Passados exatamente 300 dias, completados nesta quinta-feira, dos exames feitos pelo paciente zero, o primeiro a testar positivo para o novo coronavírus (Sars-CoV-2) em Minas Gerais, o estado ainda apresenta uma marcha intensa de contaminações. O mês de dezembro já registra a pior média de novos casos por dia, com 3.793 positivos e 54 óbitos a cada 24 horas. O patamar médio de exames positivos por dia deste mês é o mais alto desde 6 de março, quando uma mulher de 42 anos, moradora de Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, retornou da Itália com sintomas e foi examinada em Belo Horizonte. Já a razão mensal de mortes por dia é a terceira mais elevada, atrás de agosto, quando a média era de 83 registros, e de julho, com 58.
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Para a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) o aumento no número de casos confirmados e óbitos por COVID-19 é “uma reação à diminuição de atenção aos protocolos sanitários”, assim como resultado de eventos como campanhas eleitorais e encontros de fim de ano.
O fato de as mortes não se elevarem no mesmo ritmo das contaminações, para a SES, pode estar relacionado “à condução clínica e de assistência, que está melhor qualificada para atender os casos de COVID-19”.
Ainda que distante de uma redução mais efetiva, Minas se encontra em situação melhor que a maioria dos estados brasileiros, sendo o quarto com menos testes positivos, registrando uma taxa de 2.464 por 100 mil habitantes e a menor taxa de óbitos nacional, de 54 por 100 mil (veja o quadro).
O estado enfrentou a primeira fase mais aguda de contaminação pela COVID-19 em agosto. Nesse pico, os contágios por dia chegaram a 2.802 e os óbitos a 83 a cada 24 horas. No mês seguinte, o número diário de óbitos sofreu grande retração, chegando a 68 (-18%), o que se acentuou em outubro (54) e novembro (35). Nesse último mês, o ritmo das mortes pela doença respiratória em Minas se encontrava pouco acima do que se via em junho, que tinha média diária de 23 óbitos.
Parecia que a doença estava sendo controlada até o mês de dezembro registrar alta de 54% e uma regressão aos níveis de outubro. A razão diária de diagnósticos positivos encolheu mês a mês, até dezembro trazer ponto máximo, 35% superior ao de agosto.
Patamar de contágios preocupa capital
A evolução mensal de novos casos e óbitos na capital mineira segue por um outro lado e apresenta atualmente a quarta maior média diária de casos desde março, com 249 positivos a cada 24 horas e sete óbitos. No caso das mortes pela COVID-19, um patamar de estabilidade que vem desde setembro. Contudo, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) ainda considera que os números da doença no município permanecem elevados.
“Em Belo Horizonte, a letalidade da doença está em 2,97% (razão de infectados que morrem). Ainda não há sinal de redução, a situação atualmente é de estabilidade. O tratamento eficaz da doença ainda está em fase de estudos, assim como a vacina. O vírus se comporta com padrão de possibilidade de agravamento e morte. Portanto, é extremamente importante manter as medidas de prevenção”, informou a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA).
O elevado patamar de contágios ainda preocupa. “Isso tem impactado no aumento das taxas de ocupação de leitos da cidade. Também tem sido registrado aumento na procura por atendimento nos serviços e unidades de saúde de Belo Horizonte, como SAMU e Centros Especializados em COVID-19 (Cecovid). Nesse contexto, a prefeitura mantém em funcionamento os serviços implantados durante a pandemia e reforça que é extremamente importante prosseguir com as medidas de prevenção como distanciamento social, uso de máscara, higienização frequente das mãos e não promover nem participar de aglomerações”, frisa a administração da saúde municipal.
Equipes de saúde em alerta
Ao longo da pandemia em Minas Gerais, a SES-MG destaca que muitas ações foram importantes para que a COVID-19 não saísse do controle no estado. “Desde janeiro, quando ocorreram as primeiras notificações em Wuhan, na China, o governo de Minas vem atuando preventivamente no enfrentamento à pandemia”, afirma. Naquele mês, foi criado o Centro de Operações de Emergência em Saúde (Coes-Minas) para o monitoramento dos casos e para atuação na tomada de decisões.
Em fevereiro, o Plano de Contingência já estava pronto. Em seguida, foi implantado um programa de aquisição de equipamentos de proteção individual para profissionais da linha de frente e concebido o plano Minas Consciente para retomada das atividades.
O governo de Minas informa ter aumentado os leitos de UTI para 3.995 e adquirido 1.047 respiradores. “Outra estratégia fundamental foi a criação da sala de situação, que reúne médicos, enfermeiros, estatísticos, entre outros profissionais para o monitoramento epidemiológico. Todas as 28 regionais passaram a contar com uma sala de situação para analisar dados específicos. “Já no que se refere à imunização, a SES-MG colocou em prática, no mês de setembro, seu Plano de Contingência para Vacinação Contra a COVID-19. Foram adquiridas 50 milhões de seringas agulhadas e mais de 700 câmaras refrigeradas”.
Foram montadas, ainda, unidades de respostas localizadas para atuar de forma bem próxima a cada uma das regionais de Saúde, no planejamento, execução, monitoramento e avaliação das respostas necessárias, o que permite, por exemplo, identificar com maior rapidez as oportunidades de ampliação de leitos.
COMITÊ DE BH
Em Belo Horizonte, a preparação também começou em fevereiro, com a capacitação e qualificação das equipes da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). No início de março foi instituído o Comitê de Enfrentamento à COVID-19, que definiu as regras de flexibilização e os protocolos de funcionamento das atividades na cidade. A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informa ter investido na ampliação e qualificação de leitos da Rede SUS-BH.“Foram abertos leitos de forma gradativa, acompanhando a evolução dos indicadores e sempre com recursos humanos e equipamentos necessários, todos equipados com respiradores, monitoramento e equipe exclusiva para acompanhamento dos pacientes”, informa a SMSA. Foram abertos três centros especializados (Cecovid), que atenderam mais de 33 mil pacientes. A população vulnerável, em situação de rua e idosos em instituições de longa permanência tiveram locais apropriados montados para seu atendimento.
Um serviço de consulta on-line para casos suspeitos foi disponibilizado e um laboratório próprio para a realização de exames para detecção de COVID-19 aberto, conforme a PBH. Na capital, já foram realizados quase 600 mil exames em todas as redes, acumulando cerca de 300 mil testes/por milhão de habitantes. Desde o início da pandemia foram contratados cerca de 2 mil profissionais, especificamente para o enfrentamento da doença.