O fantasma do colapso na saúde em decorrência da pandemia de COVID-19 voltou a rondar Minas Gerais nos últimos dias de 2020. Em 17 das 30 maiores cidades do estado, a taxa de ocupação das Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) do Sistema Único de Saúde (SUS) já supera 70% dos leitos disponíveis. Os dados são da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), cujos cálculos se baseiam no sistema SUSFácil.
Juntos, esses 30 municípios respondem por 67% das vagas disponíveis na rede pública mineira. Ou seja: 2.610 leitos, do total de 3.899. O grupo reúne ainda 9,4 milhões de habitantes – quase metade da população de Minas Gerais, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 21,3 milhões.
Juntos, esses 30 municípios respondem por 67% das vagas disponíveis na rede pública mineira. Ou seja: 2.610 leitos, do total de 3.899. O grupo reúne ainda 9,4 milhões de habitantes – quase metade da população de Minas Gerais, estimada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 21,3 milhões.
Nessa terça-feira (30/12), o informe epidemiológico da SES-MG registrou a confirmação de 4.995 diagnósticos de COVID-19 em 24 horas. No mesmo período, a doença matou 10 pessoas. O total de infectados em todo o estado é de 529.65, enquanto os mortos desde o início da epidemia somam 11.615. A pressão se repete Brasil afora. O país registrou 1.111 mortes por COVID-19 em 24 horas, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde. É o maior número de óbitos em um dia desde 15 de setembro, quando 1.113 pacientes morreram. Assim, chega a 192.681 o total de óbitos pela doença no país.
De ontem para hoje, foram contabilizados 58.718 novos casos de covid-19, elevando o total de contaminações da doença no Brasil para 7.563.551.
Gargalo
Em um terço das cidades da lista, o cenário é ainda mais preocupante. Nessas localidades, 80% dos leitos de terapia intensiva já foram preenchidos. Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, lidera o ranking, com 100% de lotação. Em Varginha, as UTIs já estão praticamente esgotadas, com 94,12% de ocupação. O gargalo é semelhante em Ipatinga, no Vale do Rio Doce, um dos cinco municípios com mais casos confirmados de COVID-19: 91,25% dos leitos estão mobilizados. Completam a relação Passos (89,58%), Governador Valadares (85%), Coronel Fabriciano (83,3%), Juiz de Fora (83,33%), Belo Horizonte (80,3%), Ribeirão das Neves (80%) e Barbacena (80%).A taxa geral de ocupação do estado também se aproxima da faixa vermelha dos 70% – quadro que o governo chama de “estresse assistencial”. Minas já tem 69,98% das vagas de UTI em uso. Apesar de expressivos, os números podem estar refletindo um cenário aquém da realidade. De acordo com SES-MG, a atualização dos sistemas de monitoramento é mais lento durante o período de Natal e ano-novo, quando grande parte dos servidores, tanto estaduais, quanto municipais, sai de folga. Diversos indicadores, portanto, são informados com atraso.
Macrorregiões
Num recorte ampliado, a situação da rede assistencial mineira também parece delicada. Em metade das 14 macrorregiões do estado, a lotação das UTIs já superou 70%. O quadro mais grave é o da macrorregião Leste, que abrange 51 municípios. Nessa área de saúde, 84,88% dos leitos estão sendo utilizados. Na prática, isso significa que restam apenas 13 das 86 unidades existentes para atender todos os moradores da macrorregião. No Vale do Aço, que compreende 35 cidades, há apenas 36 vagas, do total de 228. No Sudeste, com 94 municípios, apenas 86 dos 417 leitos estão disponíveis. No Centro, a maior das macrorregiões, na qual se insere a capital mineira, só 366 dos 1.264 leitos de terapia intensiva estão à disposição das 101 cidades da localidade.
O estrangulamento do sistema parece acompanhar o recrudescimento da pandemia em Minas – sobretudo no que diz respeito ao aumento de infecções pela COVID-19. Dados do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG) referentes ao dia 27 de dezembro mostram aumento de até 23,96% na média de novos casos diários em 10 das 14 macrorregiões de saúde mineiras. O número é calculado a partir da soma das notificações diárias dos últimos 14 dias dividido
por 14.
por 14.
136 mil habitantes, zero UTI: o caso de Sabará
Com 136,3 mil habitantes, segundo estimativa do IBGE, Sabará, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, enfrenta a pandemia de COVID-19 sem leitos próprios de UTI. O município conta com apenas 20 leitos de enfermaria.
A secretária municipal de Saúde, Nicole Cuqui, explica que isso se deve à configuração modelo de assistência da cidade, que opera em rede junto aos 13 municípios da microrregião de Belo Horizonte/Nova Lima/Caeté, da qual faz parte. Na prática, isso significa que os pacientes da localidade são encaminhados aos vizinhos da Grande BH - prioritariamente, a capital mineira - sempre que precisam de cuidados intensivos.
“Durante a pandemia, fizemos uma pactuação com os municípios da nossa microrregião, que instituiu uma troca. Eles têm falta de leitos de enfermaria, então usam os nossos. Sabará, por sua vez, solicita vagas de UTI dos vizinhos, quando é necessário”, esclarece Cuqui.
O boletim da SES-MG divulgado nesta terça-feira (29/12) aponta 2.169 casos confirmados de COVID-19 em Sabará, além de 77 mortos pela doença.