UTI’s de hospitais públicos e privados de Belo Horizonte divulgaram, nesta quinta-feira (19), uma carta alerta sobre o aumento de casos graves de COVID-19 na capital.
De acordo com os médicos intensivistas, o aumento de casos nas UTI’s confirma uma “percepção subjetiva de todos os sinais de alerta que tivemos nos últimos dias”. Na carta, eles relatam que a pressão vivenciada no sistema pode ser convertida em mortes.
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Os médicos também alertam que este ainda é um “um forte sinal que estamos enfrentando um recrudescimento da primeira onda da doença”. Segundo eles, a capital mineira ainda não vive uma segunda onda como em muitos países.
“Tecnicamente, não é a segunda onda, como em alguns países, pois não tínhamos ainda saído da primeira onda, já que não conseguimos atingir um número baixo de casos novos que nos permitisse, por exemplo, considerar a volta às aulas das crianças”, explica a carta.
O risco de uma segunda onda do vírus assusta a população. Isso porque, nos últimos três dias, o número de internações de infectados graves aumentou em 20%.
Veja a carta na íntegra:
“Depois de 13 semanas consecutivas de queda progressiva no número de leitos de UTI ocupados por pacientes COVID com queda de 555 para menos de 200. Depois observamos mais 3 semanas seguidas de relativa estabilidade. Entretanto, nesta última semana notamos um aumento rápido e preocupante de 20% no número de pacientes COVID em terapia intensiva e de 23% no número de paciente COVID em ventilação mecânica.
Esse aumento observado foi de 197 para 236 pacientes internados em leitos de isolamento para COVID-19 nas UTIs de Belo Horizonte e aumento de 115 para 142 do número de pacientes mais graves e em ventilação mecânica por causa da doença.
Esses números confirmam a percepção subjetiva de todos e os sinais objetivos de alerta que tivemos nos últimos dias com aumento do número de atendimentos nas salas de emergência de quadros respiratórios febris agudos,aumento rápido do número de casos novos confirmados por exames nos laboratórios, piora do índice de transmissão da doença, para níveis de RT acima de 1,1 que não eram observados desde julho.
Esse é um forte sinal do que estamos enfrentando um recrudescimento da primeira onda doença. Tecnicamente não é a segunda onda como em alguns países, pois não tínhamos ainda saído da primeira onda, já que não conseguimos atingir um número baixo de casos novos que nos permitisse, por exemplo, considerar a volta às aulas das crianças.
Assim, é absolutamente essencial retomarmos o esforço coletivo de ampliar a adoção das medidas preventivas capazes de reduzir a transmissão da doença, voltando todos ao nível de empenho e cuidado que já tivemos antes, quando conseguimos derrubar os números críticos da doença (casos novos, leitos ocupados, mortes por dia) para um terço do que foram no pico.
É importante observar que no pico chegamos a ter 20 mortes por dia por COVID-19 na cidade e que nas últimas semanas tínhamos conseguido baixar esse número para cerca de 5 mortes por dia. Se falharmos e deixarmos voltar aos números que observamos no pico em julho, estaremos condenando 15 pessoas à mais a morrer por dia, por falta de adesão a medidas que já sabemos serem eficazes e possíveis de serem implementadas. Todos sabemos que uma dessas pessoas poderá ser alguém querido e próximo a nós.
Então não custa relembrar a importância das medidas preventivas
Medidas de responsabilidade individual:
1. Manter distância de pelo menos 1 metro e meio das outras pessoas
2. Usar máscara de forma correta, sobretudo quando fora de casa
3. Higienizar as mãos com água e sabão ou com álcool gel sempre que necessário
4. Evitar tocar o rosto
5. Evitar ou limitar o tempo de permanência em espaços fechados com muita gente
Medidas de responsabilidade coletiva:
1. Fazer campanhas sobre a importância dessas medidas
2. Disponibilizar testes para todos os casos, mesmo para os casos leves e testar os contatos dos casos confirmados
3. Garantir quarentena dos casos suspeitos e isolamento dos confirmados
4. Cuidar para que todos os ambientes de uso público sejam bem ventilados ou com filtragem de ar
5. Garantir que quando alguma vacina eficaz e segura estiver disponível, que seja rapidamente disponibilizada para todos com critérios claros e corretos de prioridade
6. Garantir assistência médica adequada para todos, tanto na rede de atenção primária, nas emergências, nos hospitais e nas unidades de terapia intensiva.
Enquanto isso, nós médicos e demais profissionais da terapia intensiva continuaremos na nossa missão de salvar o máximo de vidas dos pacientes que chegam a precisar de terapia intensiva. Temos orgulho de que até agora não ocorreram mortes por falta de cuidados de terapia intensiva em nossa cidade.
Gostaríamos de ter certeza que todos vão fazer sua parte enquanto nós continuamos fazendo a nossa.”