Em marcha pelo Centro de Belo Horizonte, os participantes do protesto convocado após a execução de um homem negro em uma loja do Carrefour em Porto Alegre (RS) ocuparam, na tarde desta sexta-feira, uma unidade da rede de supermercados. Os manifestantes tomaram, por cerca de 10 minutos, o espaço do estabelecimento anexo ao Shopping Cidade, na Rua São Paulo.
Sob fortes palavras de ordem, o ato pede punição aos executores de João Alberto Silveira Freitas. Ele foi mortos por segurança do Carrefour. Durante o tempo dentro da unidade do supermercado, os manifestantes entoaram cânticos como "Um, dois, três, quatro, cinco, mil: ou parem o genocídio ou paramos o Brasil".
Depois, eles deixaram as dependências do Carrefour do Shopping Cidade e passaram a protestar em frente ao supermercado. Antes, o grupo já havia obrigado a unidade situada entre a Rua Goitacazes e a Avenida Afonso Pena a fechar as portas.
Por volta das 16h50, o grupo entrou no Shopping Cidade. Os manifestantes tomaram os corredores do centro comercial ao grito de "fogo nos racistas".
Presente ao protesto, a deputada estadual Andréia de Jesus (Psol) questionou a postura do presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo. Embora comande um órgão governamental voltado à promoção da igualdade, Camargo tem minimizado a existência do racismo em solo brasileiro.
“Ele precisa explicar que crime é esse, praticado no supermercado, à vista de todos. Naturalizar a morte daquele homem é a prova cabal de que o Brasil vive, ainda, o modelo colonial, e que a abolição é incompleta”, disse.
Depois, o grupo seguiu em direção à Praça Sete de Setembro, no Hipercentro. Lá, decidiram rumar ao Carrefour do Bairro Floresta, na Região Leste da cidade.
Após longa caminhada ocupando as avenidas Amazonas e dos Andradas, os manifestantes chegaram ao local por volta das 17h30. As portas já estavam fechadas e foram pintadas, pelo grupo, com marcas de mãos com tintas vermelhas.
Os manifestantes acabam de invadir o Carrefour do Shopping Cidade, no centro de BH pic.twitter.com/V3lX8zCdLT
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No fim do ato, os manifestantes lembraram que o dia de conscientizar sobre a luta negra é todo dia. “A luta é constante. Esse protesto é porque a gente não aguenta mais essa covardia que estão fazendo com a gente. O protesto é pelas nossas vidas. Eu posso ser o próximo morto. A gente não aguenta mais”, disse o empreendedor Anderson Henrique, de 38 anos, que caminhou com um cartaz em manifesto à rede de supermercados.
Durante o trajeto da manifestação, muitas pessoas apoiaram o movimento, já outras reclamaram da intervenção no trânsito e da aglomeração formada pelos protestantes em um cenário de pandemia do novo coronavírus.
“Os empresários questionam sobre o isolamento social quando encontram os grupos se manifestando, mas não se lembram que os próprios funcionários pegam ônibus lotados todos os dias para que as empresas não parem de funcionar. Triste onde a pandemia é sempre um caos mas é mal vista quando encontram corpos negros manifestando. Estamos em busca de voz e respeito”, defendeu o estudante de direito Alan Rodrigues, de 26.
Entenda o caso
O homem foi espancado e morto por dois homens brancos no estacionamento do Carrefour Passo D'Areia, na zona norte da capital gaúcha . Informações preliminares apontam que um dos agressores é segurança do local e o outro é um policial militar temporário que fazia compras no local. Seguem as investigações. Ambos foram detidos.
Em Porto Alegre, uma manifestação em frente ao supermercado está prevista para esta sexta, às 18h.