Jornal Estado de Minas

PEDRA-SABÃO

Esculturas gigantes dão boas-vindas no trevo de Santa Rita de Ouro Preto

Ouro Preto - Aos visitantes, um convite: entrem, conheçam e fiquem à vontade. Aos moradores, especialmente os mais jovens, o chamado para valorizar a arte e descobrir, por meio dela, um caminho profissional. No trevo de entrada do distrito de Santa Rita, em Ouro Preto, na Região Central de Minas, duas esculturas indicam a “capital mundial da pedra-sabão” e destacam a matéria-prima que fez a glória de muitos artistas do Barroco  no século 18, entre eles o maior: Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1738-1814).





Trabalhando várias horas por dia, o filho da terra Fábio Dias, de 39 anos, finalizou a peça de 5 metros de altura, pesando quase 18 toneladas e chamada “Escultor” para homenagear o ofício dele e dos conterrâneos. Ao lado, o colega Rulielber Moreira Ferreira, de 49, concluiu uma obra abstrata, com 3,10 metros incluindo a base.

Satisfeito com o resultado do trabalho iniciado há cinco anos – primeiro como iniciativa da Associação dos Moradores de Santa Rita e depois incorporado a um projeto da Prefeitura de Ouro Preto –, Fábio Dias acredita que o monumento dará as boas-vindas a quem chega, “com a marreta e a talhadeira nas mãos, instrumentos de trabalho do escultor”, e servirá para fortalecer o turismo na região e estimular os jovens no rumo da profissão. “Precisamos valorizar esta arte, pois é também fonte de renda e sobrevivência para muitas famílias”, ressalta.

Ao denominar sua obra “Renascimento da arte”, Rulielber põe fé nas oportunidades que a pedra-sabão pode criar no século 21, despertar o interesse das novas gerações e impulsionar o desenvolvimento econômico: “As pessoas passam na estrada e ainda não sabem nada sobre o trabalho existente aqui”.





De acordo com informações da Prefeitura de Ouro Preto, o monumento no trevo do distrito de Santa Rita de Ouro Preto deve ser inaugurado até o fim do ano, atraindo a atenção dos viajantes que trafegam pela rodovia MG-129 para o trabalho artesanal. Vale lembrar que o caminho é um trecho da Estrada Real, rota que ligava, desde o século 17, Diamantina e Ouro Preto ao Rio de Janeiro e Paraty (RJ), para escoamento de ouro e diamantes em direção a Portugal. Ao longo do caminho, há pontes por onde passaram grandes personagens da história, além de bens arqueológicos, como arrimos e bueiros em cantaria.

Valorização

Especialistas lembram que a história da pedra-sabão em Minas se mistura ao Ciclo do Ouro, pois o material foi amplamente usado, na época da colonização, para fabricação de peças da construção civil. Como referência nessa história, está “o material que eternizou obras do maior ícone da arte barroca brasileira, o escultor, entalhador e arquiteto Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, que optou pelo uso da pedra-sabão em diversas portadas, altares e imagens que criou”.

Foi pedra-sabão, por exemplo, a matéria-prima usada pelo “Mestre do Barroco” no frontispício da fachada da Igreja São Francisco de Assis, no Centro Histórico da cidade que comemora 40 anos do título de Patrimônio da Humanidade, o primeiro no país concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Resistência

De acordo com pesquisas, a pedra-sabão é uma matéria-prima muito resistente e de uso ilimitado. A resistência costuma ser comparada à do mármore, com a vantagem de ser refratária, podendo suportar temperaturas bastante elevadas. Usada na fabricação de artigos de decoração, como esculturas e ornamentos para jardins, tem destino certo também como panelas, lareiras e lavabos. Em Santa Rita, distrito que fica 30 quilômetros da sede de ouro do município de Ouro Preto, a atividade centenária está nas mãos de muitos artesãos.




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