Jornal Estado de Minas

PANDEMIA

Pesquisa aponta que 'contágio social' intervém no distanciamento social

Você já parou para pensar em como alguém pode influenciar em suas decisões? Por exemplo, no cenário de pandemia devido à COVID-19, o quanto a opinião das pessoas o persuadiu a manter o distanciamento social ou o induziu a tomar os devidos cuidados ao sair de casa e fazer o uso correto da máscara e álcool em gel?
 
Uma pesquisa coordenada pelo professor Eric Fernandes de Mello Araújo, do Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas da Universidade Federal de Lavras (Ufla), aponta que as pessoas que estão à nossa volta e as campanhas publicitárias têm um papel fundamental em nossas tomadas de decisão quanto aos cuidados com a saúde e a adesão ao distanciamento social. Trata-se de um modelo de “contágio social”, que leva em consideração as nossas relações na formação de nossas ideias e comportamentos. 




 
O estudo Desconectando para o bem: um modelo de rede orientada pelo contágio social de opiniões e intervenções em redes sociais para aumentar a adesão ao distanciamento social se baseia na neurociência e na psicologia social para mostrar como as intervenções para fortalecer a prática de distanciamento social podem influenciar a opinião pública positivamente na adesão dessas medidas. Ele foi premiado como o melhor trabalho na 9ª edição do Brazilian Workshop on Social Network Analysis and Mining (BraSNAM), em novembro. 
 
O processo de “contágio social” se dá a partir de três fatores: o quanto uma pessoa está aberta a mudanças quando é influenciada por outro, o quão expressivo é um indivíduo sobre as suas opiniões, emoções e o seu comportamento, e qual o grau de relacionamento entre os dois indivíduos que estão interagindo mutuamente.
 
“Esse estudo sobre espalhamento de opiniões já está sendo feito há seis anos. Nós resolvemos utilizar a pandemia para fazer a análise em cima do que está acontecendo. O que fizemos de diferente para esta análise foi incluir o fator externo que são as agências de governo e agências públicas de saúde que têm alcance global na propagação da informação sobre a COVID-19”, pontua Eric. 




 

Tomadas de decisão das autoridades na pandemia

O professor Eric Araújo explica que esse tipo de estudo pode ser utilizado por autoridades para a tomada de decisão em relação à distribuição de recursos hospitalares. Além disso, em modelos como esse, é possível simular intervenções diferentes para definir quais estratégias seriam mais eficazes no controle da disseminação da doença e no retorno das atividades.
 
A pesquisa analisou como seria o desenvolvimento da epidemia em cinco cenários: Sem intervenção alguma e sem distanciamento social considerando a comunidade do complexo Pavão-Pavãozinho e do bairro de Copacabana; Sem intervenção alguma, mas em uma população homogênea; Isolamento apenas dos idosos (acima de 60 anos) e jovens (abaixo dos 18 anos); Rodízio baseado na data de nascimento em dias pares e ímpares; Lockdown com apenas 5% da população saindo às ruas.
 
O professor afirma que “o cenário 4, com rodízio, apresentou resultados excelentes para o sistema de saúde, não gerando falta de UTIs, mas a duração da infecção foi a mais longa de todos os cenários, com 134 dias de duração. O cenário 5, mais drástico, põe fim à epidemia em 38 dias, porém parece impraticável diante dos índices de isolamento das cidades brasileiras atualmente. Fatores como comorbidades, habitantes por domicílio e quantidade de contatos diários certamente afetam o processo de difusão da doença”, pontua Araújo.




 

COVID-19 em contextos de desigualdade social

Também faz parte da pesquisa da Ufla em modelagem computacional de contágio social o trabalho que simulou a disseminação da pandemia na região de Copacabana e no complexo Pavão-Pavãozinho no Rio de Janeiro (RJ). Nesse trabalho, fez-se o uso de dados de saneamento básico, distribuição de faixa etária, número de moradores por casa, entre outros fatores considerados relevantes. Este estudo está servindo de modelo para outra pesquisa na Ufla: o retorno das aulas em Lavras e o impacto que isso poderá causar na sociedade lavrense.
 
“O estudo no complexo Pavão-Pavãozinho atende às características daquela comunidade. Apesar disso, é possível transpor os estudos para qualquer outra região a partir da inserção das informações de cada comunidade. Além disso, há esforços no sentido de aprimorar os resultados obtidos ao atender outras características que devem ser levadas em consideração no modelo”, destaca Eric.

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