Mais da metade das amostras de qualidade das águas de rios mineiros se encontra com presença de esgoto doméstico e industrial acima dos níveis máximos de tolerância do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama). Das 1.447 amostras colhidas pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), 778 (54%) se encontram em desconformidade, de acordo com relatório que leva em conta as amostragens mais recentes divulgadas pelo instituto, referentes ao primeiro semestre de 2020.
Um retrato dessa condição degradante é o Rio das Velhas, um dos principais afluentes do Rio São Francisco e a fonte primordial de água para a Grande BH, abastecendo 60% das torneiras da região. Das 156 coletas realizadas em sua bacia hidrográfica, 79 (50,6%) continham violações referentes a esgotos.
Os dados mostram como é generalizada a poluição por esgotos nos rios de Minas Gerais, ainda que o Igam tenha apresentado em seu relatório de gestão de 2020, divulgado na última quarta-feira, que o Índice de Qualidade das Águas (IQA) demonstre condição de qualidade regular em 49% dos segmentos de rios, boa em 31% e ruim nos restantes 20%.
“O IQA é um conjunto de nove parâmetros considerados mais representativos para a caracterização da qualidade das águas: oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total, variação da temperatura da água, turbidez e sólidos totais”, diz o Igam.
Contudo, a Agência Nacional de Águas (ANA) considera que o índice apresenta limitações, “já que não analisa parâmetros importantes para o abastecimento público, tais como substâncias tóxicas (metais pesados, pesticidas, compostos orgânicos), protozoários patogênicos e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas da água”.
No caso da contaminação por esgoto, o indicador utilizado foi a extrema concentração da bactéria escherichia coli. O micro-organismo do grupo dos coliformes termotolerantes tem como habitat exclusivo o intestino humano e de animais homeotérmicos, onde aparece em densidades elevadas, por isso presente nas fezes e por conseguinte nos esgotos.
O trecho da Bacia do Rio das Velhas mais poluído pelas descargas domésticas e industriais é o Alto Velhas, da nascente, em Ouro Preto, à altura da Foz do Ribeirão da Onça, entre BH e Santa Luzia. Das 27 amostragens, 19 (70,4%) contêm violações para escherichia coli – só oito delas estavam nos níveis permitidos. Desses, pelo menos 17 acima da captação de água da Copasa em Belo Horizonte, que ocorre em Bela Fama, no município de Nova Lima.
A concentração máxima que o Igam consegue medir para esgotos, pela presença dessa bactéria, é de 24,2 vezes o limite estabelecido pelo Conama. Nada menos do que 141 amostras atingiram esse volume.
Um deles foi o Rio Maracujá, que nasce em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, e é um dos principais afluentes do Rio das Velhas na sua área de cabeceira. Ao passar por loteamentos e expansões urbanas, o curso d' água recebe cargas de esgoto diretamente no leito, deixando a água cinzenta e o odor do líquido com cheiro forte de decomposição e lixo.
Mananciais contaminados
Também estão nessa lista mananciais da Grande BH como o Córrego Isidoro, na Região Norte da capital; o Ribeirão Arrudas, que corta BH das regiões do Barreiro à Leste; o Rio Betim, entre Betim e Juatuba, na Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba; e o Ribeirão das Areias, em Ribeirão das Neves.
No interior, a situação extremamente crítica se encontra nas águas de corpos hídricos das bacias do Rio das Mortes (Campos das Vertentes), Grande (Sul), Preto e Paraibuna (Zona da Mata), Itabapoana e Itapemirim (Leste), Jequitinhonha (Jequitinhonha), Pará (Centro-Oeste), Araguari (Alto Paranaíba), Piracicaba e Jaguari (Sul), Paracatu (Noroeste), Rio Piranga (Central) e São Francisco (Sul).
O Igam afirma que o conhecimento do estado de cada corpo hídrico é fundamental para as políticas de conservação, pois considera “o monitoramento da qualidade da água ferramenta estratégica, que possibilita direcionar ações para promover a segurança hídrica”.
Como exemplo, cita intervenção de emergência feita no Córrego Rico, afluente do Rio Paracatu, no Noroeste de Minas, em 2005, depois que foram detectados elevadíssimos índices de arsênio, chegando a superar em 100 vezes os limites legais. As outorgas foram suspensas preventivamente até que as atividades poluidoras fossem encontradas e cessadas.
Arsênio e fósforo também são ameaças
Os relatórios sobre a qualidade da água de rios e lagos de Minas do Igam também detectou poluentes em amostras que ajudam a traçar os principais problemas ambientais. De 981 amostras testadas para arsênio, 55 (5,6%) extrapolaram o limite máximo da substância, extremamente tóxica para o homem e para a vida biológica como um todo. Seis estavam no limite.
O arsênio geralmente está associado a atividades minerárias predatórias, como o garimpo de ouro feito nos rios de forma irregular. Sua concentração no organismo pode causar doenças de pele como hiperpigmentação, ceratoses, carcinoma basocelular (câncer) e epidermoide. Pode levar também a hipertensão, doença arterial periférica, diabetes melito, câncer de pulmão, hepático e leucemia.
O manancial com a maior concentração desse metaloide tóxico foi o Rio das Velhas em Santana de Pirapama, na Região Central do estado, seis vezes superior ao limite estabelecido pelo Conama. O segundo pior é o Córrego Rico (quatro vezes), em Paracatu, que já tem histórico dessa contaminação. Em seguida, com presença 3,6 vezes acima do limite, está mais uma vez o Rio das Velhas, desta vez em Baldim, na Grande BH.
A contaminação por fósforo – presente nas atividades agrícolas, sobretudo na pecuária, e nos lançamentos de esgotos – foi medida em 1.447 amostras, sendo que em 539 (37,2%) estava acima do tolerado e em 46 (3,2%) no limite da legislação ambiental.
Os trechos com maior concentração são o Rio São Francisco, em Vargem Alegre, no Sul de Minas, com 48 vezes o tolerado; o Ribeirão da Onça (46), em Santa Luzia, na Grande BH, e o Ribeirão São Pedro (28), afluente do Rio Jequitinhonha, em Medina.
Essa grande carga de esgotos e fósforo propicia a proliferação de cianobactérias, que lançam na água substâncias tóxicas que podem até matar. Pelo menos 25 amostras continham concentrações desse micro-organismo, sendo que os três piores pontos estão na Lagoa da Pampulha e no Ribeirão Pampulha, formado após o reservatório de BH.
Um retrato dessa condição degradante é o Rio das Velhas, um dos principais afluentes do Rio São Francisco e a fonte primordial de água para a Grande BH, abastecendo 60% das torneiras da região. Das 156 coletas realizadas em sua bacia hidrográfica, 79 (50,6%) continham violações referentes a esgotos.
Os dados mostram como é generalizada a poluição por esgotos nos rios de Minas Gerais, ainda que o Igam tenha apresentado em seu relatório de gestão de 2020, divulgado na última quarta-feira, que o Índice de Qualidade das Águas (IQA) demonstre condição de qualidade regular em 49% dos segmentos de rios, boa em 31% e ruim nos restantes 20%.
“O IQA é um conjunto de nove parâmetros considerados mais representativos para a caracterização da qualidade das águas: oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes, pH, demanda bioquímica de oxigênio, nitrato, fosfato total, variação da temperatura da água, turbidez e sólidos totais”, diz o Igam.
Contudo, a Agência Nacional de Águas (ANA) considera que o índice apresenta limitações, “já que não analisa parâmetros importantes para o abastecimento público, tais como substâncias tóxicas (metais pesados, pesticidas, compostos orgânicos), protozoários patogênicos e substâncias que interferem nas propriedades organolépticas da água”.
No caso da contaminação por esgoto, o indicador utilizado foi a extrema concentração da bactéria escherichia coli. O micro-organismo do grupo dos coliformes termotolerantes tem como habitat exclusivo o intestino humano e de animais homeotérmicos, onde aparece em densidades elevadas, por isso presente nas fezes e por conseguinte nos esgotos.
O trecho da Bacia do Rio das Velhas mais poluído pelas descargas domésticas e industriais é o Alto Velhas, da nascente, em Ouro Preto, à altura da Foz do Ribeirão da Onça, entre BH e Santa Luzia. Das 27 amostragens, 19 (70,4%) contêm violações para escherichia coli – só oito delas estavam nos níveis permitidos. Desses, pelo menos 17 acima da captação de água da Copasa em Belo Horizonte, que ocorre em Bela Fama, no município de Nova Lima.
A concentração máxima que o Igam consegue medir para esgotos, pela presença dessa bactéria, é de 24,2 vezes o limite estabelecido pelo Conama. Nada menos do que 141 amostras atingiram esse volume.
Um deles foi o Rio Maracujá, que nasce em Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto, e é um dos principais afluentes do Rio das Velhas na sua área de cabeceira. Ao passar por loteamentos e expansões urbanas, o curso d' água recebe cargas de esgoto diretamente no leito, deixando a água cinzenta e o odor do líquido com cheiro forte de decomposição e lixo.
Mananciais contaminados
Também estão nessa lista mananciais da Grande BH como o Córrego Isidoro, na Região Norte da capital; o Ribeirão Arrudas, que corta BH das regiões do Barreiro à Leste; o Rio Betim, entre Betim e Juatuba, na Bacia Hidrográfica do Rio Paraopeba; e o Ribeirão das Areias, em Ribeirão das Neves.No interior, a situação extremamente crítica se encontra nas águas de corpos hídricos das bacias do Rio das Mortes (Campos das Vertentes), Grande (Sul), Preto e Paraibuna (Zona da Mata), Itabapoana e Itapemirim (Leste), Jequitinhonha (Jequitinhonha), Pará (Centro-Oeste), Araguari (Alto Paranaíba), Piracicaba e Jaguari (Sul), Paracatu (Noroeste), Rio Piranga (Central) e São Francisco (Sul).
O Igam afirma que o conhecimento do estado de cada corpo hídrico é fundamental para as políticas de conservação, pois considera “o monitoramento da qualidade da água ferramenta estratégica, que possibilita direcionar ações para promover a segurança hídrica”.
Como exemplo, cita intervenção de emergência feita no Córrego Rico, afluente do Rio Paracatu, no Noroeste de Minas, em 2005, depois que foram detectados elevadíssimos índices de arsênio, chegando a superar em 100 vezes os limites legais. As outorgas foram suspensas preventivamente até que as atividades poluidoras fossem encontradas e cessadas.
Arsênio e fósforo também são ameaças
Os relatórios sobre a qualidade da água de rios e lagos de Minas do Igam também detectou poluentes em amostras que ajudam a traçar os principais problemas ambientais. De 981 amostras testadas para arsênio, 55 (5,6%) extrapolaram o limite máximo da substância, extremamente tóxica para o homem e para a vida biológica como um todo. Seis estavam no limite.O arsênio geralmente está associado a atividades minerárias predatórias, como o garimpo de ouro feito nos rios de forma irregular. Sua concentração no organismo pode causar doenças de pele como hiperpigmentação, ceratoses, carcinoma basocelular (câncer) e epidermoide. Pode levar também a hipertensão, doença arterial periférica, diabetes melito, câncer de pulmão, hepático e leucemia.
O manancial com a maior concentração desse metaloide tóxico foi o Rio das Velhas em Santana de Pirapama, na Região Central do estado, seis vezes superior ao limite estabelecido pelo Conama. O segundo pior é o Córrego Rico (quatro vezes), em Paracatu, que já tem histórico dessa contaminação. Em seguida, com presença 3,6 vezes acima do limite, está mais uma vez o Rio das Velhas, desta vez em Baldim, na Grande BH.
A contaminação por fósforo – presente nas atividades agrícolas, sobretudo na pecuária, e nos lançamentos de esgotos – foi medida em 1.447 amostras, sendo que em 539 (37,2%) estava acima do tolerado e em 46 (3,2%) no limite da legislação ambiental.
Os trechos com maior concentração são o Rio São Francisco, em Vargem Alegre, no Sul de Minas, com 48 vezes o tolerado; o Ribeirão da Onça (46), em Santa Luzia, na Grande BH, e o Ribeirão São Pedro (28), afluente do Rio Jequitinhonha, em Medina.
Essa grande carga de esgotos e fósforo propicia a proliferação de cianobactérias, que lançam na água substâncias tóxicas que podem até matar. Pelo menos 25 amostras continham concentrações desse micro-organismo, sendo que os três piores pontos estão na Lagoa da Pampulha e no Ribeirão Pampulha, formado após o reservatório de BH.