Proprietária da casa mais ameaçada pelo In Cairo, edifício erguido em Betim que tombou em 17 de novembro, Luciana Silva assiste a uma espécie de filme de suspense nesta quinta-feira (26). Ao menos é assim que a dona de casa de 42 anos descreve a demolição do prédio, que ela acompanha ao lado da filha e do marido desde 11h, a partir da sacada da residência de um vizinho.
Os golpes dados pelas escavadeiras na construção geram visíveis sobressaltos na família, que contempla a cena abraçada. Apesar do medo, eles fazem um esforço de serenidade. "Nesse momento, quem segura a minha casa é a mão de Deus. E, se eu tiver mesmo que perder tudo o que eu tenho, peço a Ele que me ajude a aceitar a situação", diz Luciana.
A dona de casa mora há 13 anos no Bairro Ponte Alta, onde o In Cairo está localizado. O imóvel dela fica na Rua Ronie Peterson, numero 490, logo atrás da edificação. A moradora, suas duas filhas e o companheiro estão na casa de amigos desde o dia 17. Na saída do lar, não puderam levar qualquer pertence, já que a Defesa Civil orientou a remoção das 15 famílias ameaçadas pelo desabamento o mais rápido possivel.
Luciana se queixa de falta de assistência da construtora responsável pelo prédio e teme ficar no prejuízo caso sua residência seja abalada pela demolição. "Ninguém da construtora veio me perguntar nem se eu precisava de um copo d'água. É um desrespeito", revolta-se.
Segundo avaliações cautelares da Defesa Civil, ao menos 18 imóveis do entorno do edifício In Cairo podem ser afetados pela demolição. O órgão informou que realizará a vistoria de cada um deles após a conclusão dos trabalhos da demolidora. Os moradores que ficarem desabrigados, num primeiro momento, receberão auxílio da prefeitura de Betim. A Abrahim Hanza Construções Eirelli ainda não informou como pretende assistir esse público.
Duas escavadeiras hidráulicas trabalham na derrubada da construção, equipadas com braços de 22, 15 e 16 metros. O desmanche do edifício está sendo realizado de forma mecânica em pequenos pedaços, de cima para baixo. A expectativa é de que, nesta quinta, a demolidora consiga desintegrar ao menos dois andares do prédio, afastando assim o risco de colapso. Estima-se que o serviço será concluído em 48 horas.
O Edifício In Cairo, que estava fase de acabamento, tombou após forte temporal na Grande BH. A estrutura tinha 6 pavimentos com um total de 12 apartamentos, dois por andar. Conforme certidões registradas no Cartório de Registro de Imóveis ede Betim, obtidas pelo Estado de Minas em 20 de novembro, a maior unidade tinha 170 metros quadrados e foi vendida na planta por R$ 280 mil.