O imóvel de uma antiga saboaria mineira sai da sombra da deterioração para ganhar a luz do restauro e valorizar novamente o patrimônio de uma cidade, como se a “bolha” do tempo se rompesse e desse lugar à preservação cultural. Em Jaboticatubas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), uma iniciativa pública tira do abandono a construção da década de 1940 para transformá-la em centro cultural. O investimento de R$ 568,8 mil provém do governo federal, via Ministério do Turismo, com contrapartida da prefeitura local.
Segundo o prefeito reeleito Eneimar Adriano Marques, o objetivo é criar um centro de cultura com equipamentos que permitam a valorização das manifestações populares; apresentações artísticas diversas, como teatro, música, dança e exposições; realização de palestras, seminários e debates; e fomento às artes, por meio de oficinas e cursos.
“Temos muitas tradições, incluindo a folia de reis, o reinado, o candombe e as festas que envolvem toda a comunidade”, afirma o chefe do Executivo, que é formado em história e preside o Circuito Turístico da Serra do Cipó, com sete municípios.
“Mais de 60% das áreas do Parque Nacional da Serra do Cipó ficam dentro de Jaboticatubas”, explica Eneimar, destacando que, além de ser o primeiro centro cultural do seu município, o equipamento poderá se transformar em atrativo regional, com programação disponível a vários públicos. O projeto prevê auditório, construção de camarins, cantina, espaço para exposições e outros benefícios para a cidade, de 20 mil habitantes.
Serviços
O projeto de restauração e ampliação do prédio, pertencente à Prefeitura de Jaboticatubas e localizado no bairro Sagrada Família, perto da Igreja Nossa Senhora do Rosário, contempla troca do telhado, dos vidros, do piso e de toda a parte elétrica, reforço nos pilares, acesso para cadeirantes, tratamento da madeira da estrutura e mobiliário.
Todas as instalações sanitárias foram construídas na área de ampliação, sob os padrões de nova edificação. O total da área restaurada é de 345 metros quadrados, com anexo de 302 metros quadrados para camarim, depósito, cozinha e outras estruturas.
História resgatada e abandono superado
Hoje, quem passa diante da edificação da antiga saboaria de Jaboticatubas, com fachada tombada pelo município, vê o prédio revitalizado e o paisagismo recém-concluído, tudo bem diferente das paredes descascadas e do terreno pobre em vegetação de outros tempos. A imponência da antiga fábrica de sabão, com os coqueiros macaúbas servindo de moldura, indica que o espaço tem muita história para contar.
Fotos de meados do século passado mostram os trabalhadores em ação e o letreiro de quando a unidade era filial da saboaria do município vizinho de Santa Luzia, fundada no início do século 20 por João Adolpho Emílio Zeymer. “Queremos mesmo que seja um centro de cultura, preservando a arte nas suas mais variadas manifestações”, resume o prefeito Eneimar Adriano Marques.
As intervenções na saboaria, agora pintada de rosa-claro, começaram em 2012, de quando data o projeto de restauração. “Houve um período em que as obras foram paralisadas, e retomamos em janeiro deste ano, sempre mantendo as características originais”, acrescenta o representante do município.
De acordo com pesquisa da Prefeitura de Jaboticatubas, a história da saboaria começa em 1942, quando José Carlos de Mendonça Pinto, em sociedade com José Evaristo Rodrigues e Valério Dias Duarte filho, inaugura a Sociedade Industrial de Jaboticatubas, destinada ao beneficiamento do coco-macaúba. O empreendimento visava à industrialização em grande escala do óleo de coco, produzido até então de forma artesanal e de onde se aproveitavam a polpa para fazer sabão e a casca para a produção de carvão.
Devido a problemas financeiros dos empreendedores, a fábrica foi vendida e entrou em processo de decadência. Em 1985, a unidade foi vendida novamente, passando a produzir óleo, farelo de gema e polpa, e funcionou também como marcenaria. A última atividade foi com a produção de doce de banana.
O centro cultural, conforme os técnicos da Prefeitura de Jaboticatubas, é um sonho antigo para a cidade, e seu processo de restauro e ampliação vem de outras gestões. “Nossa cidade estava precisando de um espaço cultural assim. Muitas pessoas, incluindo meu pai, trabalharam na saboaria, que era a única fonte de emprego na época. Ficou muito bonito, será ótimo para os jovens”, ressalta o empresário Daniel Antenor Rodrigues.