O Mercado Central é considerado a "praia" dos mineiros e, todo sábado, tradicionalmente, os clientes têm encontro marcado nos bares e restaurantes do comércio em rodas de amigos, familiares e turistas em busca de boa conversa e petiscos sempre regados a um bom trago da bebida favorita.
Neste sábado (5/12), o hábito se manteve, mas o tom foi de despedida já quem a partir de segunda-feira (7/12), a venda de bebidas alcoólicas nestes estabelecimentos está proibida.
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Luiz Carlos Braga, superintendente do Mercado Central há 30 anos, disse que depois da reação animada com a flexibilização, o recuo é um balde de água fria nos planos de todos. “Desde setembro, com licenciamento da PBH, os bares de passagem (com balcão estreito) foram liberados para atender fora do mercado, que passou a ser chamada da ‘praia do mineiro’. Estavam indo bem, em recuperação. Infelizmente, o número de casos da COVID-19 aumentou e o que fizemos foi reunir com todos, comunicar o decreto e, a partir de segunda-feira, tudo parado de novo. A praia acabou. Venda de bebidas só para levar para casa. Todos lamentamos muito porque todos têm conta para pagar, funcionários, inúmeras despesas e voltarão ao sufoco de junho”.
Conforme Luiz Carlos, os bares e restaurantes são atrativos do Mercado Central, uma das forças do turismo. São 14 estabelecimentos (seis servem fora do centro comercial) que funcionam das 10h às 19h e que, novamente, não sabem como sobreviver: “O que mais apavora os comerciantes é a dúvida. Quando vão voltar? Quando a situação vai normalizar? Podem fazer plano? Podem estocar? A angústia é enorme e estamos a 20 dias do fim de ano, época forte, de movimento e tudo é uma incógnita. Véspera de Natal e Ano Novo são datas importantíssimas, o Mercado Central é um lugar de encontro e, agora, não sabemos”.
Eliza Fonseca, a Lora, há 16 anos com o Bar da Lora, um dos mais disputados do mercado, desabafa: “Estou apavorada. Deste a notícia do decreto, não consigo dormir. Foram oito meses fechado, negociando dívida, pagando funcionário, agora tem o 13 salário, lido também com a expectativa do cliente e tudo parede desmoronar novamente”.
Eliza Fonseca, a Lora, há 16 anos com o Bar da Lora, um dos mais disputados do mercado, desabafa: “Estou apavorada. Deste a notícia do decreto, não consigo dormir. Foram oito meses fechado, negociando dívida, pagando funcionário, agora tem o 13 salário, lido também com a expectativa do cliente e tudo parede desmoronar novamente”.
Aflita, Lora revela que a saída é buscar a calma: “Estou vivendo cada dia, um dia. Além de tudo relacionado ao negócio, também preciso encarar a preocupação de pegar o vírus, de ter funcionários doentes e o que posso fazer é levantar diariamente e agradecer a Deus e pedir saúde e sabedoria para saber passar por tudo isso”. Ela conta que tinha 15 funcionários, número reduzido para 8, sendo obrigada a contratar freelancer no fim de semana.
Um garçom, que não se identificou, ao ver a reportagem do Estado de Minas disse: “Pelo amor de Deus, que nos deixem trabalhar. Ontem (sexta-feira, 4/12), passei a noite com dor na nuca, tenho conta para pagar, a cesta básica não chega com um litro de leite, como vamos fazer?”
José de Freitas, do Bar Zé da Onça, já 30 anos no Mercado Central, estava indignado e sem saber o que o futuro lhe reserva: “É difícil aceitar o novo decreto. As coisas estão difíceis, precisamos trabalhar, pagar aluguel, ainda que com desconto de 70%, o dinheiro só sai de onde entra. Estou muito preocupado, despesas demais, tem o condomínio para pagar com o bar fechado, funcionários, 13 salário, não estão fácil. Como ter esperança se está cada vez pior?”
CLIENTES PENSAM DIFERENTE
Há clientes que concordam com o decreto da PBH fechando bares e restaurantes e outros que criticam. Na mesa dos amigos Marcus Teixeira, de 55 anos, administrador; César Damázio, de 54, funcionário público; e Marcelo Pena, de 55, gerente administrativo, todos apoiam a decisão do gestor municipal.
“Até demorou a tomar a medida. E acredito que a culpa é dos comerciantes que abusaram, não souberam aproveitar a flexibilização. Acho justo porque o pico de contaminação do vírus tem de ser avaliado e só aumenta, com alta na ocupação de leitos da rede particular”, destaca Marcus.
Para Marcus Teixeira, não faz sentido a revolta de comerciantes ou clientes. “Os clientes mais inconformados, aliás, são os mais jovens. Mas tenho uma filha de 20 anos e, ao contrário de muitos, ela também concorda coma decisão do prefeito. A culpa é realmente dos gestores do comércio, o prefeito está correto”.
Já as amigas Karem Felipe Batista, de 37 anos, servidora pública, e Carmelita Lúcia, de 40, também servidora pública, discordam do novo decreto. “È um retrocesso. Não creio que a proibição de venda de bebidas nos bares e restaurantes vão impedir a aglomeração, já que as pessoas estão se reunindo em casa, em eventos particulares. Aqui no Mercado Central, estou em local aberto, com ventilação, distanciamento, tomando todas as medidas, medindo temperatura, álcool em gel e me sinto segura para tomar minha cerveja. A decisão não vai amenizar nada. Não é uma estratégia correta para frear a contaminação do vírus”, enfatiza Karem.
Para Carmelita, voltar atrás na flexibilização não resolverá situação: “Fechamento não é a medida mais adequada, mas sim a fiscalização. A partir do momento que as regras sanitárias são cumpridas, com distanciamento, como aqui no Mercado Central, é possível manter o comércio aberto. Vai afetar ainda mais a economia”.
Carmelita alerta que “pior do que eu estar sentada aqui no bar é entrar no ônibus lacrado, lotado, sem ar-condicionado ou com ar, sem saber se está limpo, higienizado mesmo. E, quer saber, as pessoas vão aglomerar em casa para beber”.
Carmelita alerta que “pior do que eu estar sentada aqui no bar é entrar no ônibus lacrado, lotado, sem ar-condicionado ou com ar, sem saber se está limpo, higienizado mesmo. E, quer saber, as pessoas vão aglomerar em casa para beber”.
De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, a proibição da comercialização de bebidas é essencial neste momento para evitar o lockdown do comércio no período de maior faturamento. A PBH seguirá o monitoramento. O comportamento dos cidadãos e a disseminação do Sars-Cov-2 determinação o relaxamento das medidas ou fechamento total dos bares e restaurantes.
O secretário municipal de saúde, Jackson Machado Pinto, já declarou ao Estado de Minas que o relaxamento se impôs acelerando novas medidas restritivas, já que muitos também passaram a frequentar festas clandestinas e ao consumir bebidas alcóolicas, seja em festas, bares ou restaurantes, muitos acabam descartando o uso das máscaras e se aglomeram depois sejam em postos de gasolina e lojas de conveniência até de madrugada. Um alto risco de trasmissão.
O VILÃO
A Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG) lançou nota questionando a medida da PBH. Entre as pontuações, o presidente da entidade, Matheus Daniel, disse na nota que "compreende que bares de algumas regiões da capital mineira estão desrespeitando os protocolos. Ciente disso a associação iniciou há uma semana campanhas de conscientização dos estabelecimentos e clientes com o objetivo de contribuir com o trabalho da prefeitura." E afirmou ainda que "o recente crescimento da taxa de transmissão da COVID-19 na capital mineira pode estar atrelado às aglomerações registradas durante ao período pré-eleitoral".