Jornal Estado de Minas

Crimes violentos caem menos em outubro, mas retração na pandemia é recorde

Puxados pelo comportamento de afastamento da população durante a pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), os índices de crimes violentos tiveram nova queda, menos brusca do que já se registrou neste ano, mas ampliando uma tendência de redução que vem desde 2017.



De janeiro a outubro de 2020, os crimes considerados violentos caíram 33,78% com relação ao mesmo período do ano passado, de 58.237 para 38.562 registros. O mês de outubro, contudo, teve a quarta menor queda no comparativo mês a mês anual, atrás de maio (-47%), abril (-42%), julho (-41,7%), agosto (41,3%) e setembro (-36%), com um patamar de redução de 33,4%, já bem próximo de março, mês do início das medidas de isolamento e que fechou com 30% menos crimes violentos.

Antes da pandemia, a redução mensal média ano a ano era de 24% e a mais brusca queda tinha sido registrada no comparativo de agosto de 2017 com o mesmo mês de 2018, com 32% menos ocorrências.

Os chamados crimes violentos são um indicador que soma as ocorrências de homicídio consumado e tentado, extorsão mediante sequestro consumado, sequestro e cárcere privado consumado e tentado, estupro consumado e tentado, estupro de vulnerável consumado e tentado, roubo consumado e tentado e extorsão consumado e tentado. Todos os índices tiveram queda, menos as tentativas de extorsão, crimes que por si reflete a ação policial para impedir o crime.

Ladrão é preso por policiais depois de ter roubado loja em BH. Roubo é o principal componente dos crimes violentos (foto: PMMG)
Apesar disso, como já abordado pela reportagem do Estado de Minas, os crimes violentos têm uma relação direta com o número de roubos. Só neste ano, essa modalidade teve 28.789 ocorrências registradas, o que representa 63% dos registros da criminalidade violenta. No comparativo com o período de janeiro a outubro de 2019, quando houve 45.686 roubos, a redução foi de 37%.



o se observar a sazonalidade, os roubos apresentam um comportamento de ampliação acima do costumeiro, mesmo em meio à pandemia. Levando em consideração os últimos três anos, o mês de setembro deveria ser de queda de índices em comparação a agosto, mas ocorreu um aumento pequeno, de 2,2%. No mês seguinte, a tendência de 12% de ampliação foi maior neste ano, chegando a 19,3%. O mesmo ocorreu em Belo Horizonte, que apresentou ampliação de registros de 13% de setembro para agosto, quando a média era de 7%, e de 21,6% de outubro para setembro, sendo que o corriqueiro seria 14%. Na Grande BH o salto foi de uma média de 8% para 27,8%.

Para o especialista em Inteligência de Estado e Segurança Pública, coronel Carlos Júnior, o efeito da pandemia é inegável na redução dos índices de criminalidade violenta. “A pandemia diminuiu a frequência das relações sociais. Não se saiu com a mesma assiduidade para padarias, supermercados e açougues, não se foi a cinemas, bares e boates. Isso reduziu com toda certeza os índices de crimes perpetrados em áreas públicas”, avalia.

Por outro lado, o coronel destaca que o trabalho policial pode investir em uma repressão mais qualificada nesse período usando ferramentas que permitem antecipar as necessidades de combate aos criminosos. “A polícia Militar age se norteando pela gestão de desempenho operacional, que nos permite medir os resultados de nossas estratégias mês a mês, dia a dia, em cada fração operacional. Os bons números deste ano são o reflexo de um trabalho com resultados operacionais satisfatórios. O efeito disso é trazer um clima de segurança social”, afirma.



O especialista em segurança pública lembra também que há outros indicadores não presentes nos relatórios de crimes violentos e que mostram um trabalho que trouxe mais segurança neste ano. “Houve um bom desempenho também em taxas de apreensões de armas de fogo e taxas de repressão imediata aos crimes. Isso tudo reflete na prevenção aos crimes violentos”, salienta Júnior.

Operação no Triângulo Mineiro prendeu mais de 00 suspeitos (foto: 37º BPMMG)
Por fim, o especialista destaca uma rede de policiamento e de monitoramento que tem trazido à queda sistemática desde 2017. “São feitas reuniões comunitárias, operações de Lei Seca, prevenção de crimes ambientais e uma efetividade do disque denúncia unificado, que precisa ser destacado”, disse.

De acordo com a Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp), considerando todo o interior, 634 municípios - o equivalente a 74,33% do total - não registraram homicídios, mantiveram ou reduziram os índices na comparação com janeiro a outubro do ano passado.



“O índice de homicídios, além de ser um importante indicador da criminalidade, é o menos impactado pelo período de distanciamento social. Outros indicadores de destaque são os dados de furto e de estupro consumados, que permanecem em queda em Minas, tendo registrado redução de 22,41% e 24,85%, respectivamente. O índice de estupro de vulnerável consumado também caiu significativamente no Estado, com diminuição de 20,46% nas ocorrências em 2020”.

O crime violento considerado mais grave é o homicídio, que teve retração em Minas Gerais de 5,3%, passando de 2.151 ocorrências em 2019 para 2.037 neste ano, sendo que a quantidade de vítimas caiu 5,2%, de 2.221 para 2.106. A proporção de óbitos por crimes se manteve a mesma, de 1,3 mortos por ocorrência registrada. Em Belo Horizonte, além do recuo de registros de 286 para 253 (-11,5%) e de vítimas, de 298 para 261 (-12,4%), a proporção também caiu, de 1,4 para 1,3, alcansando a média estadual.

Já na Grande BH, apesar da queda de ocorrências de homicídios de 492 para 463 (-5,9%), e de vítimas de 512 para 493 (-3,7%), observou-se uma elevação dessa proporção, de 1,4 para 1,6 vítima por crime registrado. Os dois municípios da Grande BH com mais vítimas por ocorrências são Ibirité (1,13) e Betim (1,09). De acordo com o especialista em Inteligência de Estado e Segurança Pública, coronel Carlos Júnior, isso pode ser um indicativo de ação de quadrilhas e gangues em acertos de contas entre rivais.

 





audima