O avanço da incidência do novo coronavírus não poupou nem mesmo a única cidade brasileira, até então, livre da doença. A pequena Cedro do Abaeté, na Região Centro-Oeste de Minas Gerais, contabilizou quatro casos. Dois deles já foram apontados no boletim de monitoramento da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG).
Antes tranquilos, a notícia pegou de surpresa os moradores. Com ela, veio a preocupação. “Cuidado sempre tivemos e temos, é o psicológico que abala um pouco, porque é uma cidade pequena, todo mundo se conhece, tem contato. Gera medo”, afirmou o servidor público Nilton José da Silva, de 61 anos.
O receio se refletiu na rotina dos moradores. Profissional da área da saúde, Mônica Ferreira, de 34 anos, mora com o marido e dois filhos. Por lá, os cuidados foram redobrados. “A gente não esperava. Éramos a única cidade sem confirmação. Agora, estamos evitando ainda mais o contato com as pessoas, usando as máscaras e o álcool em gel”, relatou.
Até mesmo os profissionais da linha de frente se assustaram. “A população toda está surpresa de chegar até aqui e alarmada porque não esperava”, comentou o enfermeiro Alexandre da Silva Cruz. Atuando diretamente com os pacientes, disse que todas as medidas ao alcance da Secretaria Municipal de Saúde foram executadas.
A partir de agora, a orientação é para reforçar o isolamento social, o uso de máscaras e álcool em gel. “Não ir para municípios vizinhos”, recomendou. Cruz também fez um apelo: “A gente espera que as pessoas que residem fora pensem duas vezes antes de visitar os parentes. A gente sabe que é Natal, que as pessoas querem estar próximas de quem gosta, mas que esperem mais um pouco, que fiquem em casa e respeitem as regras impostas pelos governos”.
Medidas intensificadas
A 35 quilômetros, de Abaeté, município referência, Cedro do Abaeté tem adotado medidas de prevenção desde o início da pandemia. Entre elas, houve a contratação de médicos para evitar o deslocamento de pacientes até a cidade vizinha. Apenas os casos mais graves são transferidos, já que a rede local é estruturada apenas com uma policlínica e uma Unidade Básica de Saúde (UBS).
Kits com máscaras e álcool gel foram distribuídos à população e uma barreira sanitária instalada na entrada. Uma bicicleta com uma caixa de som também circula pelas ruas com mensagens de conscientização.
Todas as ações fizeram com que o município, de 1.157 habitantes, ficasse conhecido nacionalmente por manter zerado os índices por quase nove meses de pandemia. Com as quatro confirmações, o cenário mudou, e a secretaria intensificou as medidas. Na sexta-feira (11/12), um novo decreto foi editado.
Os bares podem funcionar apenas por delivery e o comércio, dentre eles os dois supermercados e um mercadinho, até as 17h. A cidade conta ainda com um banco, uma lotérica e uma agência dos correios. Escolas e espaços públicos, como praço, estão fechados.
Sem saber identificar como houve a contaminação dos moradores, a secretária da pasta, Cássia Maria dos Santos, lamentou o ocorrido. “Infelizmente, estamos decepcionados, foram nove meses segurando, até que chegou, e chegou com a expectativa de a vacina sair a qualquer hora”, comentou.
Uma das possibilidades é que eles tenham contraído o vírus a partir de visita de familiares. Os dados, como idade, não serão divulgados para preservar a identidade dos pacientes.
Embora a secretaria tenha engrossado o tom, Cássia reforça que há apenas um meio eficaz de prevenção: isolamento social. “Não existe outra coisa para essa doença. É ficar em casa, sair só em urgência, procurar posto de saúde só se precisar mesmo. Não tem outro remédio”, alertou.
A secretária que chegou a usar a fé como explicação para os nove meses sem nenhum contato, pediu a Deus que não haja mais casos. “Em Serra da Saudade foi assim. Teve alguns casos e depois parou. Vamos pedir a Deus que fique só nestes quatro”.
*Amanda Quintiliano especial para o EM
O que é o coronavírus
Coronavírus são uma grande família de vírus que causam infecções respiratórias. O novo agente do coronavírus (COVID-19) foi descoberto em dezembro de 2019, na China. A doença pode causar infecções com sintomas inicialmente semelhantes aos resfriados ou gripes leves, mas com risco de se agravarem, podendo resultar em morte.
Vídeo: Por que você não deve espalhar tudo que recebe no Whatsapp
Como a COVID-19 é transmitida?
A transmissão dos coronavírus costuma ocorrer pelo ar ou por contato pessoal com secreções contaminadas, como gotículas de saliva, espirro, tosse, catarro, contato pessoal próximo, como toque ou aperto de mão, contato com objetos ou superfícies contaminadas, seguido de contato com a boca, nariz ou olhos.Vídeo: Pessoas sem sintomas transmitem o coronavírus?
Como se prevenir?
A recomendação é evitar aglomerações, ficar longe de quem apresenta sintomas de infecção respiratória, lavar as mãos com frequência, tossir com o antebraço em frente à boca e frequentemente fazer o uso de água e sabão para lavar as mãos ou álcool em gel após ter contato com superfícies e pessoas. Em casa, tome cuidados extras contra a COVID-19.Vídeo: Flexibilização do isolamento não é 'liberou geral'; saiba por quê
Quais os sintomas do coronavírus?
Confira os principais sintomas das pessoas infectadas pela COVID-19:
- Febre
- Tosse
- Falta de ar e dificuldade para respirar
- Problemas gástricos
- Diarreia
Em casos graves, as vítimas apresentam:
- Pneumonia
- Síndrome respiratória aguda severa
- Insuficiência renal
Vídeo explica por que você deve 'aprender a tossir'
Mitos e verdades sobre o vírus
Nas redes sociais, a propagação da COVID-19 espalhou também boatos sobre como o vírus Sars-CoV-2 é transmitido. E outras dúvidas foram surgindo: O álcool em gel é capaz de matar o vírus? O coronavírus é letal em um nível preocupante? Uma pessoa infectada pode contaminar várias outras? A epidemia vai matar milhares de brasileiros, pois o SUS não teria condições de atender a todos? Fizemos uma reportagem com um médico especialista em infectologia e ele explica todos os mitos e verdades sobre o coronavírus.Coronavírus e atividades ao ar livre: vídeo mostra o que diz a ciência
Para saber mais sobre o coronavírus, leia também:
- O que é o pico da pandemia e por que ele deve ser adiado
- Veja onde estão concentrados os casos em BH
-
Coronavírus: o que fazer com roupas, acessórios e sapatos ao voltar para casa
-
Animais de estimação no ambiente doméstico precisam de atenção especial
-
Coronavírus x gripe espanhola em BH: erros (e soluções) são os mesmos de 100 anos atrás