Mesmo com a opção de manter o comércio aberto em Belo Horizonte, os infectologistas que integram o Comitê de Enfrentamento ao Coronavírus na capital fazem novamente um apelo para que as pessoas sigam as medidas de isolamento orientadas no início da pandemia. Com base nos indicativos do município (taxas de transmissão por infectado e ocupação de leitos), a prefeitura optou por manter a flexibilização das atividades, embora tenha advertido que poderá fechar a cidade a qualquer momento - mantendo apenas os serviços essenciais.
Leia Mais
Kalil prega respeito à COVID-19 e diz que 'baderneiros' podem ser presos; entendaCOVID-19: Itajubá confirma mais três mortes pela doença, 15 a mais que em Poços de Caldas COVID-19: Valadares amplia de 48 para 58 os leitos UTI COVID-19 pelo SUSUFMG busca voluntários para pesquisa sobre saúde mental; saiba como participarCOVID-19: Hospital Madre Teresa atinge limite de ocupação e suspende atendimentosCOVID-19 em BH: leitos têm leve queda na ocupação, mas taxa de incidência sobeCOVID-19: Em Sete Lagoas, Museu Histórico faz 50 anos e lança tour virtualA PBH autorizou que o comércio funcione nos próximos três domingos para se beneficiar das compras do Black Friday e também de Natal. Mas o médico Estevão Urbano alerta que Belo Horizonte vive um cenário perigoso acerca do crescimento de casos e mortes.
"Essa abertura é justamente para diluir as compras, para que as pessoas não se aglomerem e obviamente diminuam a chance de transmissão cruzada no comércio. Agora, por outro lado, estamos vivendo momento decisivo em relação à possibilidade ou não de termos que adotarmos medidas rígidas, inclusive fechamento. Belo Horizonte tem que defender um legado construído durante a pandemia de ser uma das capitais com o menor número de mortes por 100 mil habitantes", afirma o infectologista.
Ele volta a frisar que o comitê adotará as medidas que são necessárias para preservar a vida dos belo-horizontinos: "A pandemia continua e a ciência continua sendo o carro-chefe do prefeito em relação à orientação das condutas. O comitê não abrirá mão de recomendar medidas que valorizam a vida em primeiro lugar".
Carlos Starling chamou a atenção das pessoas que já tiveram o vírus, mas que deixam de manter os cuidados com a doença: "Tenho dito há bastante tempo que a pandemia não é para sprintista. E sim para maratonista, ou seja, de longo prazo. Temos que exercitar tudo o que fizemos: distanciamento, isolamento, higiene, fundamentalmente usar máscaras. E um aspecto que não contávamos com ele e não é boa notícia: a possibilidade de nova infecção. Aquelas pessoas que tiveram quadros brandos e que acham que estão livres não estão liberadas. Não sabemos o tamanho desse problema, mas certamente já foi comprovado. A partir dos três meses, a corrente de anticorpos na corrente sanguinea cai de forma progressiva e não sabemos o papel da imunidade celular na proteção".
Saúde em colapso
Unaí Tupynambás lembrou que a expansão da COVID-19 ocorre simultaneamente ao aumento das demais enfermidades, que trazem colapso para o sistema de saúde: "Esse momento é mais tenso do que a primeira fase em março. Temos visto pressão no sistema de saúde de outras doenças crônicas não transmissíveis. Diabete, hipertensos, renal e pessoas com doenças no pulmão. Com a pandemia, o controle dessas doenças fica prejudicado. E agora essas doenças estão cobrando, com maior risco para elas. Isso tudo aumentou durante o segundo semestre. E agora temos as doenças de virose, que chegam agora com o verão, como dengue, zika e chikungunya. E mais o trânsito é quase normal. Tem impacto quase normal nos acidentes. O SUS está sendo bombardeado por várias doenças".
Segundo ele, o fechamento das atividades pode ser a solução para o controle das taxas de ocupação de leitos e da saúde em geral na cidade: "A população está cansada. Ela banalizou e perdeu o medo, o que fez aumentar a taxa de transmissão. Muitos jovens não impactam na assistência, mas levam a doença para os mais idosos. Começa a ter um impacto. A ação tem de ser rápida. Numa semana, o sistema entra em colapso. Na questão do fechamento, ele pode ser amanhã. Podemos começar por esses lugares de transmissão mais intensa, como butecos, bares, restaurantes, igrejas e academias".
Sem viés político
Estevão Urbano lembrou que a abertura ou o fechamento da cidade não tem a ver com o período das eleições. Ele garantiu que, se a cidade tivesse aumento de casos e mortes fora do normal, o comitê não teria medo de adotar medida mais enérgica: "O comitê é absolutamente técnico, sem conotação política. O contágio aumento um ou dois dias antes das eleições. Foi apenas uma coincidência. Se tivéssemos que chamar essa reunião antes da eleição, não teria nenhum impedimento para que houvesse prejuízo de A, B ou C. Flexibilizações, viagens, feriados e o cansaço da população coincidiram com o aumento dos casos em todo o país".
O secretário municipal de Saúde, Jackson Machado Pinto, completou o pensamento de Urbano: "Ciência não pode ser influciada por pensamentos políticos, ideológicos, partidários ou religiosos. Nenhum de nós tem viés nesse sentido".