Jornal Estado de Minas

PATRIMÔNIO

Altar da Matriz Nossa Senhora da Boa Viagem, em BH, é restaurado



Elo entre o primitivo arraial de Curral del-Rey e a metrópole dos mineiros, um símbolo religioso da capital que completou 123 anos no dia 12 começa a ser restaurado para valorizar ainda mais a história dos belo-horizontinos. Às vésperas do Natal, teve início ontem a intervenção no altar da antiga Matriz Nossa Senhora da Boa Viagem, provavelmente datado de fins do século 18, com características do rococó mineiro, que integra o acervo do Santuário Arquidiocesano de Adoração Perpétua (Igreja Boa Viagem), templo em estilo neogótico que completará o centenário em 2022 e fica na Região Centro-Sul da cidade.



"A obra é motivo de grande alegria, pois este altar (Sagrado Coração de Jesus) é um marco na história de Belo Horizonte, que tem como padroeira Nossa Senhora da Boa Viagem. A história da antiga igreja passa por três séculos, pois foi construída no 18, demolida no 19, na época da construção da capital e, até no início da década de 1930, segundo estudos, tinha partes sendo retiradas", detalha o reitor do santuário, padre Marcelo Silva, que recebeu representantes do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha) e a coordenadora da obra de restauração, Rosângela Reis Costa.

Ontem, acompanhando a colocação dos andaimes no coro da igreja, padre Marcelo contou que a obra vai durar seis meses, em três etapas, e a expectativa é ter o retábulo pronto para as festividades em louvor à padroeira de BH, em 15 de agosto de 2021.

De acordo com o Iepha, o projeto executivo para restauração prevê a imunização contra cupins, a revisão e substituição de peças estruturais ineficientes, recomposição do fundo, forro do camarim e coroamento, limpeza e reintegração da camada pictórica e douramento. O valor do investimento é de R$ 200 mil. Em madeira e com características do rococó mineiro, o altar apresenta ornamentação em talha dourada representando rocalhas, folhas de acanto, rosas e outros elementos fitomorfos sobre fundo branco.



A Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem passou por várias construções e demolições. A última intervenção ocorreu em 1931 e foi projetada pelo escritório do arquiteto Luís Signorelli. O tombamento estadual do templo se deu em 1977. A proteção abrange a construção e a praça que a circunda, os bens que compõem o seu interior, como a Imagem da padroeira, o lavatório da sacristia, a pia batismal, a custódia do 2º Congresso Eucarístico Nacional, realizado em 1936, e os três retábulos da antiga matriz e os dois sinos da chamada catedral provisória remanescentes da antiga Matriz da Boa Viagem.

Houve ainda diversas obras, como a retirada do pórtico original em 1949, e a inserção do relógio da torre em 1951. A última intervenção no entorno foi em 1994, com a restauração dos jar- dins. Em 20 de novembro, após oito anos de obras, foi concluído totalmente o restauro do interior da igreja e mais a imagem da padroeira. A próxima etapa será a parte externa.

Origem em 1709



Inaugurada em 1922 como monumento ao centenário da independência do Brasil, a Igreja Boa Viagem tem trajetória que vai muito além de quase um século de fundação. “É preciso lembrar que a história da capital surgiu com a imagem que estava na capela original, em torno da qual nasceu o arraial, formou-se a vila e cresceu a capital. São mais 300 anos”, reforça padre Marcelo Silva.

Em 1709, o português Francisco Homem del Rey conseguiu autorização da Coroa portuguesa, por meio de cartas de sesmarias, e se estabeleceu na região onde hoje se encontra Belo Horizonte. Trouxe uma imagem da padroeira dos navegantes portugueses, Nossa Senhora da Boa Viagem, que o acompanhou na travessia do Oceano Atlântico.




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